As incertezas causadas pela ameaça de Donald Trump em taxar os produtos brasileiros que chegam aos Estados Unidos em 50%, a partir de 1º de agosto, já impactaram em mais de 70 contêineres parados no Brasil, incluindo os portos do Pecém (Ceará), Suape (Pernambuco) e Salvador (Bahia).
Empresas dos mercados de mel, cera, rochas, vestuário e calçados do Ceará já contabilizam 15 contêineres parados no Porto do Pecém, para esta semana, conforme Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, empresa de despacho aduaneiro e frete internacional.
Já a Associação Brasileira da Indústria de Pescados (Abipesca) fala em 60 equipamentos no País devido ao encerramento de contratos por parte de companhias norte-americanas. Este total seria equivalente a mil toneladas de pescados.
Augusto Fernandes explica que, embora o tempo de distância daqui para os Estados Unidos seja de seis dias e haja dois navios saindo por semana, se a carga for embarcar daqui a 10 ou 20 dias, o tempo logístico e de desembaraço dos trâmites aduaneiros pode fazer com que as cargas cheguem no dia 1º de agosto, dia imposto por Trump para iniciar a tarifação dos produtos brasileiros.
“A cautela manda aguardar, por que e se aumentar em 50% o custo? O importador lá vai pagar 50% sem a menor necessidade? Ninguém quer arriscar. Estão aguardando se a medida vai entrar ou não. Se o navio embarcar daqui a 10 dias, pode ser que não dê tempo. Em Long Beach, que é o maior porto da costa Oeste, a fila de navios é imensa”, acrescentou.
O tempo de aluguel de contêiner parado (demurrage) é outro risco levantado por Augusto. Após o tempo gratuito de cinco a dez dias, as diárias vão de 150 a 280. Se for refrigerado o equipamento, o valor sobe pouco mais de 50%.
Há ainda o preço de armazenagem, citada pelo empresário como a mais barata do Nordeste e uma das mais do Brasil. Este ocorre por unidade e a cada 10 dias. "Esses são os custos diretos que o importador já tem de cara. Fora o custo da venda, dos estoques e de outros fatores."
Eduardo Lobo, presidente da Abipesca, reforçou, em comunicado ao mercado, que as exportações de pescados pararam no País após o anúncio do aumento de 50% nos impostos pelo governo norte-americano sobre os produtos brasileiros. Acrescentou que quer pelo menos mais 90 dias de previsão para que essa taxa entre em vigor.
Conforme o balanço da associação, atualmente, o mercado norte-americano representa 70% das exportações brasileiras de pescados e mais de US$ 240 milhões de dólares, envolvendo milhares de empregos diretos e indiretos, inclusive afetando pescadores artesanais e a aquicultura familiar.
Para Eduardo, o governo brasileiro deve priorizar a abertura do mercado europeu como alternativa às exportações de pescados. “A morosidade dessa tratativa, em momentos como este, demonstra a importância de reduzir a dependência de mercados específicos para o pescado brasileiro”, frisou.
No entanto, o gestor diz que a Abipesca solicita que o governo brasileiro adote uma abordagem cautelosa e diplomática para resolver essa questão, evitando confrontos ou medidas retaliatórias que agravem a situação.”
No Ceará, há apreensão do setor exportador de pescados. "Obviamente que a taxação indicada vai reverter para os preços possíveis de venda, e refletir, possivelmente, inviabilizando a atividade desde a origem à produção primária", revela Cadu Villaça, presidente do Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe) e diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), ligado à Federação das Indústrias do Estado (Fiec), sem citar números de impactos.
"Temos acompanhado atentamente, acreditando no entendimento e na diplomacia. Está claro a desproporcionalidade das economias e consequentemente dos impactos que medidas como estas teriam em um ou em outro mercado. Indicamos pelo equilíbrio e principalmente atenção às indústrias e cadeias produtivas nacionais", complementou.
Dentre os setores no Estado, a maioria escolhe esperar e ter cautela para anúncios oficiais. O segmento de frutas, por exemplo, ainda se prepara. Por enquanto o impacto não é visto, pois o período de safra ainda não chegou. "A partir do começo de agosto nós teremos embarque já de manga, mas, neste momento, não temos o problema do pescado que está com contêiner parado", disse Luiz Roberto Barcelos, cofundador da Agrícola Famosa, maior exportadora de melão do Brasil.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran), Carlos Rubens Alencar, não vê grande peso da ameaça de Trump no segmento cearense. Ele explica que mais de 70% das vendas estaduais para fora são em rochas no formato de blocos e os principais mercados são Itália e China. Isso acontece porque os EUA preferem comprar os produtos já industrializados.
“Tem 20%, talvez nem chegue a 30% do nosso mercado, que é material que vai para os Estados Unidos. Isso que vai para lá já está paralisado. Os clientes americanos já mandaram informar que tem que aguardar o que vai acontecer concretamente.”
Para Carlos Rubens, é preciso ter cautela, pois ainda não existe documento legal detalhando como a taxação vai ocorrer. “O que temos? Uma afirmação genérica. Uma carta que nem carta foi, que colocou no site.”
“Aproximadamente 60% a 70% de tudo o que o Brasil exporta de rochas ornamentais é com os Estados Unidos. Em valor, isso corresponde a mais ou menos US$ 800 milhões. Enquanto o Ceará exporta, por ano, US$ 10 milhões, nacionalmente, o setor exporta US$ 800 milhões”, explicou o presidente do Simagran.
