A mudança no projeto da usina de dessalinização de Fortaleza não deve resultar em nenhuma nova desapropriação de área, segundo assegurou o Consórcio Águas de Fortaleza, responsável pelo empreendimento cujo investimento soma R$ 3 bilhões ao longo de 30 anos.
Remoções de habitantes com necessidade de desapropriação das casas é uma das principais preocupações dos habitantes dos arredores do equipamento.
Os representantes das empresas e da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), contratante da planta pelo Estado, estiveram reunidos com moradores do Vicente Pinzón, Praia do Futuro e adjacências na audiência pública para debater o novo projeto que mudou o local de captação da água e devolução do sal.
A audiência pública, que contou ainda com políticos locais, faz parte dos procedimentos para obter a Licença Prévia (LP) da Superintendência Estadual do Meio Ambiente, que aprova a localização na qual a usina deverá ser construída. Para isso, estudos ainda vão ser submetidos ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema).
Outro ponto que deixou moradores das redondezas aflitos foi a possibilidade de barulho e mau cheiro no local. No entanto, a possibilidade também foi descartada e que o maquinário não vai gerar nenhum tipo de barulho para fora das dependências do local e que não vai haver cheiro por se tratar apenas de água.
No entanto, durante a construção, as obras devem gerar algum transtorno. Para isso, o Consórcio prometeu que vai ter uma ouvidoria para receber reclamações dos moradores e tentar solucioná-los da melhor forma.
O professor Fábio Perdigão, Coordenador e Líder do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira (LAGIZC), foi o responsável por apresentar os estudos sobre os impactos ambientais e sociais do projeto.
No estudo, foram realizados diversos mergulhos circulares na área de atuação da planta de dessalinização. De acordo com o professor, todos os mergulhos foram filmados e totalizam mais de 50 horas de gravações.
Ele afirmou que, na Praia do Futuro, existe uma "pobreza biológica extrema", com pouca quantidade e diversidade de bentos e néctons e quantidades normais de plânctons para águas costeiras pobres em nutrientes. Também não foram avistados cetáceos na área e não houveram registros de ninhos de tartarugas na área afetada.
Assim, foi descartado impacto nas áreas de proteção, na pesca, no surfe e no turismo.
Questionado sobre um estudo mais detalhado na área de bentos e néctons, o professor disse, que que a pesquisa não foi realizado pela baixa quantidade de espécies no local, mas que, para validar, vai incluir o recorte.
A Dessal é realizada por uma Parceria Público-Privada (PPP) entre a Cagece e a empresa Águas de Fortaleza. A ordem de serviço para a construção da usina foi assinada em julho de 2021 e tem como objetivo diversificar a matriz hídrica do Estado. O sistema de dessalinização da água do mar será a maior da América Latina e a primeira no Brasil com capacidade para produzir 1 m³/s de água para o consumo humano.
A estimativa é de que 720 mil pessoas sejam diretamente beneficiadas e a oferta de água na Região Metropolitana de Fortaleza aumente em 12%. Além disso, a usina vai gerar pelo menos 600 empregos diretos, com prioridade para moradores da região.
A tecnologia empregada na usina envolve um tipo especial de filtração chamada de osmose reversa, onde uma membrana fina e semipermeável separa a água do sal. Esse recurso vai transformar água do mar em própria para o consumo.
Filipe Rolim, representante da HL Soluções Ambientais, explicou como vai ser o processo realizado na planta de dessalinização.
"A água vai entrar e passar pelos filtros de pré-tratamento, onde a água é filtrada, em seguida, ela vai ser conduzida ao edifício de osmose reversa, depois por uma etapa de remineralização, processo que torna a água própria para o consumo, e segue para o tanque de água tratada, onde vai ser distribuída", explicou.
O restante da água que não vai ser aproveitada vai ficar em uma salmoura e e passar pelos processos adequados para que ela seja retornada ao mar.
A Dessal do Ceará vai conter um canal de captação situado a 1,3 quilômetros dentro do mar, com todo o canal submerso a 14 metros de profundidade. A água será direcionada até uma câmara de captação e destinada, em seguida, até a planta de dessalinização.
Após o tratamento, a água vai ser direcionada por adutoras a dois reservatórios, um no Mucuripe e o reservatório Praça da Imprensa, abastecendo assim nove bairros: Varjota, Papicu, Cidade 2000, Praia do Futuro, Caça e Pesca, Serviluz, Vicente Pinzon, Dunas e Aldeota.