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Data center de R$ 50 bilhões no Ceará recebe aval para se ligar à rede de energia
Economia

Data center de R$ 50 bilhões no Ceará recebe aval para se ligar à rede de energia

|Aneel|O limite para que o empreendimento da Casa dos Ventos se ligue à rede básica de energia do País vai até o dia 31 de dezembro de 2033
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FACHADA de um dos dois prédios que vão compor o projeto de data center da Casa dos Ventos no Pecém (Foto: Memorial Descritivo de Arquitetura, LZA, 2024/Casa dos Ventos)
Foto: Memorial Descritivo de Arquitetura, LZA, 2024/Casa dos Ventos FACHADA de um dos dois prédios que vão compor o projeto de data center da Casa dos Ventos no Pecém

A segunda unidade do projeto da Casa dos Ventos S.A. no Ceará, o Data Center Pecém II, que faz parte do aporte de R$ 50 bilhões, avançou uma etapa para poder funcionar, com o aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para acessar a rede básica de energia do País. 

O despacho da Aneel foi publicado no Diário Oficial da União no dia 26 de junho e detalha os pontos de conexão e infraestruturas envolvidas para o acesso ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

A permissão é para ligar a linha de transmissão (LT) 500 kV Pecém II - Pacatuba, de propriedade do Sistema de Transmissão Nordeste S.A (STN), à futura subestação (SE) Pecém III. 

A publicação também estabelece as obrigações da empresa, como responsabilidades de projeto, execução, fiscalização e cumprimento de contratos e normativas ambientais.

Ainda especifica as condições sob as quais a autorização pode ser revogada, incluindo o não cumprimento de regras ou a falta de efetivação do acesso até uma data limite.

Marília Brilhante, diretora da Energo Soluções em Energias, explica que a única questão é que, apesar de o projeto poder chegar a 576 megawatts (MW) no futuro, neste primeiro momento, a conexão permitida ainda é de 300 MW. 

Mas para isso é preciso fazer reforços na infraestrutura de energia para realizar essa conexão do equipamento que ficará instalado na Zona de Processamento de Exportação (ZPE), que fica no Complexo Industrial e Portuário do Pecém.

"Depois que eles iniciarem as obras de reforço, quando tiverem prontas e os testes tiverem sido feitos, eles assinam com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) como autoprodutores, provavelmente, ou vão comprar energia do mercado livre. Aí é que vão poder se conectar de fato e passar a operar", complementou a especialista.

Em relação ao data center, vale lembrar que o Operador Nacional do Sistema (ONS) deu parecer favorável para essa integração à rede básica de energia elétrica no Nordeste, em maio deste ano.

A linha do tempo também demarca que, em 2 de janeiro deste ano, o equipamento, que terá dois prédios, recebeu o aceite para a outra unidade chamada Data Center Pecém.

Esta foi autorizada para linha de transmissão em 230 kV, com aproximadamente 6,8 km de extensão, para se conectar à a Subestação Data Center Pecém, de propriedade da Casa dos Ventos, à Subestação Pecém II, de propriedade da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), em Caucaia.

O POVO procurou o Governo do Ceará e a Casa dos Ventos sobre o avanço do projeto, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Infraestrutura: como o data center vai se ligar

Para o Data Center Pecém II se ligar ao sistema nacional, será preciso seccionamento da linha de transmissão (LT) 500 kV Pecém II – Pacatuba. 

Este é um empreendimento de alta tensão, que faz parte do sistema de transmissão de energia elétrica que interliga a subestação Pecém II à subestação Pacatuba.

Foi criada após um entroncamento da subestação Pacatuba, resultando na divisão da linha original em duas novas: Fortaleza II – Pacatuba e Pecém II – Pacatuba.

A ideia da separação foi otimizar o fluxo de energia e ampliar a infraestrutura elétrica da região. Em suma, a LT 500 kV Pecém II – Pacatuba, juntamente com outras linhas e subestações, aumenta a capacidade de transmissão de energia e reduz a possibilidade do “curtailment” no Nordeste.

