Logo O POVO+
Dá para 'desenrolar' dívidas que atingem 1/3 da população?
Economia

Dá para 'desenrolar' dívidas que atingem 1/3 da população?

|PERSPECTIVAS| Pouco mais de 33% dos cearenses estão inadimplentes. Programa de combate ao endividamento anunciado por Lula é visto com misto de esperança e ceticismo
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Quem está inadimplente no Estado deve em média R$ 3.757 (Foto: yellow_man/adobestock)
Foto: yellow_man/adobestock Quem está inadimplente no Estado deve em média R$ 3.757

Quem não está com o nome negativado junto às instituições de proteção ao crédito, certamente, conhece alguém que esteja. Isso porque nada menos que 33,4% dos cearenses está inadimplente, conforme a Serasa. O índice é superior à (já alta) média nacional, que fica em torno de 29,8%.

São nada menos que 2,9 milhões de cearenses com contas em atraso que juntos somam cerca de 9,7 milhões de dívidas. O ticket médio de cada um desses débitos é de R$ 1.152, ou 88,4% do valor do salário mínimo. Contudo, quem está inadimplente deve em média R$ 3.757. Isso significa dizer que o perfil do endividado cearense é de ter, pelo menos, três contas em aberto.

No Brasil, o número de inadimplentes é estimado em 62 milhões de pessoas. O alto número de endividados não passou em branco na campanha eleitoral à Presidência da República em 2022 e já havia sido uma das bandeiras do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), ainda em 2018. No segundo turno do pleito do ano passado, por sua vez, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu criar um programa voltado para quem deve e não consegue quitar seus respectivos débitos, o Desenrola.

Na última semana, a equipe econômica do agora presidente Lula anunciou os primeiros detalhes do programa de renegociação de dívidas, visto com um misto de esperança e ceticismo por devedores, economistas e especialistas em recuperação de crédito. Conforme os primeiros detalhes divulgados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o programa deve beneficiar 37 milhões de pessoas com débitos de até R$ 5 mil vencidos há mais de 180 dias. Os descontos devem variar de acordo com a faixa de renda dos endividados.

Inicialmente, a ideia de Haddad era focar o programa em quem tem renda mensal de até dois salários-mínimos, mas o próprio ministro anunciou nesta semana que o Desenrola será estendido a outros públicos. Para quem ganha menos, no entanto, o governo estipula descontos maiores. O montante previsto para a iniciativa, nesse primeiro momento, seria de R$ 50 bilhões, dos quais cerca de R$ 10 bilhões teriam como origem um fundo garantidor formado por recursos do Tesouro Nacional.

A intenção do fundo é, justamente, cobrir eventuais calotes dos participantes dos processos de renegociação que tenham renda inferior a R$ 2.604. O Desenrola será instituído por meio de medida provisória, o que significa dizer que após ser decretado estará em vigor por um período de 120 dias e se não for apreciado pelo Congresso nesse período perderá a validade.

A primeira etapa do programa deve funcionar como um leilão em que as empresas interessadas em participar devem informar o percentual de desconto dispostas a conceder aos seus devedores. "Quanto maior o desconto oferecido, maior a chance de o credor receber o débito", disse Fernando Haddad, ao apresentar os primeiros detalhes da iniciativa.

Ontem, Haddad, voltou a afirmar que já foi liberada a contratação do sistema operacional do Desenrola. Ele destacou a complexidade do sistema e evitou estimar prazos para inauguração do programa. "É um sistema complexo, porque é uma dívida privada", disse. "Nunca foi feito nada semelhante. Então vamos precisar desenvolver", complementou.

Para a gerente da Serasa, Amanda Castro, o cenário é extremamente desafiador. "A gente vem acompanhando esse crescimento da inadimplência no País, mês após mês, e é um pouco assustador", ressalta.

"Quando a gente olha para o Ceará, são quase três milhões de inadimplências e um montante de R$ 11,2 bilhões de reais em dívidas concentradas apenas em um estado", explica Amanda.

Para o pesquisador em finanças comportamentais, Érico Veras, "aquilo que a gente tem como cenário positivo é o entendimento de que isso é um problema que precisa ser resolvido".

"O grande problema é que eu posso negociar hoje e se eu não entender qual foi o a origem da dívida, daqui a pouco vou estar no com a mesma dívida de novo", ponderou Veras.

Mais notícias de Economia

Desenrola

O programa vai renegociar dívidas de até R$ 5 mil, incluindo de beneficiários do Bolsa Família

As dívidas terão desconto e poderão ser refinanciadas em até 60 meses

Hoje, a maior parte das dívidas negativadas do país (66,3%) é com varejistas e companhias de água, gás e telefonia. A ideia é que essas empresas participem das negociações

Os credores só poderão acessar o programa se concederem descontos na dívida

O programa vai concentrar, em uma plataforma, devedores, credores e bancos. Essa plataforma será gerida por entidades especializadas em crédito, como a Serasa e o SPC

Com o uso do CPF, o consumidor vai consultar, em um site, suas dívidas e demonstrar interesse em negociar. Com isso, as credoras poderão fazer oferta de descontos

