As perdas de água nos sistemas de abastecimento do País poderiam encher 7,8 mil piscinas olímpicas por dia ou suprir as necessidades de 66 milhões de pessoas por um ano. Esse volume perdido também representa um prejuízo de R$ 14,2 bilhões anuais ao setor. Os dados constam de levantamento do Instituto Trata Brasil e se referem aos indicadores de 2020. No Ceará, perda no faturamento é estimada em 32,9%.
Segundo o estudo, no Estado, as perdas são estimadas em 293 litros diários por ligação. O abastecimento é suprido em grande parte pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), mas também pelas superintendências municipais de água e esgotos, as SAEs, entre outros sistemas.
Apesar do índice expressivo, as perdas de faturamento no Ceará são inferiores à média nacional, que é de 40,90%. Nesse quesito, o Estado é o oitavo do País em melhor situação, mesma posição que ocupa no ranking de perdas em volume de água. Quanto à distribuição, o sistema de abastecimento registra o 11º pior desempenho, com perdas de 44,90%.
Já em Fortaleza, os prejuízos econômicos são percentualmente maiores e chegam a 49,76% do faturamento total. Além disso, a diferença entre o que é consumido e o que é faturado com o abastecimento de água na Capital é de 11,17%, nono pior desempenho entre os 100 maiores municípios brasileiros. A pior situação é de Belford Roxo (RJ), em que essa diferença chega a 55,90%.
De acordo com um dos autores do estudo, Pedro Levy Sayon, no ano de 2020, que serviu de referência para a pesquisa, o volume de água consumido em Fortaleza foi maior do que o faturado em mais de 20 milhões de metros cúbicos. Essa diferença se deve a uma série de fatores que incluem desde ligações clandestinas, vazamentos em adutoras e reservatórios, até erros de medição.
Por sua vez, o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental na Universidade federal do Ceará (UFC), Assis Filho, explica que Fortaleza conta com duas grandes estações de tratamento de água (ETAs) responsáveis pela maior parte da distribuição na cidade e que as perdas operacionais já começam nessas unidades, durante o processo de lavagem periódica dos equipamentos que fazem a filtragem do líquido e seguem por todo o percurso até chegar à torneira das casas.
Voltando a falar de indicadores nacionais, Pedro Levy Sayon, afirma que “a principal lição do estudo é a atenção que pode (e deve) se dar às perdas de água em um sistema de abastecimento”. Ele conclui afirmando que “o Novo Marco Legal do Saneamento Básico dá muita ênfase aos indicadores de atendimento, que são, de fato, muito importantes. Contudo, frequentemente a dimensão de eficiência desse atendimento, que abarca, dentre outras coisas, os níveis de perdas de água, é negligenciada”.
Meta
Com cerca de 40% da água se perdendo no processo de distribuição, o Brasil fica mais distante de atingir a meta do Novo Marco Legal do Saneamento, que é 25%. No Nordeste, o índice é de 46,28%