Fabricante cearense de pás eólicas, a Aeris projetou ontem, 26, um prejuízo líquido ajustado de R$ 350 milhões a R$ 380 milhões para o primeiro trimestre de 2025, mantendo projeções desafiadoras após divulgar, nesta semana, resultados negativos em 2024.
A estimativa é que a receita líquida da empresa fique, em média, em R$ 750 milhões nos primeiros três meses deste ano. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês), negativo em R$ 25 milhões a R$ 35 milhões.
A queima de caixa da fabricante também deverá ficar na ordem dos R$ 210 milhões no período, enquanto o resultado financeiro é estimado em R$ 260 milhões negativos aproximadamente. Os dados, porém, não necessariamente se concretizarão.
“As projeções ora divulgadas foram elaboradas a partir de previsões sujeitas a riscos e incertezas correntes de mercado, tendo sido realizadas com base em crenças e premissas da administração da companhia, de acordo com as informações disponíveis”, disse.
Além disso, uma renegociação de dívidas com bancos e debenturistas – investidores que “emprestam dinheiro” em troca de juros – está em fase avançada de negociação, comunicou. Em janeiro, ela já havia conseguido um acordo para adiar em até 60 dias os pagamentos.
O diretor financeiro (CFO, em inglês) e de relações com investidores da Aeris, José Azevedo, relatou que a primeira ação da empresa com a queda da demanda foi iniciar a renegociação para adequar as principais dívidas ao fluxo de caixa, olhando para o futuro.
As informações chegam após a divulgação dos resultados da Aeris em 2024, que contou com um prejuízo líquido de R$ 934,1 milhões, 776,5% maior que 2023, em meio a desafios do setor eólico, que enfrenta demanda menor, concorrência maior e cortes na geração.
Os desafios devem permanecer em 2025 e 2026, com uma expectativa de melhora a partir de 2027, de acordo com os executivos da Aeris, os quais relataram que têm visto com bons olhos questões relacionadas a data centers e ao hidrogênio verde (H2V).
No entanto, não há perspectiva de que essas duas frentes possam levar a um novo “boom eólico” no setor, como ocorreu em 2020 a 2022. José, inclusive, reforçou a importância da isonomia, pois hoje a energia solar é uma forte concorrente da eólica.
A Aeris prevê retomada de volumes em 2027. Até lá, pelo menos em 2025, a contextualização do cenário não é favorável, segundo o especialista em investimentos da GTF Capital, Artur Horta. “Muito provavelmente, ficará pior”, disse. “É muito difícil projetarmos algum lucro para 2025.”
“A empresa deve registrar um novo prejuízo, consumir mais caixa e enfrentar dificuldades ainda maiores para pagar suas dívidas. Assim, ela não terá outra opção a não ser renegociar essas dívidas ou solicitar recuperação judicial”, acrescentou Artur.
A Aeris acredita que a relação com os clientes permanece boa, mesmo tendo perdas de contratos nos últimos tempos. Esses negócios foram encerrados puramente por uma questão de demanda e, quando esta retornar, a empresa está otimista de continuar no radar.
Com o foco de fomentar o Ebitda, a empresa deve, ainda, olhar para as exportações. Hoje os Estados Unidos (EUA) são o principal mercado de crescimento. Porém, também mantém conversas com outros países da América Latina, como Argentina, Guatemala e México.
A fabricante tem trabalhado junto a outras entidades para buscar apoio ao setor eólico, incluindo a bancos de fomento. E não descarta a troca de dívidas mais caras por mais baratas se houver boas oportunidades de financiamento, citando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Com ações negociadas na bolsa de valores brasileira (B3), os papéis da companhia (AERI3) ficaram voláteis no pregão de ontem, alcançando uma das maiores altas do dia, com avanço superior a 8%. No fechamento, houve alta/queda de x%, a R$.
"As expectativas já eram muito baixas e todo mundo se posicionou antes do evento – no caso, o balanço –, apostando na queda das ações. Quando saiu o evento, confirmando a expectativa, realmente um balanço muito fraco, os investidores compraram suas posições vendidas causando esse fluxo de alta", avaliou Artur.
Análise
A Aeris prevê retomada de volumes em 2027. Até lá, pelo menos em 2025, a contextualização do cenário não é favorável, segundo o especialista em investimentos da GTF Capital, Artur Horta