As dívidas serão pagas a partir da oferta de financiamento feita pelos bancos, que também vão concorrer entre si sobre quem terá melhores condições

O governo, por meio de fundo garantidor, vai garantir eventual inadimplência que venha a acontecer nesses refinanciamentos. É isso que permitirá que o juro seja mais baixo

Não há data prevista para o programa entrar em vigor 

Litígio Zero

Pessoas físicas, Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, que tenham processos em julgamento administrativo com valor até 60 salários-mínimos

Pessoas físicas e jurídicas de qualquer porte, que tenham processos em julgamento administrativo com valores considerados irrecuperáveis ou de difícil recuperação

Para pessoas físicas e donos de pequenos negócios será concedido um desconto de 40% a 50% sobre o valor total do débito, incluindo tributos, juros e multa

Por se tratar de um programa extraordinário, o prazo de adesão será até 31 de março de 2023. O prazo para pagamento é de até 12 meses

Como aderir ao Litígio Zero?

No site da Receita, selecione a opção "Transação Tributária", no campo Área de Concentração de Serviço

Em seguida, clique no serviço "Transação por Adesão no Programa de Redução de Litigiosidade Fiscal - PRLF"

Preencha o requerimento de adesão disponibilizado no Portal e-CAC

Anexe a prova do recolhimento da prestação inicial

Apresente a certificação expedida por um profissional contábil acerca da existência e regularidade escritural de créditos decorrentes de prejuízo fiscal e base de cálculo negativa da CSLL apurados e declarados à Receita

Confira dicas para se desendividar

1 - Anote todas as dívidas que possuir, separando as que correspondem a serviços e produtos de necessidade básica e as que sofrem juros mais altos, considerando essas como prioridade para pagar

2 - Anote durante 30 dias todos os gastos que tiver, separando por tipo de despesa. Isso inclui gastos "pequenos", como gorjetas e guloseimas

3 - Tenha em mente que só se deve negociar uma dívida quando se tem condições de fazer isso, ou seja, após se planejar, pois um passo precipitado pode até piorar a situação

4 - Trocar uma dívida pela outra nem sempre é a melhor alternativa. É claro que o crédito consignado, por exemplo, oferece juros mais baixos, já que o pagamento é retido diretamente do salário.

5 - Para não agravar a situação, antes de realizar qualquer compra, se faça algumas perguntas como "Eu realmente preciso desse produto?" a fim de evitar fazer dívidas por impulsividade

6 - Trace objetivos de curto prazo (a serem realizados em até um ano), médio prazo (entre um a dez anos) e longo prazo (acima de dez anos), e inclua entre eles o de sair das dívidas

7 - Com um diagnóstico financeiro em mãos, é possível conhecer a sua força de poupança. Mês após mês, é preciso aplicar esse dinheiro em um investimento que seja coerente ao seu perfil e objetivos

Fonte: Abefin

ENDIVIDAMENTO

NO CEARÁ

Número de inadimplentes: 2.984.564

Número total de dívidas: 9.726.149

Percentual de inadimplentes: 33,40%

Valor total: R$ 11,2 bilhões

Ticket médio de dívidas por inadimplente: R$ 3.757

Ticket médio por dívida: R$ 1.152

Perfil dos endividados

Por gênero

Feminino: 53,40%

Masculino: 46,60%

Por idade

Entre 26 e 40 anos: 36%

Entre 41 e 60 anos: 33,20% 

Acima de 60 anos: 18% 

Até 25 anos: 12,80%

NO BRASIL

Evolução (fev/22-fev/23)

Famílias endividadas

fev./22: 76,60%

mar./22: 77,50%

abr./22: 77,70%

mai./22: 77,40%

jun./22: 77,30%

jul./22: 78,00%

ago./22: 79,00%

set./22: 79,30%

out./22: 79,20%

nov./22: 78,90%

dez./22: 78,00%

jan./23: 78,00%

fev./23: 78,30%

Famílias com dívidas em atraso

fev./22: 27,00%

mar./22: 27,80%

abr./22: 28,60%

mai./22: 28,70%

jun./22: 28,50%

jul./22: 29,00%

ago./22: 29,60%

set./22: 30,00%

out./22: 30,30%

nov./22: 30,30%

dez./22: 30,00%

jan./23: 29,90%

fev./23:29,80%

Famílias sem condições de pagar dívidas

fev./22: 10,50%

mar./22: 10,80%

abr./22: 10,90%

mai./22: 10,80%

jun./22: 10,60%

jul./22: 10,70%

ago./22: 10,80%

set./22: 10,70%

out./22:  10,60%

nov./22: 10,90%

dez./22: 11,30%

jan./23: 11,60%

fev./23: 11,60%

Ranking do tipo de dívida

1º Cartão de crédito: 85,70%

2º Carnês:18,30%
3º Financiamento de carro: 8,60%
4º Crédito pessoal: 8,40%
5º Financiamento de casa: 7,30%

OUTROS DADOS

Tempo médio de pagamento de contas em atraso:62,7 dias
Tempo médio de comprometimento com dívidas: 6,9 meses
Parcela média de renda comprometida com dívida: 30,00%

Fonte: Serasa/PEIC/CNC

O que você achou desse conteúdo?