Ao se consolidar como um dos principais polos produtores de mel, o Ceará tem o potencial de dobrar a produção da atual capacidade de 1 milhão de kg de mel por ano. A projeção é da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), que atualmente oferta assistência técnica para 1.012 produtores.
O Nordeste vem se notabilizando como principal produtor de mel orgânico, que é o tipo mais bem aceito nos mercados internacionais. E, dentro dessa categoria de produção, que não envolve uso de químicos, o Ceará se destaca.
Apesar desses pontos positivos, a cadeia produtiva do mel no Ceará ainda carece de maior investimentos em técnica de manejo e certificações. Segundo o presidente da Faec, Amílcar Silveira, em muitos casos, a apicultura nem é a principal atividade de parte dos produtores rurais que investem no setor.
Amílcar explica que, apesar de termos compradores de mel no Ceará que já compram praticamente 40% da produção anual, os grandes players que envasam e exportam mel estão localizados no Piauí e em estados do Sudeste e Sul.
“No Ceará, temos o diferencial de podermos produzir um mel orgânico de excelente qualidade. Por isso que o pessoal do Sul vem comprar o mel daqui. Esse é um negócio que precisa ser incentivado, as pessoas precisam conhecer, pois o mel do Ceará tem o mundo a ganhar”, aponta.
Neto Holanda, superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Ceará, aponta que um dos diferenciais da apicultura cearense é ser uma base econômica que envolve e beneficia principalmente a agricultura familiar e está mais pulverizada pelo Estado, inclusive fora dos perímetros irrigados.
Considerando que 90% dos apicultores são agricultores familiares, por isso a necessidade de apoio técnico, formação empreendedora e crédito. "Mel não é produto, mel é alimento de abelha. Mas o mel envasado, rotulado, com inspeção, isso é produto que tem valor comercial."
E continua: "Para que transformemos essa cadeia produtiva tão importante e pulverizada entre os produtores, capitalizada, de forma que essa cadeia possa adquirir tecnologias e atualizar os modelos de produção."
Foi dentro desse contexto que a Faec realizou um encontro com elos da cadeia da apicultura cearense. Um dos presentes foi João Carlos Messas, fundador e presidente da Apidouro, indústria da apicultura do interior de São Paulo.
Ele destaca que o mercado exportador de mel passa por uma instabilidade desde que os Estados Unidos, principal mercado comprador do mel orgânico brasileiro, passou a sobretaxar o mel de cinco países, inclusive o Brasil. Isso pode diminuir a demanda no mercado externo e prejudicar as margens de lucro.
"Normalmente, quando há esses intervalos, o preço cai. As empresas já trabalham com uma margem de lucro extremamente pequena", aponta.
Outra frente nesse mercado é a regulamentação da atividade e produtos. Alceu Moreira (MDB-RS), deputado federal líder da bancada parlamentar do Agronegócio, trabalha para que nos primeiros seis meses da próxima legislatura, em 2023, seja possível editar um decreto legislativo que permita diminuir a burocracia para emissão de licenças de sanidade e segurança alimentar.
"Hoje, o cidadão faz toda a operação da florada, maneja as caixas, tira o mel, centrifuga. Mas na finalização desse processo, ele perde para o exportador porque não pode industrializar o mel, já que não há uma legislação que garanta isso e se tornaria muito caro resolver os empecilhos", diz.
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Produtores de mel do Ceará estiveram reunidos na sede da Faec para participar de rodada de negócios que reuniu produtores, indústria e bancos, como o Banco do Brasil, Caixa e Banco do Nordeste, além da realização de uma série de palestras.
ABELHAS MORTAS POR AGROTÓXICO
Centena de milhares de abelhas morreram nos últimos dias na Chapada do Apodi, compreendendo os municípios de Limoeiro do Norte e Tabuleiro. A possibilidade de extinção dessa economia na região está assustando os produtores locais, que já perderam pelo menos 50 colônias produtivas, segundo cálculos da Associação de Apicultores de Limoeiro.
A informação foi confirmada pelo jornalista Nazareno Albuquerque, colunista do O POVO.
Nessa sexta-feira, 14, o superintendente do Mapa no Ceará, Neto Holanda, reconheceu a existência do problema.
"Existe ainda o desafio milenar de conseguir produzir mantendo o equilíbrio com a natureza. Nada pode ser exacerbado no modelo de produção."
Ele ainda fala que é necessário que os produtores busquem melhor qualificação para que não prejudiquem o equilíbrio ambiental e afetem outras atividades produtivas, como o caso da apicultura.