O Governo do Ceará e a Transnordestina Logística S.A. (TLSA) assinaram a ordem de serviço para início das obras do Trecho 11 da ferrovia Transnordestina. Serão mais 26 km ligando Caucaia ao Pecém. A operação deve ocorrer em paralelo à ampliação do Porto do Pecém, que terá empresa responsável pelo projeto escolhida em fevereiro.
A partir da assinatura da ordem de serviço para início da operação da ferrovia, a expectativa é de que as obras iniciem em 30 dias. Segundo a operadora da obra, com esse novo trecho, a ferrovia alcançará 150 km executados e mais de 200 km em obras.
Atualmente, existem quatro lotes já em obras, os Trechos 4 (Acopiara a Piquet Carneiro), 5 (Quixeramobim), 6 (Quixadá) e 7 (Itapiúna).
A partir da mobilização do Trecho 11 restará contratar uma extensão de 169 km, referente aos Trechos 8, 9 e 10, que passam nos municípios de Baturité, Aracoiaba e Caucaia. O orçamento atual do projeto é de R$ 15 bilhões, dos quais R$ 7,1 bilhões já foram investidos. As obras da Transnordestina retomaram o ritmo em 2023, com a volta de investimentos federais. O empenho do governo é para que a entrega da Fase 1 da ferrovia ocorra até 2027 e até 2029, a Fase 2.
Segundo o governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), as duas intervenções não devem gerar transtornos para a operação portuária.
As obras do porto ainda não têm data confirmada para iniciar. No próximo dia 6 de fevereiro, o Estado vai abrir as propostas da licitação para escolha da empresa responsável pela ampliação. O recurso disponível é de aproximadamente R$ 675 milhões, garantido a partir de operações de crédito.
"O importante é que o projeto da modernização do porto seja coerente com a Transnordestina, prevendo o futuro aumento no volume de cargas. Estimamos dobrar o movimento de cargas com a ferrovia, e o porto precisa estar preparado para receber essa demanda", ressalta o governador.
Ainda conforme Elmano, a intenção é de que, quando a Transnordestina estiver pronta, o Porto do Pecém já esteja totalmente ampliado.
A mobilização em torno da Transnordestina no Ceará, segundo o governador, atualmente envolve mais de 2,5 mil trabalhadores, número que será ampliado para 3,5 mil a partir da contratação do novo trecho. A projeção é que a ferrovia chegue a empregar 8 mil pessoas em sua construção no Ceará.
Elmano ainda revela que existe expectativa de que, entre março e abril, mais um lote de obra seja iniciado e que, ainda no primeiro semestre, outro lote. "Já temos o cronograma idealizado para a conclusão da obra".
"Estamos falando da principal obra de infraestrutura do Nordeste do Brasil, permitindo ao Ceará um grande ganho logístico com a redução do custo dos fretes. Isso possibilita o transporte de grãos para abastecer a cadeia leiteira do Estado e, acima de tudo, cria condições logísticas para exportação através do Porto do Pecém", afirma.
O governador mencionou ainda que a infraestrutura logística deve potencializar as vantagens competitivas na atração de novas indústrias.
Tufi Daher, presidente da TLSA, destaca que a entrega da ferrovia deve representar uma mudança histórica em que o Estado passará a ter logística a partir de uma ferrovia de padrão mundial, "que será a coluna vertebral do Nordeste para o escoamento de produtos".
A previsão para conclusão da obra segue sendo meados de 2027, diz Tufi, apesar de haver pedidos no Governo Federal para que o prazo seja adiantado e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), possa entregar.
O que é certo até o momento é o início da operação parcial da ferrovia, do Piauí até Iguatu. "Esperamos que, ainda este ano, possamos trazer milho, soja e farelo para a bacia leiteira em Iguatu. Estamos avançando para conectar o trecho de Ribeira do Piauí, que está pronto, com os demais segmentos".
Sobre a garantia de liberação de recursos para os próximos lotes, o líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT), afirma que os R$ 3,6 bilhões liberados para o complemento da obra "serão liberados de forma gradual", mas a contratação dos trechos 8, 9 e 10 dependerá da execução orçamentária.
"A ordem do presidente na reunião ministerial é que não faltem recursos para garantir a conclusão da obra até o fim de 2026", destaca o deputado, revelando que Lula deve vir ao Ceará em breve, provavelmente na ocasião do início da operação parcial.
