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Interrupções na geração causam perda de R$ 45 mi a parques solares no Ceará
Economia

Interrupções na geração causam perda de R$ 45 mi a parques solares no Ceará

| Em 8 meses | Relatório do setor produtivo busca municiar o governador Elmano em investida contra a medida da Aneel que atesta insuficiência de linhas de transmissão para escoar produção
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NAS contas da ABSolar, pelo menos, 532 mil MWh deixaram de ser destinados ao consumo (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES NAS contas da ABSolar, pelo menos, 532 mil MWh deixaram de ser destinados ao consumo

As interrupções programadas na geração de parques fotovoltaicos em território cearense representaram um prejuízo de R$ 45 milhões entre abril e novembro deste ano aos investidores, segundo números contabilizados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar) obtidos com exclusividade pelo O POVO.

Curtailment é o nome da prática adotada pela Agência Nacional de Energia Elétrica após o apagão de 2023 para não sobrecarregar a rede de transmissão. O termo em inglês se refere às interrupções na geração de energia por falta de capacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) de escoar a produção de parques nordestinos e implicam, de acordo com a ABSolar, em 532 mil megawatts-hora a menos para o consumo dos brasileiros.

Os dados fazem parte de um relatório que o setor produtivo está elaborando para municiar o governador Elmano de Freitas (PT) de informações, segundo afirmou Luís Carlos Queiróz, presidente do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE).

Ele lidera a articulação e participou de uma reunião, na última sexta-feira, dia 29, com representantes da ABSolar, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e das secretarias da Infraestrutura (Seinfra) e do Desenvolvimento Econômico (SDE). No encontro, ficou acertado que o relatório ficará pronto nesta semana para ser apresentado ao governador, que se recupera de covid-19.


Prática sem igual no mundo

Ao comparar a prática do curtailment no mundo com o feito pela Aneel no Brasil, o presidente do Sindienergia disse ter se surpreendido com os dados, uma vez que o percentual de geração interrompido no Ceará é dez vezes maior do que o observado no Exterior.

"Quando a gente olha para o mundo, realmente, chama atenção os 12% de curtailment praticados no Brasil e os 50% no Ceará. Porque o número observado é de 1% a 5%", ressalta.

Queiróz ainda destaca que as justificativas para a interrupção da geração de energia no exterior variam entre segurança de rede, estabilidade e não de falta de infraestrutura como nós temos". Ele se refere à falta de linhas de transmissão que dêem suporte à geração dos parques de energia renovável no Nordeste.

"São números estrondosos e põem em xeque toda a questão do investimento, tanto do hidrogênio verde que está chegando quanto a chegada de novos investimentos pela falta de segurança", alerta.

Com a elaboração do relatório, o presidente do Sindienergia diz que o objetivo é de o governador cearense buscar articulação com outros estados impactados pela medida da Aneel, como Rio Grande do Norte e Bahia, e iniciar tratativas com o governo federal.

O setor produtivo busca um ressarcimento pelo tempo sem produção. De acordo com ele, o Sindienergia "acha razoável" que o governo "até 95%" das perdas das empresas, a partir das conversas com os players em atuação no Estado.

"Mas isso precisa ser muito rápido. Nós estamos fechando o balanço das empresas de 2024 e se a gente não tomar rápido esse ressarcimento vai ficar uma cicatriz no balanço. Para a gente manter a confiança que tivemos nos últimos 20 anos precisamos disso porque o setor é como a bolsa de valores, perde a confiança muito rápido e demora a reaver", observou.

Procurada, a Seinfra confirmou, por meio de nota, que o Governo do Estado tem recebido as demandas dos agentes do setor. E que, embora os cortes estejam previstos na Lei Nº 10.848/2004 e regulamentados pela Resolução da Aneel nº 1.030/2022, o Estado tem buscado dialogar com o governo federal a construção de saídas para o impasse.

"Como dependemos de energia renováveis para o desenvolvimento do HUB de Hidrogênio Verde, o Governador demonstrou interesse em dialogar com o Governo Federal e MME na busca de soluções para o impasse. Assim, reuniões têm sido realizadas em Brasília e no Ceará, com agentes do setor e do governo para essa articulação. De fato, o setor produtivo está fazendo um levantamento de dados para municiar o governador na tentativa de reduzir essas interrupções na geração, juntamente com pessoas da SDE, Seinfra, Fiec e Sindienergia", informou a nota.

 

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