"A série de reportagens "Games como Negócios" venceu o 11º Prêmio Sebrae de Jornalismo 2024 na categoria Texto"
O sonho de fazer parte do atrativo, envolvente e flexível mercado de games está no horizonte de boa parte dos brasileiros. Inclusive, essa vontade tem se tornado mais presente nos últimos anos, quando o mundo passou a vivenciar o boom dos jogos eletrônicos. Considerado “novo”, porém, o setor ainda é desconhecido por muitos, mas um cearense tem ajudado a aproximar talentos das oportunidades abertas por empresas nacionais e internacionais desta indústria tão pulsante.
Na rede social do universo corporativo, o Linkedin, João Custódio, de 33 anos, encontrou uma forma de apostar em um negócio de relativo sucesso. Após inúmeras tentativas de fazer diferentes empreendimentos “darem certo”, ele criou o “Vagas em games”, projeto de divulgação das oportunidades existentes no mercado de jogos e esportes eletrônicos (e-sports). Em poucos meses, já contribuiu para que centenas de pessoas tenham alcançado o ingresso ou a realocação neste setor tão desejado.
Em entrevista ao O POVO+, João Custódio comenta que a expectativa é de tornar sua iniciativa em uma verdadeira plataforma de aplicação e gestão de candidaturas de trabalhadores que carregam a vontade de crescer profissionalmente, bem como fazer com que a indústria de games se fortaleça de maneira local e global. “O mais importante é poder ajudar as pessoas”, resume.
Antes de entender mais sobre a atuação de João Custódio e do Vagas em Games, no entanto, é importante compreender a importância e o tamanho desse mercado. Por aqui, OP+ já narrou em diferentes reportagens a transformação da realidade de cearenses a partir dos jogos digitais. Seja atuando no ambiente competitivo ou na criação dos códigos e conceitos por trás dos games, o que não faltam são exemplos de êxito daqueles que nasceram no Ceará e optaram pelos jogos como meio de vida.
Nomes como João Victor Lopes, Ilan “Havoc” Eloy e Otávio “NighTT” Melo são alguns dos que se profissionalizaram no e-sports e ganharam destaque dentro e fora do País. Suas trajetórias são marcadas por títulos de grande relevância, contratos com organização gigantescas e, principalmente, histórias que evidenciam a possibilidade de mudar os rumos de suas carreiras e o contexto de suas vivências ao colocar o controle, o smartphone ou o teclado e mouse nas mãos.
Outra vertente de atuação neste segmento está na criação dos próprios jogos. Pensar desde a jogabilidade e ambientação até as funções e nomes de cada um dos personagens está dentre as funções dos desenvolvedores de games como Vinícius Lima, uma das cabeças pensantes à frente da Studio 85 – uma das principais desenvolvedoras de jogos de Fortaleza e do Ceará.
Além dele, um projeto movido pelo Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) tem ajudado a construir um cenário que abre perspectivas de trabalho e de empreendedorismo a crianças e jovens de áreas periféricas da Capital. Por meio da democratização do acesso às tecnologias digitais e à formação artística neste campo criativo, o CCBJ tem oferecido oportunidades para a comunidade deixar a condição de consumidora, passando a ser criadora de conteúdos e difusora de conhecimento a partir do programa de Cultura Digital.
As histórias de cearenses se dando bem no mercado de jogos acontece também em meio a uma verdadeira revolução do segmento. Impulsionada principalmente durante a pandemia de Covid-19, a industria dos games passou a ganhar tanto destaque que assumiu a ponta da economia do entretenimento mundial. Para se ter ideia, em 2020, os games movimentaram sozinhos US$ 163,1 bilhões, valor superior à soma do mercado da música e do cinema juntos, conforme apresenta o relatório da agência americana TechNet Immersive.
Diante disso, a Pesquisa Game Brasil (PGB) 2024 mostra que atualmente mais da metade dos brasileiros acreditam que o setor de jogos oferece boas oportunidades de profissionalização. Com destaque, aparecem as áreas de Publicidade e Marketing (63,4%), Arte (60,7%) e Produção e Gestão (60,4%), como os ramos mais procurados pelos profissionais.
Para além do interesse no setor propriamente dito, a PGB 2024 traz ainda que os e-sports aparecem como possíveis segmentos de interesse. Há destaque para áreas de Tecnologia (62,9%), Marketing (61,4%) e naquela que permite a construção de de carreiras de Pro Player (de jogadores profissionais, com 60,3%).
Nos gráficos abaixo, veja mais detalhes sobre as predileções dos interessados no mercado de games no Brasil:
“Estes dados nos ajudam a entender o impacto que a cultura gamer tem no Brasil e como o público tem visto cada vez mais como este pode ser um caminho para seguir na carreira. O jovem hoje já enxerga isso não como uma possibilidade, mas como uma realidade. A tendência é de crescer ainda mais”, afirma Carlos Silva, sócio da Go Gamers, empresa que desenvolveu a pesquisa.
