O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil fechou o 2° trimestre com crescimento de 1,2%, em relação aos três primeiros meses do ano, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A demanda de consumo das famílias foi o principal fator que fez com que todos os setores tivessem resultado positivo.
O resultado ficou acima das previsões do mercado para o período (0,9%). Foi também o 7º maior crescimento econômico, dentro de um ranking com 26 países, conforme levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating.
Segundo o IBGE, esse desempenho é puxado, principalmente, pela retomada do setor de Serviços, a partir da melhora no mercado de trabalho - com crescimento da massa salarial real, além da liberação do saque extraordinário do FGTS e antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS. Ainda houve crescimento nominal de 25,6% do saldo de operações do sistema financeiro para pessoas físicas no período.
O resultado do PIB no fechamento do primeiro semestre já faz as entidades de mercado revisarem seus cálculos. No acumulado de 2022, a alta é de 2,5%. A XP, por exemplo, que previa alta de 2,2%, destaca que há um "claro viés altista" e que atualizará os cálculos.
"Conforme esperado, a maioria dos componentes pela ótica da oferta avançaram na comparação entre o 1º e o 2º trimestres. O setor de serviços permaneceu em trajetória de recuperação bastante sólida no trimestre passado (1,3% no 2° trimestre após 1,1% no 1° trimestre), puxado especialmente pela reabertura econômica e recuperação do mercado de trabalho", afirma Rodolfo Margato, economista da XP.
Analisando os dados, Rodolfo enfatiza que o PIB do setor terciário situa-se cerca de 3,7% acima dos níveis pré-pandemia. Já o PIB da Indústria também melhorou substancialmente no 2° trimestre, acelerando em relação ao 1° trimestre, com alta de 2,2% versus 0,6%, respectivamente. O principal destaque entre os segmentos vai para o aumento mais forte que o esperado da Construção Civil (2,7% no 2° trimestre), Serviços de Utilidade Pública (3,1% no 2° trimestre) e Extrativa Mineral (2,2% no 2° trimestre).
"Por outro lado, o PIB da Agropecuária veio abaixo das expectativas, avançando apenas 0,5% no 2° trimestre após queda de 0,9% na leitura anterior. Pela ótica da demanda, a aceleração do Consumo das Famílias (2,6% no 2° trimestre, após 0,5% no 1° trimestre) e a retomada da Formação Bruta de Capital Fixo (4,8% no 2° trimestre, após -3% no 1° trimestre) tiveram protagonismo", pontua.
Em comentário assinado pelo economista-chefe, Marco Caruso, e pelo economista Eduardo Vilarim, o Banco Original destaca os 2,5% de crescimento acumulado no 1° semestre. Segundo o banco, a expectativa para a metade final do ano também é positiva, de acordo com o que apuraram com clientes da indústria e varejo, de que as empresas já se preparam para as festas de fim de ano e Copa do Mundo de futebol, com expectativa de boas vendas.
Por isso, o Banco Original alterou sua previsão para o PIB em 2022 para a margem de alta entre 2,3% e 2,7%. "Apesar dos efeitos defasados da Selic sobre a atividade, entendemos que há aspectos positivos a serem considerados, como o aumento de massa salarial real e Auxílio Brasil mais elevado, contribuindo para um consumo mais forte do que o esperado anteriormente".
Na avaliação de Eliardo Vieira, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (IBEF-CE) e sócio da Arêa Leão Consultoria Empresarial, apesar do desempenho no primeiro semestre, há ainda no mercado receio por estamos num momento de oscilações da economia em que é difícil prever no médio e longo prazo.
"Estamos saindo de uma pandemia, com uma guerra no meio. Ainda há muita reverberação nos próximos meses ao que pode acontecer. O dólar continua alto, assim como o preço do petróleo, a China (principal parceiro comercial brasileiro) recuando sua economia, principalmente no setor imobiliário. Isso tudo impacta na economia brasileira, que ainda acumula seus problemas", observa.
A alta, em parte, foi motivada pela injeção de recursos em programas sociais. "Não sei se há indicativos de continuação dessa alta porque os juros permanecem altos. O fator mais certo é que a inflação continua em desaceleração importante. O consumo das famílias está estável e a tendência é que o ano se encerre de maneira mais invariável do que foi no 1° semestre", pontua Eliardo.
