De cada 100 reais exportados pelo Ceará em abril, 70 vieram dos setores metal-mecânico e calçadista, além de fabricantes de peças para aerogeradores eólicos.
Esses segmentos ajudaram a puxar a alta de 53,34% nas vendas de produtos cearenses para outros países no referido mês na comparação com março. Já na comparação com abril do ano passado, as exportações cearenses subiram 12,77%.
O relativamente baixo nível de industrialização do Estado é uma das principais razões para essa concentração tão grande nesses três grupos, segundo analistas ouvidos pelo jornal O POVO. Para se ter uma ideia, na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará o peso da indústria é de aproximadamente 17%, enquanto o setor de serviços responde por quase 78% do total e o agronegócio pelos 5% restantes.
A assessora especial de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Laís Bertozo, cita o exemplo da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). “Essa empresa concentra muito as exportações de aço e quando entrou na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) ficou estabelecido que ela deveria exportar 80% de sua produção e destinar os outros 20% para o mercado nacional. Isso mudou recentemente e essa proporção foi reduzida para 60% e 40%, respectivamente, mas segue elevado”, pontua.
No acumulado dos quatro primeiros meses desse ano, por exemplo, apenas o grupo “ferro e aço” respondeu por 47,51% das exportações cearenses, índice puxado quase exclusivamente pelas vendas da CSP. Laís acrescenta que além de um número baixo de empresas concentrarem a maior parte das exportações do Estado, a variedade dos produtos exportados também é relativamente baixo, totalizando 1.004 ante 1.636 que são importados para cá.
O economista Davi Azim, que integra o Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), a realidade do Estado se insere num contexto mais amplo da formação histórica do País. “O Brasil não procurou efetivamente se industrializar. Nós, somos um país praticamente de serviços. É assim com a economia do Ceará também e há desigualdades regionais, nesse sentido. Em linhas gerais, o Brasil precisa investir em educação para que essa industrialização aconteça e, por consequência, que a nossa pauta de exportação se diversifique”, ressalta.
Ele acrescenta que “o País tem uma produtividade baixa porque, além de nós não termos o investimento adequado em tecnologias, não temos mão de obra capacitada. Temos poucos técnicos e baixo investimento em educação profissionalizante. Nós nunca pautamos nossas políticas públicas nessa direção, tal como fizeram países como a Alemanha e a China. Daí, nós permanecemos sempre vendendo commodities e produtos com baixo valor agregado”.
“No Ceará, o drama é maior. Se você for comparar com a realidade de outros estados do Nordeste, Pernambuco é mais industrializado, a Bahia é muito mais industrializada. Então, a nossa balança comercial vive deficitária”, conclui o conselheiro do Corecon-CE.
Nesse sentido, o saldo entre exportações e importações no Estado foi negativo em pouco mais de US$ 196,5 milhões no mês de abril. O déficit foi ainda maior em março, quando chegou a US$ 331,9 milhões.