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Ceará planeja primeira térmica a carvão convertida em gás natural do Brasil
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Ceará planeja primeira térmica a carvão convertida em gás natural do Brasil

| Descarbonização |Termelétrica da Mercurio Partners no Pecém deverá fazer transição para gás natural e, posteriormente, objetivo é migrar para hidrogênio verde
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Térmica tem planta piloto de H2V instalada no mesmo site (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Térmica tem planta piloto de H2V instalada no mesmo site

O Complexo Industrial e Portuário do Pecém deverá ter a primeira termelétrica de carvão mineral a ser convertida para o gás natural e, posteriormente, para hidrogênio verde (H2V). Gestora da usina, a Mercurio Partners participou de reunião com o Governo do Ceará nesta semana para discutir projetos, e a descarbonização foi o principal tema.

O governador Elmano de Freitas (PT) afirmou que, no encontro, foi tratado sobre a conversão do carvão em gás natural. “A proposta é impulsionar o desenvolvimento industrial e o mercado de Hidrogênio Verde no Ceará”, disse na plataforma X.

Com capacidade instalada de 720 megawatts (MW) e contrato previsto até 2027, a usina a carvão foi comprada da EDP pela Mercurio Partners em 2023, em valores não anunciados. O local fornece suporte ao sistema elétrico do Nordeste por meio de contratos de disponibilidade.

De acordo com o secretário executivo de energia e telecomunicações da Secretaria de Infraestrutura do Ceará (Seinfra-CE), Adão Linhares, já havia a necessidade de transição da matriz energética, e a Mercurio se mostrou comprometida com este processo.

“O plano de negócios inicial está sendo respeitado, e o investidor está comprometido com a transição, ciente das condições ambientais em evolução. Isso é encorajador, pois reflete a intenção de adotar ações direcionadas para atingir condições mais sustentáveis”, afirmou.

A ideia é que a Mercurio apresente um plano de transição até 2027, data de vigência do contrato atual, mas as perspectivas da companhia indicam que isso pode acontecer antes do prazo estipulado, segundo Linhares.

Questionado sobre o valor a ser investido na transição, o secretário informou que ainda não há números específicos, mas não deverá haver nenhum investimento financeiro do Estado. Ele reforçou que "a iniciativa é privada, e o suporte financeiro não está em discussão”.

“O Estado pode contribuir em termos de pesquisas de desenvolvimento, inovação tecnológica e ações ambientais, sem participação financeira direta”, complementou.

Hidrogênio Verde

O POVO apurou, com uma fonte a par do assunto, que a Mercurio Partners também tem interesse em avaliar a expansão de hidrogênio verde no Complexo do Pecém. Os planos ainda estão em estudo e sem nada concreto, visto que a transição energética passa, primeiro, pelo gás natural e, depois, pelo H2V.

Procurada, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) informou ao O POVO que ainda não há licenciamento sobre o assunto em discussão.

Já a Companhia de Gás do Ceará (Cegás) disse que não possui demanda sobre a expansão da produção de H2V no Pecém, tanto das empresas instaladas quanto das que pretendem se instalar.

“A Cegás possui acordo com a EDP, assim como estamos em processo de fechar novos acordos como esse com outras empresas (futuras produtoras de H2V no Pecém), mas sempre no sentido de estudar e promover a aplicação de soluções relacionadas à distribuição de H2V, seja de maneira isolada ou em mistura com o GN (gás natural)”, explicou a nota.

O POVO entrou em contato com a Mercurio Partners para esclarecimentos, mas a companhia informou que não comentará sobre o tema.

Imbróglio no fornecimento de gás

As mudanças globais nas condições de mercado, causadas pela pandemia e a guerra na Ucrânia, desestabilizaram o mercado de gás natural, o que levou a Shell a cancelar o seu fornecimento no Ceará. O navio regaseificador da Petrobras também deixou o Pecém. Isso fez com que termelétricas cancelassem investimentos no local.

Este imbróglio gerou dúvidas quanto ao fornecimento de gás para as outras termelétricas, já que, hoje, a Cegás, distribuidora de gás natural no Estado, só depende do volume recebido via tubulações terrestres da Transportadora Associada de Gás (TAG), que não chega a 1 milhão de metros cúbicos (m³), conforme apuração do O POVO.

A empresa destacou, todavia, que o abastecimento está garantido. Algo que também não preocupa o secretário Adão Linhares. “É uma questão de mercado e de atrair empresas para a região. Afinal, já temos tudo pronto (no Pecém), desde infraestrutura até logística. Devemos aprender com essa situação, buscando soluções”, citou.

“Quanto ao futuro, a expectativa é que, através de leilões, possamos atrair empresas interessadas em investir em termelétricas, aproveitando as condições favoráveis que o Ceará oferece”, acrescentou Adão.

Segundo a secretária das Relações Internacionais, Roseane Medeiros, que também esteve presente na reunião com a Mercurio Partners, a questão do gás não é fácil de resolver. “Mas o Estado tem todo o interesse de buscar fornecedores”.

*Com informações de Samuel Pimentel e Lennon Costa

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Usina Energia Pecém

A Usina Energia Pecém tem capacidade instalada de 720 megawatts (MW), com foco em atender o crescimento da demanda por energia elétrica do Ceará, do Nordeste e do Sistema Interligado Nacional (SIN). As informações estão disponíveis no site da EDP, ex-gestora do empreendimento.

Em 2012, a EDP e a MPX compraram um consórcio formado pela italiana Tecnimont e pela portuguesa Efacec, o qual estava construindo duas usinas termelétricas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Posteriormente, a MPX saiu do negócio.

Já em 2023 a EDP acertou a venda de 80% da sua participação no negócio para a Mercurio Partners, seguindo estratégia de liderar a transição energética, visando ser neutra em carvão até 2025 e 100% verde até 2030.

A termelétrica tem como insumo-base o carvão mineral, por meio de contrato assegurado até 2027, mas a continuidade da operação já era dada como inviável diante dos compromissos ambientais assumidos pelo governo brasileiro. Por isso, a necessidade de uma transição energética no local.

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