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Com excesso de energia no mercado, setor elétrico deve frear investimentos no Ceará em 2024
Economia

Com excesso de energia no mercado, setor elétrico deve frear investimentos no Ceará em 2024

| GERAÇÃO | Para especialistas, crise no segmento de geração de energia deve gerar cautela neste ano, com contenção de novos projetos e até demissões
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APESAR do Ceará já sofrer os impactos da crise, os desafios do setor são percebidos nacionalmente (Foto: Julio Caesar)
Foto: Julio Caesar APESAR do Ceará já sofrer os impactos da crise, os desafios do setor são percebidos nacionalmente

A demissão de 1.500 funcionários da fabricante de pás eólicas Aeris Energy, situada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, abriu um sinal de alerta sobre as perspectivas futuras do mercado elétrico no Ceará. A expectativa é que os investimentos em novos projetos sejam freados em 2024 devido a uma crise no segmento de geração de energia, ocasionada pela grande quantidade armazenada de energia, em meio a preços e demanda reduzidos.

A Aeris chegou a dizer, em nota, que o cenário desafiador deste ano que levou às demissões decorria da menor perspectiva para a instalação de novos parques eólicos, redução no número de contratos e no volume de vendas. “Com a finalidade de buscar mais eficiência operacional, fizemos diversos ajustes em nossa estrutura no início deste ano, o que inclui também uma adequação em nosso quadro de colaboradores.”

O fato de os reservatórios nacionais de energia estarem nos melhores níveis de acumulação nos últimos 14 anos gerou uma condição excepcional para o fornecimento elétrico a baixo custo no âmbito da geração centralizada, conforme explicação do diretor de geração centralizada do Sindicato das Indústrias de Energias e de Serviços do Setor Elétrico do Estado (Sindienergia Ceará), Luiz Eduardo Moraes.

“A produção de energia cresceu muito mais rápido do que o consumo. Isso, em algum momento, vai dar uma desaceleração de investimentos”, acrescentou o diretor científico do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Brandão, que vê o cenário com naturalidade e cita que o Governo Federal tem realizado ações para mitigar o problema, como subsídios.

Roberto explica que a sobra de energia pode demorar alguns anos para ser revertida e que a parte de energia eólica vem sendo mais afetada devido à forte concorrência da energia solar, que atua no mercado descentralizado também. “Não é uma coisa que a gente espere que passe em meses ou em um ano, estamos falando, provavelmente, de um processo que vai demorar uns poucos anos para ser revertido.”

Apesar do Ceará já sofrer os impactos da crise, os desafios do setor neste âmbito são percebidos a nível nacional, de acordo com especialistas. O secretário executivo de energia e telecomunicações da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), Adão Linhares, citou que, de forma geral, o cenário econômico brasileiro levou investidores à cautela não só em relação ao setor elétrico, como também para outros mercados, como varejo.

“Nós, do lado técnico, devemos ajudar o governo a realmente tomar uma posição. Falo não só do governo local, que já está acostumado com desafios. O Ceará sempre avança, mesmo em meio a várias crises e situações difíceis. É um estado pequeno, pobre, que tem muitos desafios sociais, mas temos que ajudar o Governo Federal a fazer um planejamento adequado e enfrentar esses desafios”, pontuou.

O especialista da Seinfra disse, ainda, que situações de dificuldades podem ser portas de entrada a novas oportunidades. “Não importa que o Brasil já tenha uma matriz energética muito boa, vamos ser ainda melhores. A ideia é crescer a partir da posição em que estamos. (...) E o Ceará se destaca com um potencial muito grande em energia renovável. Ela é muito barata em relação aos níveis médios do Brasil e do mundo, então temos um diferencial.”

A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), Élbia Gannoum, reforça que esta é uma indústria complexa, mas bem nacionalizada no Brasil. Ela explica, por exemplo, que 80% de uma turbina já é fabricada no Brasil. "É uma indústria que gera muito emprego e renda para o País e que se consolidou ao longo dos últimos 10, 15 anos. De três anos para cá, nós estamos percebendo uma redução muito forte da demanda por energia nova, da demanda por contratos novos, por parques novos".

Além da economia brasileira não estar crescendo de forma aceleradas, ela também pontua um forte impacto da solar distribuída, que cresceu numa velocidade muito rápida e acabou pegando espaço também da energia eólica de grande porte. "Nós não estamos tendo demanda para novos contratos."

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Balanço

A Aeris registrou prejuízo líquido de R$ 41,248 milhões no 1º trimestre deste ano, revertendo lucro de R$ 15,730 milhões de igual período de 2023, conforme balanço divulgado ontem. A receita com a venda de pás eólicas caiu 21,1%

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