Os conselheiros da Petrobras aprovaram o encerramento antecipado do contrato de Jean Paul Prates à frente da Presidência, e nomearam a diretora executiva de assuntos corporativos da estatal, Clarice Copetti, para assumir o cargo interinamente até a posse da nova presidente Magda Chambriard, que atuou como diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) durante o governo de Dilma Rousseff.
Com vasta atuação na área de óleo e gás, Magda levanta a expectativa de que a atuação da petroleira sobre esse mercado ganhe novo fôlego. Algo que pode beneficiar as operações no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, segundo avaliação do fundador da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica) e conselheiro da Servtec Energia, Lauro Fiúza Júnior.
“Ela (Magda) vai, a meu ver, investir muito no setor de óleo e gás. Levar gás para todo o Brasil, incentivar a rede de dutos para viabilizar gás no Brasil inteiro”, indicou Fiúza. Questionado se isso poderia trazer benefícios ao Pecém, o especialista acredita que sim. “Agora tudo depende da orientação dela. Ela é uma mulher de gás e petróleo. Pode ser que tenha essa vantagem para o Ceará. O Pecém precisa muito de gás, vamos apostar nisso.”
O diretor do Sindicato dos Petroleiros do Ceará (Sindipetro Ceará), Wagner Fernandes, acredita que Pecém será beneficiado com a Margem Equatorial, assim como o Ceará, pela posição estratégica que possui. “A Magda é uma funcionária de carreira com ampla experiência no setor. Recentemente defendeu a exploração da Margem Equatorial e temos expectativa que continuará a expansão da Petrobras iniciada por Jean Paul, principalmente no Nordeste”, afirmou Wagner, reforçando que aguarda a formação da
nova diretoria para cobrar a primeira reunião com ela.
Ele também entende que os planos de restruturação da Lubnor – refinaria cearense cujo processo de venda foi interrompido por Prates – terão continuidade. “Acreditamos que qualquer presidente
que tenha compromisso com o país e o estado do Ceará não ousará em privatizar a Lubnor, assim como não ter foco em energias renováveis.”
No entanto, a questão das energias renováveis suscita atenção. Lauro Fiúza Júnior disse ter receio em relação à atuação da nova presidente neste segmento, pois, na sua visão, Prates fez a Petrobras deixar de ser uma empresa de petróleo para se transformar em uma companhia de energia, investindo muito em transição energética.
“Eu acho que o gás é importante, o petróleo é importante, mas esse viés da Petrobras ser uma empresa de energia, eu acho que vai ficar para depois. (...) Mas, ela vem com a Petrobras ou sem Petrobras. Isso é inevitável. (...) A gente perde um grande aliado (Prates), mas essa transição é inevitável”, destacou.
A visão não é compartilhada pelo consultor na área de petróleo e gás, Bruno Iughetti, o qual vê o desenvolvimento de projetos em energias renováveis prosseguir sem percalços com a mudança. “Esse é um caminho que não tem volta. Para a Petrobras manter-se firme dentro desse mercado, é importante que, além das ações ligadas ao petróleo, ela também venha a apoiar as energias renováveis, em especial o hidrogênio verde (H2V).”
Outro ponto que tem gerado debate é sobre como ficará o preço dos combustíveis na nova gestão. Uma das críticas de integrantes do Governo ao Prates é que, apesar dele ter sido a pessoa que pôs fim da paridade internacional como referência em seu mandato, o ritmo de queda nos preços dos combustíveis poderia ocorrer em maior velocidade.
O engenheiro de petróleo sênior e membro da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Ricardo Pinheiro, acredita que a política atual deva ser mantida.
“Os preços dos combustíveis devem continuar seguindo a mesma política atual, com uma maior inércia na atualização, buscando evitar os altos e baixos extremamente frequentes do PPI (preço de paridade de importação). (...) Mas, no médio prazo, os preços sempre seguirão os níveis internacionais que se baseiam no preço do petróleo tipo Brent e na taxa de câmbio dólar/real. Não deverá mudar significantemente ou nem mudar”, detalhou.
Foco das dúvidas do mercado financeiro com a nova gestão, a política de distribuição de dividendos extraordinários – parcela do lucro aos acionistas – da Petrobras gerou diversos embates entre Prates e os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil). O senador e ex-presidente da estatal, inclusive, chegou a associar sua demissão aos governantes em mensagem de despedida aos ex-subordinados, conforme o G1.
O embate aconteceu porque o Governo Federal optou por reter os dividendos extraordinários no intuito de financiar novos investimentos. Prates, porém, defendia o repasse de, pelo menos, 50% do montante aos acionistas. Na votação sobre o tema, em reunião do conselho de administração, o ex-presidente não compareceu, o que não foi visto com bons olhos pelos entes governamentais.
Analistas e investidores do mercado financeiro têm esperado um posicionamento claro da nova presidente da Petrobras a respeito desse e de outros temas-chave para a estatal, como os investimentos e o que, de fato, irá mudar em relação à gestão antiga. Apesar de Magda Chambriard ser uma profissional com anos de experiência no setor, o ponto de atenção dos especialistas volta-se à interferência política na companhia.
Quem é Magda Chambriard
A indicação de Magda Chambriard ao cargo de presidente da Petrobras será submetida aos procedimentos internos de governança corporativa da estatal, com análises de conformidade e integridade atreladas ao processo sucessório.
Haverá, ainda, apreciação da indicação pelo Comitê de Pessoas e pelo Conselho de Administração da companhia, com base nos artigos 150 da Lei Nº 6.404/76 e 20 e 25 do Estatuto Social, conforme nota pela Petrobras.
Consultora na área de óleo, gás e biocombustíveis, Magda é engenheira civil (1979) e mestre em engenharia química (1989) pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ela iniciou carreira na Petrobras em 1980, onde atuou, especialmente, na área de produção. Foi cedida à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em 2002. E, em 2012, chegou à diretoria-geral da agência. Dentre os estudos técnicos liderados por ela houve a culminação da primeira licitação do pré-sal.
Atenção
Apesar de Magda Chambriard ser uma profissional com anos de experiência no setor, o ponto de atenção dos especialistas volta-se à interferência política na companhia