A reação do mercado financeiro aos R$ 198 bilhões fora do teto propostos para o próximo ano teve mais combustível quando o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) declarou: "Vai cair a bolsa, vai subir o dólar, paciência".
A fala feita na COP27 antes da abertura do pregão causou turbulência que resultou em baixa de 0,49% no Ibovespa e alta de 0,37% no dólar, cotado a R$ 5,4017.
O freio aconteceu depois da carta lançada por Guido Mantega pedindo a saída da equipe de transição do governo eleito.
Em baixa de 0,49%, a B3 operou a 109.702,78 pontos, entre mínima de 107.245,13, menor nível intradia desde 29 de setembro, e máxima de 110 241,80, quase idêntica à abertura, aos 110.240,66 pontos. O nível de fechamento desta quinta-feira também foi o menor desde 29 de setembro, então aos 107.664,35.
Na semana, as perdas do índice chegam agora a 2,27% e, no mês, a 5,46%, limitando a alta do ano a 4,66%.
Ainda reforçado neste dia seguinte ao vencimento de opções sobre o índice, e véspera de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro foi a R$ 47,6 bilhões na sessão, com um número razoável de papéis da carteira Ibovespa reagindo para chegar ao fim do dia no campo positivo - em certo momento, no meio da tarde, apenas as ações do Bradesco conseguiam se descolar da correção.
Considerando o fechamento da quarta-feira, 9, dia anterior à fala inicial do presidente eleito Lula (PT) contra a estabilidade fiscal, então aos 113.580,09 pontos, o Ibovespa acumula perda de quase 3,9 mil pontos - no pior momento da sessão de hoje, esse ajuste chegava a 6,3 mil pontos.
Após o mergulho de 3,35% na quinta passada, sucedido por duas altas e duas baixas até aqui, está agora apenas 72 pontos abaixo do nível de ajuste inicial à fala de Lula - no pior momento da sessão de hoje, a diferença, para baixo, era de 2,5 mil pontos.
"Há um estresse fiscal enorme com a PEC da Transição, que talvez nem seja de transição, mas sim permanente, com gasto bastante elevado acima do teto, em quase R$ 200 bilhões por ano, o que resultaria em aumento de dívida bastante forte", observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
"Ainda que não seja líquido e certo, na medida em que precisa ainda passar pelo Congresso, o número veio acima do esperado. O bode foi colocado na sala", acrescenta o economista, chamando atenção em especial para o efeito sobre a curva de juros, com o mercado já embutindo alta na Selic para o ano que vem, quando antes se esperava corte para 2023.
Já o dólar foi acima dos R$ 5,40, mas longe dos níveis da manhã, quando chegou a superar R$ 5,50 e registrou máxima a R$ 5,5298 ( 2,75%).
Depois de rodar entre R$ 5,44 e R$ 5,45 pela maior parte da tarde, a moeda renovou mínimas na reta final do pregão, quando desceu até 5,4012 ( 0,36%), em meio a uma pressão vendedora no mercado futuro, que levou o contrato da divisa para dezembro a operar pontualmente em baixa. No fechamento, o dólar à vista era cotado a R$ 5,4017, em alta de 0,37%.
Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, o texto da PEC, embora apresente um 'waiver' maior que o apelo mercado, "não tem nada de absurdo" e está "em linha com a sustentabilidade do Estado" brasileiro. "É algo que, embora não seja palatável no curto prazo pelo mercado, é palatável para a economia brasileira e é necessário para a economia brasileira", disse.
Completa os indicadores de reação do mercado os juros futuros, que fecharam ontem, 17, em alta, refletindo o pessimismo sobre o futuro das contas públicas, com o mercado precificando um cenário de descontrole fiscal a partir da PEC da Transição, embora tenham encerrado o dia bem distantes das máximas vistas pela manhã. (Agência Estado)
PIB
Em meio à turbulência, o Ministério da Economia reduziu para 2,1% a projeção do PIB em 2023, ante a expectativa de 2,5% feita em setembro. Foi a primeira atualização da grade de parâmetros do governo neste e nos próximos anos feita após as eleições