Apesar do avanço do setor e do interesse em ingressar neste mercado, até o momento continua existindo uma barreira para a entrada. Plataformas de emprego especializadas nessa área são raras e as chances de acessar vagas ainda estão longe do alcance de muitos entusiastas. Para superar esse obstáculo, um empreendedor cearense lançou um projeto com o objetivo de aproximar os brasileiros das oportunidades presentes no segmento.
Nascido no Montese e morando no Cocó “há alguns bons anos”, o profissional de marketing João Custódio tem encontrado no mercado de jogos eletrônicos uma oportunidade de proporcionar conhecimento e ingresso nas vagas existentes no segmento. Aos 33 anos, ele compartilha ao O POVO+ que sempre desejou trabalhar com games, mas também encontrava muitas dificuldades para entrar na área: “Me parecia ser algo inalcançável…”
Apaixonado por games, porém, ele diz ter agarrado uma oportunidade de fazer parte desse setor quando foi contratado para realizar campanhas criativas da Agência WAG, empresa especializada em consultoria e novos negócios para games e e-sports, atendendo empresas do Brasil e do mundo.
Apesar de já estar realizando esse sonho, João narra que notava ainda uma lacuna que impedia que muitos outros jovens e profissionais de longa data também pudessem entrar na indústria de jogos e esportes eletrônicos. “Com isso, comecei a pensar em como poderia utilizar da minha experiência para ajudar essas pessoas”.
“Tentei empreender algumas vezes, mas nunca com sucesso. Em 2023, lancei o projeto Vagas em Games, que me deu um direcionamento bacana sobre uma nova caminhada no empreendedorismo, mas dessa vez alinhado a uma paixão e ao desejo de ajudar a comunidade de profissionais que desejam entrar nesse mercado”, conta.
Segundo ele, os espaços focados e que promovem o mercado de jogos digitais são “limitadíssimos” e após o encerramento da plataforma de empregos para games Hitmarker Brasil, em 2022, “tudo ficou mais difícil”. No ano seguinte, o cearense relata ter identificado muitas demissões nessa indústria, o que lhe acendeu um alerta para buscar oportunidades de contribuir com profissionais do segmento.
João Custódio, então, começou a fazer listas de vagas abertas por empresas locais, nacionais e internacionais, compartilhando-as em seu perfil pessoal no Linkedin. “Mas ao conversar com colegas, tive a ideia de centralizar essas informações em uma página e foi aí que surgiu o Vagas em Games”, relembra, informando que o lançamento aconteceu em novembro de 2023.
Em pouco mais de seis meses, o projeto já tem recebido retornos positivos de pessoas que conseguiram se posicionar em uma das milhares de oportunidades partilhadas na rede social. Ao todo, já são mais de 300 pessoas que se aplicaram a alguma vaga e mais de 500 indicações. As postagens do perfil também ganharam mais relevância, chegando a alcançar a marca de 45 mil usuários do Linkedin – inclusive este repórter, que logo entrou em contato para conhecer a história de João Custódio.
Hoje acompanhado por 15 mil seguidores, o Vagas em Games trabalha com a pretensão de se tornar uma plataforma de aplicação e gestão de candidaturas. “Além disso, quero construir uma comunidade, produzindo conteúdos sobre carreira, fornecendo cursos, mentorias e guias de ajuda para jovens estudantes que querem entrar na área”, comenta João Custódio, que revela contar também com o apoio de diversos profissionais que se voluntariam em ajudar o projeto.
Ele menciona ainda que outro ponto relevante que possibilitou o estabelecimento do patamar que o Vagas em Games tem alcançado atualmente está no seu acesso a conhecimentos sobre negócios. Depois de passar por consultorias gratuitas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), João afirma ter maior entendimento sobre como tornar aquele seu sonho em um empreendimento palpável.
“A consultoria me ajudou a entender sobre as possibilidades de monetização, a importância de desenvolver a plataforma para metrificar o impacto causado pelo projeto, gerenciando número de aplicações, pessoas contratadas, etc., e a ter maior clareza sobre como transformar o projeto em um negócio e escalar. Além disso, pessoalmente, tive maior entendimento sobre a importância desse negócio para o mercado de games e para profissionais que buscam por empregos no meio”, aponta.
Para conhecer o Vagas em Games, acesse o perfil no Linkedin (clicando aqui) ou o site do projeto (clicando aqui).
Amplo e diversificado, o universo gamer oferece uma infinidade de oportunidades. Nesse sentido, empreendedores encontraram nos jogos eletrônicos não apenas uma paixão, mas também uma fonte de sustento e de mudar realidades. A proposta desta série de reportagens é trazer narrativas de trajetórias de pessoas que transformaram o amor pelos games em negócios bem-sucedidos, unindo o espírito empreendedor ao desejo de abraçar um mercado rentável e cobiçado