O consumo de energia elétrica no Ceará registrou queda de 1,7% em 2022, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgados ontem.
A queda foi a quarta maior do Nordeste, atrás das registradas na Paraíba (-2,2%), Piauí (-4,2%) e Rio Grande do Norte (-4,7%). Na Região, a propósito apenas Maranhão e Bahia registraram altas no consumo de eletricidade, 13,5% e 0,9%, respectivamente.
Na avaliação da CCEE, dois fenômenos que atingiram quase todos os estados nordestinos no ano passado, o maior volume de chuvas e o registro de temperaturas mais amenas, colaboraram para diminuir o consumo, com o desestímulo do uso de equipamentos tais como ventiladores e aparelhos de ar-condicionado.
No Ceará, por exemplo, o pequeno consumidor do chamado mercado regulado (residências e pequenas empresas) responde por 80% da demanda energética e a redução de cerca de 3% no consumo desse perfil de usuário do Sistema Interligado Nacional (SIN) acabou puxando para baixo a média estadual, a despeito do aumento no consumo de 11 de 13 atividades econômicas monitoradas pela entidade.
“As exceções foram a indústria têxtil e o setor de veículos. Porém, como o segmento livre representa 20% do total do estado, a principal influência para o resultado final foi a queda no ambiente regulado”, explicou a CCEE em nota. O segmento têxtil teve queda de aproximadamente 1%, enquanto o de veículos ficou em torno da estabilidade.
“Vale lembrar que, na primeira metade de 2021, ainda vivíamos os efeitos da pandemia de Covid-19. Com o isolamento social, as pessoas passaram mais tempo em casa, o que explica o uso mais intenso de energia pelo segmento naquele ano”, complementou a instituição, ressaltando que esse ponto em particular também afetou outros estados.
A análise foi corroborada pelo diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Ceará (Sindienergia), Daniel Queiroz. “Nós podemos creditar em boa parte a redução do consumo de energia elétrica, especialmente o residencial, à questão dos protocolos que adotamos na pandemia”, afirmou.
“Com a saída do quadro de pandemia muito dos trabalhos realizados em home office foram retomados de forma presencial. Com isso, o consumo residencial que estava em alta começou a voltar para o padrão de consumo de antes da pandemia, ou seja, com um pico maior de utilização no período da noite”, pontuou Queiroz.
Sobre o crescimento do consumo de energia elétrica na indústria e no comércio, o economista e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Lauro Chaves Neto, destacou que é preciso cautela para interpretar o resultado do ano passado como uma tendência.
“O ano de 2021, que é a base de comparação para esses dados de 2022, foi muito atípico para o comportamento da economia como um todo. Então, anos muito atípicos trazem dentro de si um viés de erro estatístico e de avaliação muito grande”, ponderou.
“O que é mais importante reforçar é que a trajetória de reestruturação das cadeias de logística e de produção, bem como o ganho de competitividade e produtividade da indústria cearense tem sido a transformação digital acelerada”, destacou o economista.
“Isso traz uma grande perspectiva de consolidação e de reindustrialização na economia cearense para os próximos anos”, projetou Lauro Chaves Neto.
Padrão de consumo
Energia elétrica
No Nordeste
Variação
Maranhão: 13,5%
Bahia: 0,9%
Sergipa: -0,5%
Alagoas: -0,9%
Pernambuco: -1,6%
Ceará: -1,7%
Paraíba: -2,2%
Piauí: - -4,2%
Rio Grande do Norte: -4,7%
Média Nacional: 1,5%
Variação por setor no Ceará
Setor químico: 22%
Comércio: 15%
Serviços: 14%
Telecomunicações: 13%
Saneamento: 10%
Bebidas: 9%
Manufaturados diversos: 8%
Metalurgia e produtos de metal: 5%
Madeira, papel e celuloses: 4%
Minerais não-metálicos: 4%
Setor alimentício: 2%
Veículos: 0%
Setor têxtil: -1%
Ambiente de contratação regulada (pequenos consumidores): -3%
Fonte: CCEE