Logo O POVO+
Energia se projeta como entrave ao crescimento da economia
Economia

Energia se projeta como entrave ao crescimento da economia

| Mais uma crise | Com demanda em alta e reservatórios em baixa, fornecimento de energia pode elevar preços ao consumidor, gerar inflação e resultar em elevação de juros no País
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Aumento da geração e da transmissão em 2024 não foram suficientes para evitar cenário (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil Aumento da geração e da transmissão em 2024 não foram suficientes para evitar cenário

Passados quatro anos desde a última crise hídrica-energética, o Brasil vive mais uma vez um segundo semestre de insegurança, com a energia elétrica figurando entre os entraves para o crescimento da economia brasileira.

Os resultados projetados pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) para o fim de setembro indicam a 4ª pior condição de energia em 94 anos, o que deve refletir diretamente no bolso dos consumidores, e configura um cenário diferente da esperada pelos setores produtivos.

“A energia é a infraestrutura das infraestruturas”, define o consultor Adão Linhares, presidente da Energo Soluções em Energia.

A frase resume a lógica da cadeia produtiva. Desde o campo até a venda do produto ou a prestação dos serviços, a energia elétrica é necessária. Uma vez mais cara, ela acentua o aumento de gastos em todas as etapas, atribuindo ao bem ou serviço aumentos elevados.

Reflexos sobre o País

Na prática, o consumidor vê o acionamento da bandeira vermelha patamar 2 - na qual a tarifa sofre acréscimo de R$ 0,07877 para cada quilowatt-hora kWh consumido - e, em outubro, deve começar a pagar mais pela conta de luz e diversos outros produtos e serviços.

O resultado, explica Igor Lucena, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (CRC-CE), é uma reação em cadeia sobre os preços em supermercados, academias, bares e restaurantes e diversos outros consumos. Ou seja, gerou inflação e a fez maior.

E quando se fala em inflação elevada, o Banco Central atua em sentido contrário com a taxa de juros. Referência para os demais juros operados no País, a Selic sofreu até a metade do ano pressão por baixa e um novo movimento de alta eleva os demais juros praticados, dificultando o acesso ao crédito por empresas e consumidores.

“Nesse aspecto eu sou um pouco otimista. Acho que podemos segurar um pouco, em setembro, a taxa de juros. A ver”, comentou Lucena sobre a próxima reunião do Comitê de Política Monetária, que define a Selic, entre os próximos dias 12 e 13 de setembro.

Tarifa e medidas de contenção

Os esforços do governo federal via Ministério de Minas e Energia (MME), hoje, são para atenuar esse aumento esperado para as contas de luz de outubro. Reuniões são feitas desde o início da semana e o Operador Nacional do Sistema (ONS) preparou uma série de ações preventivas na tentativa de segurar os aumentos.

Mas, segundo apontam Lucena e Linhares, o modelo tarifário brasileiro apresenta uma distorção entre o baixo custo de geração de energia e as altas contas cobradas. “Isso se deve a diversos fatores, como modelos malfeitos de regulamentação, impostos demais e quando chega na ponta, tudo fica muito caro. E a solução continua sendo as termelétricas, que são mais caras ainda”, diz o presidente do Corecon-CE.

Já o consultor aponta a falta de planejamento como motivo crucial de uma crise hídrico-energética. “As curvas de geração e consumo são claras. A cada período, a gente passa por momentos como este. Agora, uma linha de transmissão não se faz em menos de cinco anos. Suportes para fortalecer a rede precisam de tempo. São caros? São. Mas acionar térmicas a gás natural também é”, compara.

O ONS expôs que a expansão totalizou 7.096,5 megawatts (MW) de capacidade instalada de geração centralizada, 2.409,4 km de linhas de transmissão e 10.730 MVA de capacidade de transformação. Mas os números não foram suficientes para evitar o cenário atual.

Governo federal mira subsídios

Preocupado com o reflexo sobre os preços, o ministro Alexandre Silveira (MME) mira os subsídios dados ao setor de geração de energia elétrica como forma de retirar encargos existentes na tarifa paga pelo consumidor.

A atenção pode ser a oportunidade que o setor precisa para debater um modelo tarifário melhor, segundo sugere Paulo Siqueira, diretor de Gestão Energética do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE).

“Isso já se vem falando há muito tempo e não é algo que o ministro descobriu agora. Os agentes do mercado já vem alertando há bastante tempo. Alguns subsídios, como a Conta de Desenvolvimento Econômico, que embute a tarifa social para a baixa renda, onera todos os consumidores e é uma rubrica que deveria estar no Tesouro Nacional, e não estar sendo rateada pelos demais consumidores”, aponta.

Adão Linhares diz ainda temer que as fontes renováveis sofram com a perda de subsídio em pleno processo de transição energética no País e ainda enquanto socorrem os consumidores do Sudeste, abalados com a seca nos reservatórios.

Ele resume o cenário como uma falta de vontade política para fazer com que o SIN seja tão robusto quanto se espera dele, dando condições de geração de energia elétrica, transmissão e consumo por todos os agentes econômicos do País.

Mais notícias de Economia

Energia

Para o diretor do Sindienergia-CE, o Mercado Livre de Energia e a geração distribuída, seja própria ou alugada, só terão reflexos no aumento de usuários a partir de outubro, quando as contas de luz mais caras chegam aos consumidores

O que você achou desse conteúdo?