A última das três fábricas do Grupo Guararapes em Fortaleza fechou. A companhia confirmou que 2 mil colaboradores perderão seus empregos. Em pouco mais de um ano, o grupo desativou três complexos fabris localizados no bairro Antônio Bezerra desde sua chegada ao Ceará em 1973. No auge, a empresa chegou a empregar quase 10 mil pessoas.
Maior grupo industrial têxtil e de confecções da América Latina, o Grupo Guararapes é controlador da varejista Riachuelo. Ao mercado, no último dia 3 de janeiro, a diretoria informou que estaria desativando completamente sua operação fabril no Ceará, transferindo-a para seu complexo industrial de Natal-RN.
O POVO apurou que o Governo do Ceará chegou a ter negociações com o Grupo para evitar a saída do Estado, mas os trâmites não avançaram. A escolha pela saída se baseou na estratégia definida pela empresa.
Agora, a presença do grupo estará restrita às 13 lojas da Riachuelo. "O modelo de negócio integrado da companhia permanece inalterado, preservando a cadeia produtiva nacional", disse a empresa por meio de comunicados aos investidores no último dia 3.
"A decisão faz parte do planejamento estratégico da Companhia, com foco em otimizar a operação fabril para intensificar a reatividade, eficiência e competitividade, aliado a um crescimento sustentável", completa.
Ontem, a empresa confirmou que a todos foi oferecida a extensão do plano de saúde pelo dobro do aviso prévio e o valor de meio piso salarial. As máquinas de costura industrial foram doadas às costureiras e aos demais foi fornecido um adicional de mais um salário.
Conforme O POVO apurou, a maioria das demissões será de mulheres. Funcionárias informaram que já estavam sabendo dos planos do Grupo e que já enfrentavam o cenário de rescisão de contratos desde o encerramento de atividades das outras unidades da empresa.
O titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Fortaleza (SDE), Rodrigo Nogueira, afirma que o Município já se mobiliza para atender aos funcionários desligados. Uma ação em conjunto com o Governo do Estado e a Federação das Indústrias do Estado do Ceará - com quem o secretário deve se reunir nesta semana - deve ser desenvolvida.
"Vamos trabalhar em qualificações profissionais para outras áreas de atuação e também em volta do programa Costurando o Futuro, de formação de cooperativas de costuras. Vamos auxiliá-las a se estruturarem de forma eficiente e ajudá-las a empreender através dessa capacitação empreendedora", destaca.
O impacto no mercado de trabalho, em termos de estatísticas, deve ser visto em fevereiro, com a divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro. O impacto desse saldo negativo gerado pelo fechamento da fábrica é relevante. Em novembro, o saldo de geração de empregos na Capital foi de 5,7 mil, em novembro. Então, o saldo positivo seria impactado em quase metade do resultado.
Atualmente, os números mais recentes são os de novembro de 2022, com Fortaleza liderando em empregos no Nordeste, mas por causa dos setores de comércio e serviços. A indústria já vinha amargando saldo negativo de 112 postos de trabalho, quando da subtração do número de admitidos e demitidos do setor.
Vladyson Viana, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Ceará (IDT-CE) e anunciado secretário do Trabalho do Ceará, afirma que o IDT estará disponível aos trabalhadores para ativação do seguro-desemprego e na recolocação no mercado de trabalho, ainda com opções disponíveis para quem quiser microcrédito orientado para empreender.
Sobre o impacto no mercado de trabalho cearense, Vladyson destaca que é necessária uma atenção especial. "É um impacto significativo para o Estado, que tem apresentado um saldo positivo nos últimos ciclos. Demissões fazem parte do mercado, as empresas se reestruturam e, do ponto de vista do Governo, é nosso papel dar o suporte ao trabalhador. O desligamento de 2 mil trabalhadores é um quantitativo relevante".
Sobre a retomada da empregabilidade, pontua que os perfis mais jovens normalmente têm recolocação mais rápida, assim como os profissionais com alta experiência e qualificação. Mas, no mercado, existe um histórico de substituição de investimentos, a partir da chegada de uma nova indústria para ocupar o mesmo galpão desocupado.
Grupo Guararapes
O Grupo Guararapes foi fundado em 3 de outubro de 1947 por Nevaldo Rocha e Newton Rocha. O primeiro negócio do grupo foi a loja de tecidos "A Capital", localizada em Natal, no Rio Grande do Norte.
Quatro anos depois foi inaugurada a primeira confecção do grupo, em Recife, Pernambuco, e novos pontos de venda foram adquiridos.
Em 1956, os irmãos e sócios Nevaldo e Newton nomearam, oficialmente, a Guararapes e realocaram a matriz da empresa para Natal, onde é mantida até hoje.
No ano de 1979, o Grupo Guararapes adquiriu a cadeia de lojas Riachuelo e Wolens, expandindo sua atuação para o varejo têxtil. No mesmo ano, chegou ao Ceará, com operação em complexo fabril que somava 9,8 mil metros quadrados (m²) de área construída.
Atualmente, segundo o site do Grupo Guararapes, eles possuem mais de 380 lojas e 40 mil funcionários - cerca de metade deles na região Nordeste do País.