O Ceará teve a maior queda no volume de exportações em 2024, de 27,8%, entre todos os estados brasileiros, conforme revela o relatório anual intitulado Ceará em Comex, elaborado pelo Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
Ao todo, foram exportados para outros países cerca de US$ 1,4 bilhão em mercadorias no ano passado, ante US$ 2 bilhões comercializados em 2023.
Conforme o documento, a principal razão para essa queda foi a retração na venda de ferro, aço e similares, que chegou a 48%. Esses produtos representaram, ainda assim, nada menos que 38% da nossa pauta exportadora em 2024.
O segundo e o terceiro item mais exportados pelo Estado também tiveram reduções na casa dos dois dígitos. Esse foi o caso dos calçados e artefatos semelhantes, que sofreram retração nas vendas para o Exterior de 25,1%, e das frutas, que tiveram queda de 19,7% nas exportações.
Por outro lado, entre os cinco itens mais comercializados pelo Ceará para o Exterior, peixes e frutos do mar tiveram alta nas vendas internacionais de 25,4%, e gorduras, ceras e óleos tiveram alta de 31,1%.
Para o mestre em Economia e conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Eldair Melo, o número reflete uma combinação de fatores externos e internos. Ou seja, tem o peso da volatilidade do mercado internacional, assim como, internamente, o Estado enfrentou desafios logísticos e de competitividade, além de uma possível desaceleração na demanda por produtos tradicionais.
"Essa queda não significa apenas uma redução da receita, mas também um sinal de alerta para a necessidade de diversificação da pauta exportadora e de maiores investimentos em infraestrutura e inovação. É crucial que o Estado se adapte às novas dinâmicas globais, buscando nichos de mercado e produtos com maior valor agregado."
Também avalia que o Ceará tem um potencial significativo para explorar novos mercados e produtos, especialmente aqueles alinhados com as tendências globais de sustentabilidade e inovação.
"A cera de carnaúba, por exemplo, é um produto com grande demanda internacional, devido a sua aplicação em indústrias como cosmético, alimentícia e farmacêutica. Além disso, o Estado pode investir em energias renováveis, já que o Ceará é um líder em energia eólica e solar e tem potencial de aumentar suas exportações de tecnologias e serviços relacionados a essas fontes de energia", complementa.
Especificamente sobre ferro e aço, o mercado frisa que há impacto da gigante siderúrgica ArcelorMittal — que tem uma unidade no Complexo do Pecém.
O grupo, globalmente, no quarto trimestre de 2024, teve prejuízo líquido de US$ 390 milhões. O montante é bem menor do que a perda de US$ 2,97 bilhões registrada em igual período do ano anterior.
O resultado, inclusive, frustrou a expectativa de analistas, que previam lucro de US$ 319 milhões, segundo consenso fornecido pela própria companhia.
Mas este é um dado global de prejuízo. Em relação à atuação no Ceará, na segunda-feira, 24 de fevereiro, a ArcellorMittal soltou comunicado ao O POVO sobre a ArcelorMittal Pecém, frisando os resultados consolidados de embarques no Ceará no ano passado como "praticamente estáveis".
"Os embarques das placas de aço da unidade Pecém da ArcelorMittal, realizadas pelo Porto do Pecém, mantiveram-se praticamente estáveis, com 2,94 milhões de toneladas de placas de aço embarcadas em 2023 e 2,93 milhões de toneladas de placas de aço embarcadas em 2024. Do total de embarques, a participação das exportações/vendas para o mercado externo cresceram de 62% (1,83 mi t de placas de aço) para 76% (2,25 mi t de placas de aço). Por outro lado, do total de embarque, a participação das vendas para o mercado interno passou de 38% (1,1 mi t de placas de aço) em 2023 para 23% (0,68 mi t de placas de aço) em 2024."
Para se ter ideia da variação dos produtos de ferro fundido, ferro e aço na pauta exportadora cearense, dados do Observatório da Indústria da Fiec mostram que em 2021 o Estado exportou US$ 1,6 bilhão, indo para US$ 1,15 bilhão em 2022 (-28,3%), US$ 1,07 bilhão em 2023 (-6,6%), e chegando a um recuo expressivo para US$ 562 milhões em 2024 (-48%). Somente em janeiro deste ano, com US$ 8,2 milhões exportados, já se registra retração de 69,3%.
No ano passado, apesar de se manter no topo das comercializações desta mercadoria com o Ceará, os Estados Unidos demandaram US$ 441,3 milhões do mercado cearense, num recuo de 40,2% ante o ano anterior. O segundo lugar que mais comprou do Estado foi o México, com US$ 46,2 milhões, o que representou recuo de 79,5%. (Colaborou Fabiana Melo)
Matéria atualizada às 13h49min do dia 24 de fevereiro, para acrescentar os dados específico de movimentação de placas de aço da ArcelorMittal Pecém
Maiores quedas nas exportações no acumulado de 2024, no Brasil
CE (-27,8%)
DF (-19,2%)
TO (-17,2%)
PI (-16,8%)
PB (-15,4%)
RR (-14,9%)
MT (-14,3%)
GO (-12,3%)
AP (-9,9%)
PR (-7,9%)
Fonte: Ceará em Comex