Em relação a isso, a Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) manifestou preocupação. “A medida representa um sinal de alerta para o equilíbrio das relações comerciais entre os dois países e atinge diretamente o setor de rochas naturais, cuja pauta exportadora tem nos Estados Unidos seu principal destino.”
Para se ter ideia, em 2024, o mercado norte-americano respondeu por 56,3% das exportações brasileiras do setor, totalizando US$ 711,1 milhões. Desse montante, o Espírito Santo concentrou 82,3%, com US$ 672,4 milhões destinados aos Estados Unidos.
Conforme a entidade, a nova alíquota coloca o Brasil em desvantagem competitiva frente a outros fornecedores internacionais, como Itália, Turquia, Índia e China, que enfrentarão tarifas inferiores, ameaçando o desempenho de mais de 200 empresas exportadoras brasileiras e comprometendo uma cadeia produtiva que gera cerca de 480 mil empregos diretos e indiretos no País.
Procurada, a AP Moller - Maersk, que opera navios com contêineres no Pecém e em outros portos brasileiros, afirmou que ainda é cedo para dizer como os anúncios mais recentes de tarifas afetarão os padrões comerciais a longo prazo. A empresa adotou a posição de acompanhar os clientes.
O POVO procurou a Companhia do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp S.A). Em nota, a empresa informou que, até o momento, não houve solicitação formal de alteração no cronograma da carga de pescados mencionada.
"O Porto apenas é informado oficialmente quando há decisão de manter uma carga em pátio por tempo superior ao previsto, o que, neste caso, ainda não ocorreu."
A Companhia Docas, administradora do porto Federal que fica em Fortaleza, no Mucuripe, informou não haver registro de contêineres ou navios afetados.
Por fim, a Secretaria da Pesca e Aquicultura do Estado foi procurada para saber como acompanham os impactos já levantados da ameaça de Trump. Ainda não houve retorno.
Setores produtivos pedem cautela nas negociações
Dentre os setores no Estado, a maioria escolhe esperar e ter cautela para anúncios oficiais. O segmento de frutas, por exemplo, ainda se prepara. Por enquanto o impacto não é visto, pois o período de safra ainda não chegou.
"A partir do começo de agosto nós teremos embarque já de manga, mas, neste momento, não temos o problema do pescado que está com contêiner parado", disse Luiz Roberto Barcelos, cofundador da Agrícola Famosa, maior exportadora de melão do Brasil.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran), Carlos Rubens Alencar, não vê grande peso da ameaça de Trump no segmento cearense. Ele explica que mais de 70% das vendas estaduais para fora são em rochas no formato de blocos e os principais mercados são Itália e China. Isso acontece porque os EUA preferem comprar os produtos já industrializados.
"Tem 20%, talvez nem chegue a 30% do nosso mercado, que é material que vai para os Estados Unidos. Isso que vai para lá já está paralisado. Os clientes americanos já mandaram informar que tem que aguardar o que vai acontecer concretamente."
Para Carlos Rubens, é preciso ter cautela, pois ainda não existe documento legal detalhando como a taxação vai ocorrer. "O que temos? Uma afirmação genérica. Uma carta que nem carta foi, que colocou no site."
O impacto nas operações do setor como um todo, no entanto, é grande. "Aproximadamente 60% a 70% de tudo o que o Brasil exporta de rochas ornamentais é com os Estados Unidos. Em valor, isso corresponde a mais ou menos US$ 800 milhões. Enquanto o Ceará exporta, por ano, US$ 10 milhões, nacionalmente, o setor exporta US$ 800 milhões", explicou o presidente do Simagran.
Em relação a isso, a Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) manifestou preocupação. "A medida representa um sinal de alerta para o equilíbrio das relações comerciais entre os dois países e atinge diretamente o setor de rochas naturais, cuja pauta exportadora tem nos Estados Unidos seu principal destino."
Conforme a entidade, a nova alíquota coloca o Brasil em desvantagem competitiva frente a outros fornecedores internacionais, como Itália, Turquia, Índia e China, que enfrentarão tarifas inferiores, ameaçando o desempenho de mais de 200 empresas exportadoras.
Procurada, a AP Moller - Maersk, que opera navios com contêineres no Pecém e em outros portos brasileiros, afirmou que ainda é cedo para dizer como os anúncios mais recentes de tarifas afetarão os padrões comerciais a longo prazo. A empresa adotou a posição de acompanhar os clientes.
O POVO procurou a Companhia do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp S.A). Em nota, a empresa informou que, até o momento, não houve solicitação formal de alteração no cronograma da carga de pescados mencionada.
"O Porto apenas é informado oficialmente quando há decisão de manter uma carga em pátio por tempo superior ao previsto, o que, neste caso, ainda não ocorreu."
China critica tarifaço contra o Brasil e acusa EUA de intimidação
O Ministério das Relações Exteriores da China criticou ontem a tarifa de importação de 50% a produtos brasileiros anunciada esta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"A igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta das Nações Unidas e normas básicas nas relações internacionais", disse a porta-voz do ministério, Mao Ning, ao ser questionada por uma repórter sobre o que achava da tarifa de 50% a produtos brasileiros anunciada por Trump.
"As tarifas não devem ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência", concluiu Mao Ning.
No início da semana, quando Trump deu início ao envio das cartas aos parceiros comerciais com as ameaças de aumento de tarifas, Mao Ning já havia criticado o protecionismo norte-americano. "A posição da China sobre as tarifas é consistente e clara. Não há vencedores em uma guerra comercial ou tarifária. O protecionismo prejudica os interesses de todos", afirmou. (Agência Brasil)