O acordo de livre comércio assinado entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) abre caminho para ampliação das exportações brasileiras e também baratear o custo de medicamentos importados. No Ceará, produtos como mel, rochas, calçados e preparação de produtos hortícolas podem ser favorecidos.
A EFTA é formada pela Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, países que não fazem parte da União Europeia (UE). Já o Mercosul reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, além da Bolívia que está na fase final do processo de adesão.
Pelo acordo, o livre comércio de produtos brasileiros - considerando os setores agrícolas e industrial - aos mercados da EFTA chegará a quase 99% do valor exportado. Já a EFTA eliminará 100% das tarifas de importação dos setores industrial e pesqueiro na entrada em vigor.
Nas contas do governo brasileiro, a partir deste acordo, será criada uma zona de livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e um PIB combinado de mais de US$ 4,3 trilhões.
Embora o potencial do acordo seja menor do que aquele que está em negociação com a União Europeia, cujo PIB é estimado em US$ 19 trilhões, na avaliação do especialista em comércio exterior, Augusto Fernandes, este é um passo interessante ao Brasil e ao Ceará.
"Apesar de a China e os Estados Unidos serem os dois maiores parceiros do Ceará e do Brasil, é a Europa que tem a maior diversificação e que atinge o maior número de empresas e pequenos negócios. Então, o Ceará é extremamente beneficiado", afirmou o especialista em entrevista ao Guia Econômico, da rádio O POVO CBN.
O Brasil, por exemplo, importou US$ 354 milhões em remédios e produtos farmacêuticos da Suíça nos primeiros cinco meses deste ano. Augusto vê também oportunidades para empresas farmacêuticas que hoje estão no Ceará. "Nossos medicamentos que hoje vão para o Mercosul, Paraguai, Uruguai, também podem ir para a Europa de um ponto de vista mais barato para o europeu, que justamente é o soro e a dipirona."
Dados do Observatório da Indústria do Ceará mostram que, em 2025, o Ceará exportou US$ 1,6 milhão para a Suíça, aumento de 23,7% ante igual período do ano passado. Destaque para produtos como obras de pedra e gesso; preparação de produtos hortícolas; calçados e vestuário. De lá, comprou US$ 2,5 milhões, principalmente, produtos da cadeia de combustíveis minerais; plásticos e suas obras; e reatores nucleares, caldeiras e máquinas.
Já com a Noruega, o Ceará vende, principalmente, calçados, combustíveis minerais e produtos hortícolas, e importa itens plásticos, peixes e itens de ferro fundido, ferro e aço.
Mas, na opinião de Augusto Fernandes, há ainda uma diversidade de outros produtos que podem ganhar maior tração a partir da redução de impostos e entraves burocráticos. "Nós mandamos mel para Europa, rochas, frutas e cera de carnaúba e há muito espaço a crescer."
Nacionalmente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) vê novas oportunidades para produtos agrícolas como carnes bovina, de aves e suína, milho, farelo de soja, melaço de cana, mel, café torrado, álcool etílico, e diversas frutas e sucos.
O diretor da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, fundador da Agrícola Famosa, uma das principais exportadoras de melões no Estado, avalia como positiva a abertura comercial entre os blocos, mas, para a fruticultura cearense, o momento mais aguardado é o do acordo com a União Europeia. "O que a gente exporta para esses quatro países ainda é muito pouco, mas o acordo já é alguma coisa. Agora o que realmente é interessante para gente é o acordo do Mercosul com a União Europeia."
Na prática, o impacto não é no curto prazo. A conclusão das negociações ainda precisa passar por uma série trâmites como a conclusão da revisão legal e, em seguida, aprovações internas.
O governo brasileiro estima um impacto positivo de R$ 2,69 bilhões sobre o PIB e um aumento de R$ 660 milhões no investimento para o ano de 2044, além de redução nos níveis de preços ao consumidor e aumento nos salários reais.