Obras no Pecém terão explosões controladas e trecho 9 será o último por "complexidade" do projeto
Algumas complexidades técnicas do projeto da Transnordestina foram destacadas pelos responsáveis pela operação. Tufi Daher, presidente da TLSA, e Renan Carvalho, diretor da Marquise Infraestrutura, destacam dois pontos específicos: como será a operação no Pecém e a opção de deixar o trecho que liga Baturité e Aracoiaba como o último a ser finalizado no cronograma.
As obras para construção da ferrovia Transnordestina no trecho entre Caucaia e a chegada ao Porto do Pecém a serem iniciadas em 30 dias devem ocorrer ao mesmo tempo da ampliação do porto.
Do ponto de vista da construção da ferrovia, Renan diz que deve haver abordagem diferente na condução dos trabalhos. Mas garante que não deve haver transtornos por conta das duas obras, já que uma deve ocorrer em terra e outra, em sua maioria, pelo mar, já que o Pecém é um porto offshore.
"(A ampliação do Porto do Pecém) é uma obra que depende pouco do que estamos fazendo em terra, realizada predominantemente pelo mar. A Transnordestina é uma obra que chega por terra, mas ambas são complementares e não criam maiores transtornos", explica.
Segundo o executivo, outro diferencial será a opção por explosões limitadas, o chamado fogo controlado, diferente do que foi utilizado nos trechos nas demais cidades do sertão cearense por conta da presença de gasodutos, por exemplo.
Já em relação ao lote 9 da Transnordestina, o trecho de 49 km é considerado o mais complexo do projeto no Ceará. Tufi Daher destaca que o caminho da ferrovia inclui grandes volumes de maciços de pedra.
"O Lote 9 exige grandes movimentações de terra, com cortes profundos e preenchimentos volumosos. Há muito material de terceira categoria, como rochas, que torna a obra mais cara e complexa. É por isso que será o último a ser contratado", explica.
Iguatu, Quixeramobim e mais uma cidade terão paradas no caminho da Transnordestina no CE
O Ceará deve ter a formação de três terminais multimodais ao longo da ferrovia Transnordestina. Os projetos mais adiantados e que contam com apoio do Governo do Estado em sua viabilização são os dos municípios de Iguatu e Quixeramobim.
Conforme O POVO apurou, outro município cearense deve contar com uma infraestrutura como essa, que, após alfandegamento pela Receita Federal, serão uma estrutura de porto seco, o que deve acelerar a movimentação de cargas no Porto do Pecém, já que os trâmites de alfândega já terão sido realizados no Interior.
O governador do Estado, Elmano de Freitas, confirmou que há demanda de muitos municípios em busca da estrutura, mas que a escolha se baseará em critérios técnicos.
"Eu penso que temos limites técnicos para essas decisões. Por mais que haja boa vontade política, é fundamental que o trem tenha carga para se viabilizar. Estamos falando de um investimento de R$ 15 bilhões, e a empresa concessionária espera retorno financeiro deste investimento. Para isso, é essencial que haja carga suficiente", destaca.
Para analisar a questão, a TLSA possui uma diretoria comercial que fez o mapeamento da região. Por enquanto, a certeza é a implantação de um terminal multimodal em Iguatu.
A operação deve ser iniciada ainda em 2025 para atender a demanda do início da operação parcial da ferrovia, prevista para esse ano.
O presidente da TLSA, Tufi Daher, destaca que não há restrições ou preferências por município em detrimento de outro. "Se a empresa apresentar um volume de carga suficiente para justificar a parada do trem, isso certamente acontecerá".
Ainda segundo Daher, além de Iguatu e Quixeramobim, a tendência é que Missão Velha seja o terceiro município escolhido. Para ele, não faz sentido técnico escolher um município mais próximo do destino final.
"Fala-se em Missão Velha, onde o governo desapropriou uma área grande. Provavelmente será lá. Não faz sentido ter terminais muito próximos ao porto, como a 200 km. Nesses casos, o transporte por caminhão é mais competitivo para pequenas distâncias. A ferrovia é viável para grandes cargas e longas distâncias", pondera.
Tamanho
A ferrovia conta com pouco mais de 1.200 km de extensão e percorre 53 municípios dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, partindo do município piauiense de Eliseu Martins ao porto de Pecém, no litoral cearense