Na tradução para o português, o processo é quando há corte da geração de energia, sobretudo quando usinas de fontes renováveis, como solar e eólica, produzem acima da capacidade que a rede de energia elétrica brasileira pode aguentar. 

Justamente o caso que aconteceu em 2023, quando teve apagão no Brasil, sendo apontada uma falha no sistema de transmissão por excedente de energia renovável gerada. Ou seja, este aval ao data center teve de avaliar o critério de não sobrecarregar a rede nacional.

Portanto, para ter a ligação de energia, o data center contará com dois meios. Uma é divisão da subestação já existente, que ocorrerá na futura Subestação (SE) Pecém III. O local está a aproximadamente 6,89 km da SE Pecém II e a 60,3 km da SE Pacatuba.

Este trecho de linha de transmissão em 500 kV (alta tensão) terá circuito duplo, com cerca de 3,5 km de extensão, localizado no município de Caucaia.

Outro será a LT 500 kV de circuito simples. Terá cerca de 1 km de extensão e interligará a subestação da unidade consumidora Data Center Pecém II, à nova subestação Pecém III.

Sobre a SE Pecém III, Marília Brilhante, diretora da Energo Soluções em Energias, frisa que está ainda em fase de planejamento para poder conectar os futuros data centers.

"Ela precisa do investimento dos investidores para acontecer. Então é um risco maior a parte da conexão estar nela, porque se ela não for construída, a partir desse investimento, que não vai ser só da Casa dos Ventos para o data center, eles não terão onde se conectar."

A especialista acrescentou que a SE Pecém II já existente vai ter que ser reforçada para conseguir conectar a primeira fase dos 300 MW do empreendimento. "A maior parte (do projeto) seria em Pecém III, mas corre esse risco."

Data center Casa dos Ventos: obrigações da empresa

Dentre as condições e obrigações impostas à Casa dos Ventos pela Aneel, está a responsabilidade técnica de arcar pelo projeto e execução perante o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea).

Também terá de assumir eventuais danos que as instalações de transmissão de energia elétrica possam causar a terceiros em decorrência de sua construção, inspeção, manutenção e operação.

A empresa ainda terá de se submeter à fiscalização da Aneel, permitindo a seus servidores ou prepostos livre acesso às instalações compreendidas nesta autorização, a qualquer tempo.

Fica obrigada a atender às determinações emanadas das leis e dos regulamentos administrativos estabelecidos pelos órgãos ambientais aplicáveis ao empreendimento.

Além disso, deve cumprir os procedimentos previstos nas normas e regulamentos que disciplinam a construção, a operação e a manutenção de instalações de transmissão da rede básica do SIN.

Em relação a contratos de uso e conexão, a agência determina que a Casa dos Ventos deve cumprir integralmente o Contrato de Uso do Sistema de Transmissão (Cust) e o Contrato de Conexão ao Sistema de Transmissão (CCT) a partir das respectivas assinaturas.

A Aneel frisa que a eventual postergação da entrada em operação das instalações autorizadas não exime a companhia da obrigação de honrar os compromissos estipulados a partir da data de vigência dos referidos contratos.

Motivos de revogação da autorização ao data center da Casa dos Ventos

Há ainda condições em que a autorização pode ser revogada. É o caso do descumprimento das obrigações acima.

Mas também pode-se perder o aval caso seja ultrapassada a data de 31 de dezembro de 2033 para o acesso à rede básica com a efetiva energização das instalações.

Por fim, a revogação poderia se dar a pedido da própria Casa dos Ventos.

É importante ressaltar que a eventual postergação da entrada em operação das instalações autorizadas não a exime da obrigação de cumprir os compromissos estipulados a partir da data de vigência dos contratos.

