A Companhia de Gás do Ceará (Cegás) está avançando na expansão do uso do gás natural para o transporte de cargas no Estado e mira também o transporte público.
A empresa já opera no chamado “corredor sustentável” da BR-101, que liga sete estados do Nordeste, e está construindo um segundo corredor pela BR-116, rota de escoamento de cargas, especialmente da fruticultura, em direção ao Porto do Pecém. Além disso, negocia com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) um projeto-piloto para testar ônibus urbanos movidos a gás.
“Estamos começando a quebrar essas barreiras. Hoje, por exemplo, estamos desenvolvendo um projeto com a Etufor, voltado ao transporte público urbano de passageiros utilizando gás natural”, afirmou Miguel Nery, presidente da Cegás, em entrevista durante o evento sobre soluções energéticas sustentáveis realizado na sede da empresa, em Fortaleza.
Segundo ele, as conversas já envolvem o presidente da Etufor, George Dantas Paiva, e o diretor técnico do órgão, Jardson Cruz, para avaliar a viabilidade técnica e econômica da proposta antes de levá-la ao Sindiônibus, à Prefeitura e ao Governo do Estado. A referência vem de fora: “Em Bogotá, a frota urbana é praticamente toda a gás — são cerca de 1.200 ônibus. Isso mostra que é viável”, reforça.
Se no transporte público as discussões estão no início, no setor de cargas a operação já é realidade. “A solução para o transporte de carga é diferente porque depende das rotas de maior movimentação”, explicou Gustav Costa, diretor técnico e comercial da Cegás.
Na BR-101, o corredor sustentável já está ativo e a empresa trabalha na instalação de bicos de alta vazão para abastecimento mais rápido de veículos pesados. Na BR-116, a construção do segundo corredor sustentável atende uma demanda crescente da logística regional.
“A BR-116 tem grande movimentação de cargas do interior da Bahia até o Ceará. Estamos trabalhando com os demais estados do Nordeste para consolidar esse corredor, especialmente para atender o escoamento de produtos como frutas, além da indústria e comércio”, pontua Gustav.
Além do transporte de passageiros e de cargas, a Cegás também mantém diálogo com a Secretaria da Segurança Pública e a Secretaria da Saúde para avaliar o uso do gás em viaturas e ambulâncias. Há, ainda, uma frente de estudo com o Metrofor para possível conversão das locomotivas para operação a gás natural.
De acordo com a Cegás, o uso do GNV oferece redução significativa de poluentes. “Você tem uma emissão de carbono muito menor, 90% menos material particulado e menos emissões de óxidos de nitrogênio, se comparado ao diesel e à gasolina”, explica Gustav.
O gás distribuído no Ceará tem atualmente entre 14% e 15% de biometano na composição, proveniente da decomposição de resíduos do aterro sanitário de Caucaia.
A empresa atende hoje 14 municípios — 11 com rede canalizada e 3 com gás natural comprimido (GNC) —, possui mais de 720 km de rede e cerca de 60 postos que atendem GNV em Fortaleza e Região Metropolitana.
A expectativa é crescer em regiões como Cariri, Sobral e Jaguaribana. “Temos uma previsão de investimento de R$ 47 milhões para este ano, dentro de uma média anual que varia entre R$ 47 e R$ 50 milhões”, afirma o diretor.
A Cegás também se movimenta para diversificar sua matriz energética. Segundo Miguel Nery, a empresa desenvolve, junto com a Universidade Federal do Ceará (UFC), um projeto conceitual para produção de hidrogênio verde no Estado. “Estamos na fase inicial de discussão com uma empresa parceira. A UFC já nos apresentou o projeto conceitual e agora vamos avaliar a viabilidade técnica e econômica da proposta”, disse.
Na avaliação da companhia, a abertura do mercado de gás no Ceará — que permite a entrada de novos fornecedores — é vista como uma oportunidade. A Cegás busca, inclusive, discutir com o governo a criação de políticas tributárias mais competitivas para atrair empresas e fomentar a industrialização do estado.
“Queremos ampliar a industrialização, seja com empresas que já usam gás, que possam migrar para o GNV, ou novas que queiram se instalar no Ceará justamente pelo diferencial competitivo do nosso gás”, conclui Gustav Costa.