Com indústrias no Ceará e no Rio Grande do Norte, o maior produtor nacional de camarão e vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Cristiano Maia, prevê a retomada da exportação do crustáceo para o Reino Unido em 2025, após a nação ter realizado uma visita técnica em suas instalações há duas semanas.
O camarão foi impedido de ser exportado para a Europa em 2018, quando foram encontradas desconformidades em um navio de pesca em Santa Catarina, o qual não estava associado ao crustáceo de cativeiro, mas ocasionou a penalização de todos os exportadores brasileiros do animal, segundo Cristiano.
Desde então, o produtor estava trabalhando para uma visita técnica em suas indústrias. O ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, já havia adiantado ao O POVO, em junho, que a comitiva viria ao Brasil neste segundo semestre, tendo em vista que o retorno das exportações é uma das grandes demandas desses carcinicultores.
Cristiano afirmou que os auditores do Reino Unido disseram que a sua indústria estava pronta para exportar a qualquer lugar do mundo e que, em 60 dias no máximo, o resultado seria divulgado, isto é, em novembro deste ano. “Eles vão informar quais indústrias ou se todas serão habilitadas e voltarão a exportar.”
Apesar do Reino Unido ter se separado da União Europeia, a expectativa é que um possível resultado positivo da avaliação possa reabrir as portas para o mercado europeu como um todo. “Eles são muito exigentes em relação aos cuidados desde a fazenda até a mesa, tudo deve ser rastreado”, de acordo com Cristiano.
“Meu camarão é rastreado desde a larva até o produto final. Os produtores devem ter esse cuidado quando forem exportar. Portanto, há um grande mercado global, e temos a possibilidade de expandir nossas atividades, especialmente aqui no Nordeste; e é fundamental valorizar o criador de camarão”, acrescentou.
O Ceará é o maior produtor de camarão do Brasil, responsável por 57% do montante nacional em 2023, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, demonstrou otimismo com as novas perspectivas para o cenário.
Amílcar relatou que há necessidade pela busca de produtos que possam colaborar com a balança comercial do Estado. “A minha expectativa com o camarão é que ele possa, se não dobrar de tamanho, pelo menos resgatar as exportações que já tivemos no passado, que foram de US$ 30 milhões”
Todavia, o presidente faz uma crítica de que os países compradores fazem inúmeras exigências na hora da exportação, mas que o Brasil não tem a mesma criticidade quando se trata da importação. Inclusive, em agosto, houve uma manifestação de carcinicultores em Limoeiro do Norte, no Ceará, contra a entrada do camarão importado no País.
O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), já afirmou tratar da questão junto ao Governo Federal para proteger o mercado nacional e garantir a competitividade do segmento. É neste cenário que o produtor Cristiano Maia detalhou que teme que a alta produção de camarão no Brasil não acompanhe o consumo nacional.
“Estamos investindo muito em conscientização para aumentar o consumo de camarão, que ainda é muito baixo, em torno de 700 gramas per capita por ano. Isso é muito pouco em relação a outras proteínas: o frango é cerca de 45 quilogramas (kg) per capita por ano, o bovino em torno de 18 kg e o peixe cerca de 9 a 12 kg”, complementou.
Para Cristiano, se o consumo nacional aumentar, valeria mais a pena continuar comercializando o camarão no próprio País, considerando a burocracia e a logística das exportações. Todavia, é importante abrir-se às possibilidades de envio do crustáceo a outras nações, tendo em vista que eles já consomem muita quantidade hoje. (Com Samuel Pimentel)