O Ministério da Cultura (MinC) articula o projeto “índice de maturidade de territórios” para a economia criativa, conforme a nova secretária de Economia Criativa do órgão e colunista do O POVO, Cláudia Leitão, em entrevista à Rádio O POVO CBN.
O objetivo é lançar um olhar econômico para o segmento, com foco também em exportação da cultura brasileira, que tem valor agregado mais alto.
“Nossa primeira e grande preocupação é deixarmos, no aspecto jurídico, como legado do governo Lula, uma política nacional da economia criativa: o Brasil Criativo. Essa política está desenhada, e vamos tentar levá-la para o Congresso”, disse ela, que assume a pasta criada pelo decreto nº 12.471/2025, de 28 de maio deste ano.
A reestruturação mira justamente a economia criativa como uma estratégia de qualificação do desenvolvimento social, econômico, ambiental, político e cultural do País.
No Brasil, segundo dados do Governo Federal, a área movimenta em torno de R$ 230 bilhões e emprega cerca de 7,8 milhões de pessoas nas mais de 130 mil empresas formalizadas, equivalendo a 7% do total dos trabalhadores da economia do País.
E um dos pontapés é tocar o programa na região do Cariri. A nova Secretaria assume fazendo esse mapeamento e tocando ainda o projeto lançado em junho do ano passado, em parceria com o Governo do Ceará.
Chamado de Kariri Criativo, ele tem por objetivo mobilizar, qualificar e integrar lideranças, organizações e atores da economia criativa da região, estimulando o alinhamento das demandas locais e a convergência das políticas públicas municipais, estaduais e federais.
A ênfase é no fortalecimento das dinâmicas econômicas de criação, produção, comercialização e consumo de bens e serviços criativos, em favor do desenvolvimento sustentável.
Para viabilizá-lo, o meio é por instrução normativa que amplia o alcance e as possibilidades de financiamento da cultura pela Lei Rouanet, e apoio, localmente, do Banco do Nordeste (BNB).
Serão nove municípios atendidos na Região e que também já entram no projeto de “índice de maturidade de territórios”.
Cláudia disse que mapeará as vocações culturais de cada local enxergando, por exemplo, se eles são de fomento de música, artesanato, design, audiovisual etc. Logo depois, a ideia é que seja expandido para outras cidades do Brasil.
A secretária argumenta que uma cidade criativa não é apenas aquela com um setor promissor, mas sim uma que promove democracia, cidadania e menor desigualdade. Por isso, a necessidade de mensurar o nível de desenvolvimento cultural e econômico de cada região.
“Eu não posso dizer que um território é criativo só porque tem criativos. Tem gente criativa no Brasil todo. Se todo mundo for, então ninguém é. Eu preciso dizer se um território é mais criativo que outro, com base em dados.”
Além disso, a secretária defende que é preciso romper com o modelo tradicional de fomento baseado em editais pontuais e sazonais.
“A gente imagina que tem que viver de edital. Mas o edital é sazonal. Alguns ganham, e a grande maioria fica de fora. Nós não podemos manter a cultura prisioneira nessa lógica”, pontua.
Nesse sentido, explica que o foco agora será nas dinâmicas: produção, distribuição, comercialização e consumo. “Para eu trabalhar e produzir cultura, eu preciso de um ecossistema. Não adianta ser um túmulo de um produto que não vende, que não tem forma de ser distribuído. O Cariri tá cheio disso.”
“Você vai ao Mestre Noza (Centro Mestre Noza Associação dos Artesãos de Juazeiro Do Norte), vê artesanato, gente jovem criando, mas aquilo não sai dali. Não tem quem consuma. Essa é a tragédia da cultura no território.”
Outro ponto ressaltado por Cláudia Leitão é o entendimento da cultura como parte integrante da economia. “A volta da Secretaria de Economia Criativa é para dizer que a cultura tem que falar de desenvolvimento, que ela tem a responsabilidade de qualificar o desenvolvimento brasileiro”, defende.
“Afinal, a gente vai ser só exportador de soja, de boi, de minério? Se a gente tem só isso no nosso cardápio, a gente tá perdendo o valor agregado… A gente precisa ampliar a nossa pauta de produto de exportação. E a marca Brasil Criativo pode ajudar nisso.”
Um dos levantamentos no País que mostram o cenário do segmento é o oitavo “Mapeamento da Indústria Criativa 2025”, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), publicado em junho deste ano, mas com dados ano base 2023, vindos da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), últimas informações oficiais disponibilizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
A análise evidencia que o Brasil tem 2,3% do setor ligados à indústria criativa. Já o Ceará apresenta 2,4%, sendo o sexto estado do País nesta base de comparação. São 2,8 mil estabelecimentos cearenses, significando que, de 100 empresas nacionais, três são do Ceará.
O estudo mostra que o Estado, portanto, lidera o Nordeste quando se olha para o movimento dos ativos anuais da indústria criativa, chegando a $ 9,1 bilhões. O montante impacta também no mercado de trabalho, que cresceu 6,1%.
Do número total de empregados (1.739.427) no Ceará, os que se encaixam na indústria criativa são 29.938. A área de consumo é a que tem mais, com 15.915, seguida de tecnologia (7.185), mídia (3.748) e cultura (3.090).
E dos segmentos, 7.103 são de Publicidade e Marketing, 3.676 são da Moda, 2.603 da Arquitetura e 2.533 do Design.
Ante 2022, a área de tecnologia saltou 4,2%, sobretudo em pesquisa e desenvolvimento, que avançou 6,7%. Em biotecnologia, a alta foi de 6,9%. Mas o mais expressivo foi o setor de mídia que chegou a 22,4%, impulsionado pela área Editorial, com 35,3% em um ano.