Conheça o projeto do Data Center Pecém 

O POVO obteve, com exclusividade, o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) apresentado pela Casa dos Ventos à Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Veja os principais pontos do documento:

  • Consumo de água para resfriamento: A opção tecnológica adotada para o sistema de climatização é o ciclo fechado com chillers a ar, que praticamente elimina o consumo de água durante a operação, reduzindo o consumo diário para apenas 18 m³, uma redução drástica de aproximadamente 95% em comparação com o ciclo aberto. Esta escolha, segundo a empresa, reflete o compromisso com o uso racional de recursos naturais, especialmente em regiões com disponibilidade hídrica limitada como o Ceará. 
  • Consumo de energia na operação: O consumo de energia previsto para o projeto do Data Center é de 210 MW em média, o que representa 70% da capacidade total disponível (300 MW). O consumo diário de energia previsto é de 5.040 MWh para a operação. O documento reitera que toda a energia utilizada para o projeto será de fonte renovável.
  • Geração de empregos: O projeto do Data Center Pecém deve gerar 13 mil empregos diretos na fase de obras. Já na operação é esperado que sejam contratados quase 3 mil funcionários, a maior parte especializados no setor de tecnologia.
    Fonte: Relatório Ambiental Simplificado (RAS) Data Center Pecém

Como será feito o resfriamento do data center

Para garantir o resfriamento, estão previstos 36 Fanwalls, que são grandes equipamentos de ar-condicionado de alta potência e precisão de 322,19 kW por Data Hall, que são alimentados por uma rede de água gelada.

A água gelada da rede do Data Hall é resfriada por um sistema que inclui entre outros componentes 12 Chillers a ar de 1466,58 kW que ficam na cobertura do prédio. Chillers são equipamentos que fazem parte do sistema de ar-condicionado e tem a função de reduzir a temperatura da água que circula nos Fanwalls.

Impactos ambientais mapeados

Total de 31 impactos mapeados

  • 10 impactos de meio físico
  • 9 impactos à fauna e flora
  • 12 impactos socioeconômicos

Total de 10 impactos são considerados significativos

  • 3 positivos: Dinamização do potencial econômico, mercado de trabalho, bens e serviços (fase de instalação); Aumento do potencial econômico local (Operação); e Desenvolvimento de setor especializado (Operação)
  • 7 negativos*: Criação de expectativas negativas, conflitos e insegurança (planejamento); Alteração dos níveis de pressão sonora e vibração (Instalação); Aumento no risco de acidentes (Instalação); Retração de emprego e renda (Instalação); Formação de áreas antropizadas sem resiliência (Instalação); Possibilidade de acidentes por colisão e eletrocussão de avifauna (Operação); Estímulo à migração de trabalhadores (Operação).
    *A maioria dos impactos negativos identificados são de natureza temporária e se concentram na fase de obras, diz o RAS

A grandiosidade do empreendimento

  1. Projeto inicial: Prevê a construção de dois prédios (DC 01 e DC 02), cada um com 100 MW de potência de TI, totalizando 200 MW. Com um fator PUE (Power Usage Effectiveness) de 1.5, a potência total para cada prédio é de 150 MW.
  2. Objetivo final: O projeto conceitual do complexo de Data Centers é de 200MW, dividido em dois prédios, totalizando 300 MW de potência total, com uma área para futuras expansões que poderia levar o complexo a alcançar 600 MW de TI com quatro prédios.
    Fonte: Relatório Ambiental Simplificado (RAS) Data Center Pecém

O desafio para a infraestrutura de transmissão de energia

  • Consumo atual de energia do estado do Ceará: 1,3 GW a 1,5 GW/ano
  • Atual patamar de consumo de energia elétrica juntando todos os data centers em operação no Brasil: 500 MW/ano
  • Projeção de demanda de energia dos projetos de Hidrogênio Verde que possuem pré-contrato com a ZPE: 10 GW/ano
  • Projeção de demanda de energia do data center da Casa dos Ventos na 1ª fase: 300 MW/ano
  • Projeção de demanda de energia do data center da Casa dos Ventos em sua plenitude: 876 MW/ano
    Fonte: SDE/Governo do Ceará/ZPE/Casa dos Ventos

Demanda de água projetada para o data center

  • 1ª fase: 30 m³/dia (O volume é equivalente à demanda média de 72 residências do município de Caucaia - que possui um total de 160 mil unidades consumidoras - ou seja, representaria aproximadamente 0,045% da demanda atual de água da cidade)
    Fonte: Casa dos Ventos/RAS

Veja também: AGU rebate Haddad e diz que governo Lula ainda não decidiu se vai recorrer ao STF por IOF

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