O preço do café deve seguir em alta, pelo menos, por mais dois ou três meses, quando a safra deste ano começar a ser colhida, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). Em Fortaleza, supermercados já começam a sentir mudança no comportamento do consumidor
Quebra de safras no Brasil, Colômbia e Vietnã, somadas ao aumento de 28% nas exportações, pressionam o mercado nacional. Além disso, o aumento do consumo de café em todo o mundo e a chegada de um novo mercado consumidor global, a China, também influenciam o cenário.
Eventos climáticos severos têm afetado as colheitas há pelo menos quatro anos. Em 2021, houve uma geada que dizimou quase 20% da safra de arábica. Em 2022, ela não conseguiu se recuperar – no geral, a safra demora dois anos para que isso ocorra, explicou a Abic.
Já em 2023, a lavoura sofreu os efeitos do El Niño [fenômeno que afeta o clima em todo o planeta], com um período longo de estiagem e altas temperaturas. E, no ano passado, o fenômeno que atuou foi o La Niña, que trouxe chuvas alongadas.
De acordo com a Abic, neste contexto, o custo de produção da indústria subiu acima de 180% e apenas parte disso, em torno de 37%, foi repassada ao consumidor.
A entidade projeta que, após a safra deste ano, que ainda será ligeiramente menor que a do ano passado, deve ocorrer um movimento de arrefecimento no valor do produto, com uma certa estabilização. Porém, uma queda mais consistente de preços só deve vir a partir da safra do próximo ano.
“Em relação à matéria-prima, devemos ter ainda alguma volatilidade adicional até a chegada da safra, que deve tensionar por conta de uma oferta muito curta. A partir da chegada dessa safra, entendemos que haverá alguma estabilidade. E quando tivermos finalizado a colheita, portanto, com um olhar para 2026, esperamos ter uma grande safra, possivelmente superior a 2020, quando tivemos safra recorde”, informou o presidente da Abic, Pavel Cardoso.
Nas Centrais de Abastecimento do Estado do Ceará (Ceasa), o preço do café preto subiu de R$ 44 para R$ 54 o quilo entre janeiro e fevereiro. A expectativa é que o aumento de 22% no atacado impacte os preços nos supermercados.
Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa, explica que o café que chega ao Ceará vem de Minas Gerais (maior produtor nacional, responsável por mais de 50% do mercado), São Paulo e Espírito Santo.
Condições climáticas adversas afetaram a colheita de 2024, mas também em anos anteriores.
vêm afetando a colheita
Reduções na colheita devido a condições climáticas adversas e queimadas, além da priorização de contratos internacionais, impactaram a oferta. "Além disso, a Colômbia, outro grande produtor, também teve queda na produção".
"O café brasileiro também tem forte demanda no mercado externo, especialmente nos Estados Unidos, onde é bem aceito. Com a quebra de safra em outros países, a demanda internacional pelo café brasileiro aumentou, reduzindo ainda mais a oferta no mercado interno e elevando os preços", pontua.
O impacto desse movimento é sentido diretamente nas gôndolas dos supermercados. Segundo a pesquisa "Variações de Preços: Brasil & Regiões", realizada pela Neogrid, o café subiu 46,1% no ano passado, com preço médio de R$ 53,90.
Em Fortaleza, nos 12 meses até janeiro de 2025, o café encareceu 97,28%, conforme levantamento do Preço Comparado, iniciativa do jornal O POVO em parceria com o Departamento Municipal de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon Fortaleza).
Em janeiro de 2024, o menor preço nos supermercados era de R$ 6,99. Um ano depois, subiu para R$ 13,79.
Claudia Novais, presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), afirma que a alta tem afetado o comportamento dos consumidores, que estão reduzindo o volume adquirido.
“Observamos uma redução no volume adquirido por cliente, o que reflete uma adaptação ao novo cenário econômico. Quem antes comprava quatro pacotes de 250g, agora leva três. Além disso, há um movimento crescente de busca por marcas mais acessíveis, o que demonstra que o consumidor está cada vez mais atento aos preços e disposto a fazer substituições para equilibrar o orçamento familiar”, afirma.
A diretora da Acesu ainda diz que o diálogo dos supermercados com os fornecedores é de que a perspectiva é que apenas em 2026 possamos observar uma redução mais significativa de preços.
Segundo a economista Tcharla Bragantin, docente do Centro Universitário Módulo, outro fator determinante tem sido a valorização do dólar e o aumento dos custos de produção, impulsionados pela alta das taxas de juros.
Para mitigar os impactos desse cenário, Tcharla sugere algumas medidas: "O governo deve focar no incentivo à produção, oferecendo linhas de crédito com condições favoráveis para pequenos e médios produtores. Já as empresas precisam adotar estratégias que visem à redução de custos e à otimização dos processos produtivos, logísticos e de venda".
O cenário do mercado do café no Brasil