A Vulcabras prepara uma nova ampliação para a fábrica da empresa em Horizonte, a 43,5 quilômetros de Fortaleza, na qual produz toda a linha de tênis da marca própria Olympikus e das parcerias japonesa (Mizuno) e americana (Under Armour). A expectativa é inaugurar a expansão em abril de 2024 e ampliar a produção "em um pouco mais de 10%", segundo revelou Pedro Bartelle, CEO da empresa, em entrevista exclusiva ao O POVO.
 O investimento calculado por ele para a expansão de 8.400 metros quadrados - na unidade que já possui 91.000 m² - vem sendo aplicado ao longo dos últimos seis anos e chega a R$ 600 milhões, tanto no centro de desenvolvimento, no Rio Grande do Sul, quanto na produção, localizada no Ceará. O número revelado pela empresa é de cerca de 100 mil pares de calçados feitos diariamente.
"Nós temos ainda um investimento extra o Capex que nós normalmente fazemos em torno de R$ 50 milhões feitos aí, que começou ano passado e termina esse ano. Tudo que há de mais moderno no mundo, nós temos. Inclusive, aí na fábrica do Ceará", acrescentou o executivo.
Perguntado se a ampliação geraria mais vagas, além dos 11 mil contratados hoje na unidade, ele afirmou que sim, pois a "maneira de crescer é de poucas máquinas e contratação de algumas pessoas." No entanto, um número não foi estimado ainda pela empresa.
"Vai depender um pouco do mercado. O mercado brasileiro começou um pouco pior do que o ano passado. A Vulcabras tem feito ações que a deixam fora da curva, mas para ter um ritmo mais acelerado de contratações depende do mercado melhorar. Nós conseguimos aproveitar os movimentos com bastante agilidade, mas eles precisam existir", observou.
A compra a curto prazo pelos clientes e os resultados obtidos nos últimos anos, diz o executivo, deram fôlego à empresa e certeza para a estratégia que deve ser mantida, com um menor ritmo de contratações.
Estratégia que levou a Vulcabras ao melhor resultado financeiro da história no 4º trimestre de 2023, ao atingir R$ 919,1 milhões de faturamento. No ano, foram R$ 3,2 bilhões e uma margem bruta de 41,7%. A empresa classifica 2023 como o melhor ano da história.
"O ano maior e os melhores resultados da sua história. A Vulcabras teve o melhor resultado de rentabilidade do setor de calçados do Brasil comparado com qualquer outra empresa", ressaltou Bartelle.
Ele recorda da escolha de licenciar a linha feminina da empresa, há cerca de três anos, e focar nos tênis e considera uma decisão acertada. A divisão de calçados da Vulcabras cresceu 7,8%, com R$ 670,7 milhões de receita líquida, com destaque para a linha Corre - responsável por 15% do faturamento da companhia e campeã em diversas corridas de rua no Brasil.
Insatisfeito com a entrada dos produtos chineses sem tributação no mercado brasileiro em 2022, o CEO da Vulcabras disse ter, em 2023, plataformas de venda on-line como alvo de atenção pela mesma falta de tributação que coloca os produtos feitos lá em ampla vantagem aos produzidos aqui.
"O grande concorrente da indústria calçadista brasileira são os chineses e, agora, a plataforma de venda sem pagar imposto. Os custos de produção asiáticos são quase um quarto dos nossos e nós não temos como igualar esses custos porque são, majoritariamente, de mão de obra. Além disso, há muito subsídio dos governos que não temos. Ao contrário, temos impostos", afirmou, relembrando o caso da reoneração da mão de obra pretendida pelo governo federal no ano passado e só equacionada neste ano.
Bartelle disse estar debruçado sobre as possibilidades que a reforma tributária traz para o setor e, "de certa maneira, tentar adaptar a certas situações que venham a acontecer".
"Nossa preocupação, ou melhor, nossa vontade, é que a indústria calçadistas brasileira não compete com a asiática e por isso não exporta. Éramos a 3ª maior indústria e, agora, somos a 5ª. Os únicos relevantes que sobraram fora da Ásia", disse, acrescentando que é o que debate como conselheiro da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Perguntado sobre a relação com o Ceará, o executivo se mostrou satisfeito com a política econômica local e justificou os investimentos feitos ano a ano na unidade cearense como um resultado dos estímulos dados.
"As empresas - não só a calçadistas, mas as outras que empregam muito - são entendidas pelos governos como grandes desenvolvedores do Estado e, atualmente, nós estamos satisfeitos com que a gente tem", disse, acrescentando que deve reunir autoridades locais na inauguração da expansão no próximo mês.
Empresa produz supertênis da Olympikus em unidade do CE
Antes mesmo da ampliação da fábrica de Horizonte, a Vulcabras lançou o primeiro modelo da marca Olympikus na categoria de supertênis, também produzido no Ceará. Batizado de Corre Supra, o calçado foi lançado no início de março e dota a marca brasileira de competitividade para concorrer com as marcas estrangeiras.
Sem o investimento para desenvolver o novo modelo revelado, a Vulcabras despeja sobre o lançamento expectativas semelhantes ao do Corre 3 - lançado no ano passado e sucesso de vendas e de pódios.
A linha Corre possui 4 modelos e foi criada há cerca de 5 anos. Hoje, representa 15% do faturamento da marca. Em 2023, a Olympikus chegou a lançar o Corre Grafeno, no qual aplicou uma placa de grafeno entre as borrachas do calçado. Foi o primeiro ensaio para chegar no estágio atual, conta Bartelle.
"Foi o primeiro com placa de propulsão a base de grafeno e já foi um sucesso. A gente conquistou pódios nas principais maratonas do Brasil, ganhamos a maratona de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro no feminino... Tivemos vários resultados muito bons com esse tênis. E aí a gente se desafiou mais uma vez", disse.
Ao todo, foram 12 meses de pesquisa e desenvolvimento, 10 meses de testes de matérias-primas e produtos com fornecedores globais e nacionais e mais de 50 protótipos criados até chegar ao resultado final do Corre Supra.
A tecnologia embarcada no tênis conta com uma placa de fibra de carbono contínuo, revestida com grafeno líquido, o que, segundo a empresa, "acrescenta um rendimento à placa com uma propulsão 3 vezes maior e 5 vezes mais resistente em comparação às fibras curtas."
Já os demais componentes têm selos de marcas parceiras. O solado é desenvolvido pela Michelin, enquanto a palmilha tem uma espuma desenvolvida exclusivamente para o modelo pela Arkema.
"A primeira impressão dos nossos atletas é de que o calçado é muito rápido. É caro, de R$ 1,2 mil e vai competir com o das outras marcas, inclusive nosso. A Mizuno tem um tênis de placa de propulsão que custa R$ 2 mil. É acessível apesar de ser muito caro. Afinal, é o topo do topo da nossa pirâmide de modelos e custa R$ 1,2 mil", arrematou Bartelle.