INVESTIMENTOS
A taxa de investimento no segundo trimestre de 2022 foi de 18,7% do PIB, mantendo estabilidade em relação à observada no mesmo período do ano anterior (18,6%).
Queda
No mesmo ranking internacional de desempenho das economias mundiais no 2° trimestre, a maior queda foi da China, de 2,6%. Outras economias que também regrediram no período foram Canadá (-0,3%) e Estados Unidos (-0,2%). A média mundial foi de alta de 0,6%.
CONFIANÇA
O Índice de Confiança Empresarial (ICE) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE) subiu 2,2 pontos em agosto, atingindo o maior nível desde agosto de 2021. O resultado foi influenciado pela melhora das percepções sobre a situação presente, sinalizando uma saudável normalização das atividades após uma crise, e das expectativas para os próximos meses.
Juros, salários e gastos públicos preocupam
A análise do quadro macroeconômico do Brasil revela que a taxa de juros, salários reais e os gastos públicos são os itens que mais geram pessimismo no desempenho da economia brasileira.
As variáveis constam na 50ª edição da pesquisa Índice de Expectativas dos Especialistas em Economia (IEE), feita pela Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio-CE) em parceria com o Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
Do outro lado, os itens que mais geram otimismo na economia brasileira são a evolução do PIB, melhora no nível de emprego e a oferta de crédito.
Analisando todos os indicadores, a média de percepção dos especialistas sobre o quadro da economia nacional ainda é pessimista, mas apresenta melhora em relação à última pesquisa. O índice de percepção geral passou de 69,1 pontos para 75,3 pontos.
O economista e professor Ricardo Eleutério, membro do Corecon-CE, explica que a pesquisa demonstra as expectativas sobre o que os dados indicam que pode acontecer com a economia nacional.
"Ressalte-se que nesta quinta-feira o IBGE divulgou que o PIB cresce 1,2% no segundo semestre, o que se alinha com a expectativa da pesquisa, assim como ocorreu com a PNAD Contínua, divulgada ontem, que apontou que o desemprego permanece em queda, tendo recuado a 9,1%, também previsto na pesquisa", destaca.
Conforme a metodologia, cada uma das variáveis analisadas gera três índices. A pesquisa pontua de zero a 200 pontos as variáveis analisadas. Acima de 100 pontos representa otimismo e abaixo, pessimismo.
Alta do PIB confirma sustentação da economia
A alta de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no 2° trimestre do ano confirma a sustentação da atividade doméstica, de acordo com nota publicada ontem pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia.
O órgão destaca que o resultado acumulado no 1° semestre já coloca um carregamento estatístico de crescimento de 2,4% em 2022, mesmo que não haja mais variação no PIB na segunda metade do ano.
"Observa-se que o Brasil apresenta ritmo de crescimento da atividade econômica de forma mais rápida do que outros países, inclusive quando comparado a alguns países emergentes", compara o documento. "Cabe destacar que a continuidade da melhora da atividade local ocorre a despeito da deterioração nas projeções do PIB nas principais economias mundiais."
No último Boletim Macrofiscal da SPE, de julho, a equipe econômica elevou a projeção do PIB de 2022 de 1,5% para 2%. O relatório será atualizado novamente em setembro.
"Essa sequência de revisões reflete a visão de que as condições econômicas no Brasil estão resilientes, apesar das dificuldades impostas pelo cenário mundial que inclui a elevação recorde de custos de produção e de preços ao consumidor em todo o mundo", avalia a SPE. (Agência Estado)
Força das famílias
Segundo dados do Monitor do PIB, da Fundação Getulio Vargas (FGV), anteriores à divulgação do resultado do PIB nacional no 2° trimestre, os indicadores davam sinais de que ao menos 80% do crescimento do consumo das famílias no trimestre viria dos serviços. Destes, aproximadamente 40% viriam da demanda ao segmento de alojamento e alimentação.
Resultados do 2° trimestre
Acumulado do ano (comparação ao mesmo período de 2021): 2,5%
Acumulado em 12 meses: 2,6%
Resultado 2° trimestre (comparação ao mesmo período de 2021): 3,2%
2° trimestre x 1° trimestre: 1,2%
Produção
Agropecuária: 0,5%
Indústria: 2,2%
Serviços: 1,3%
Despesa
Consumo das famílias: 2,6%
Consumo do governo: -0,9%
Formação Bruta de Capital Fixo: 4,8%
Exportações: -2,5%
(-) Importações: 7,6%
Fonte: IBGE