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Governo do Ceará reúne setor produtivo para debater tarifas de Trump
Economia

Governo do Ceará reúne setor produtivo para debater tarifas de Trump

|Tarifaço|Ameaça da taxação de 50% está prevista para iniciar no dia 1º de agosto. Empresários pedem interlocução junto ao governo federal para reforçar canal de negociação com os EUA
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ELMANO reúne setor produtivo para mapear impactos da taxação no Ceará (Foto: Hiane Braun/ Governo do Ceará)
Foto: Hiane Braun/ Governo do Ceará ELMANO reúne setor produtivo para mapear impactos da taxação no Ceará

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), reuniu nesta segunda-feira, 14, representantes dos setores produtivos para mensurar impactos caso a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros seja implementada a partir de 1º de agosto. 

A ideia é mapear os segmentos mais impactados no Estado e traçar estratégias para redução de danos. Os empresários também pleitearam uma interlocução junto ao Governo Federal no sentido de reforçar o canal de negociação com o governo americano para redução de tarifas.

Os EUA são hoje o principal parceiro comercial do Ceará. De acordo com dados do Observatório da Indústria do Ceará, somente neste ano, mais de US$ 366,8 milhões em produtos cearenses foram exportados ao país. O número representa 47,61% do volume total de exportações. 

Dentre os principais produtos exportados estão: aço (US$ 262,3 milhões); peixes (US$ 19,1 milhões) e calçados (US$ 13,9 milhões).

"Estive reunido com representantes do setor produtivo cearense conversando sobre os impactos das novas taxas dos EUA sobre os produtos brasileiros. Seguiremos trabalhando juntos, Governo e setor privado, dialogando sobre medida para proteger a nossa cadeia produtiva, manter a competitividade das empresas do Ceará no mercado internacional e garantir os empregos gerados para os cearenses", afirmou Elmano.

No último sábado, ele já havia falado sobre a possibilidade de a produção estadual se voltar para outros mercados internacionais, na hipótese de haver dificuldade de exportação para os Estados Unidos. A ideia dele é se antecipar, encontrando alternativas de comercialização antes mesmo de qualquer aumento da taxação.

Da reunião, também participaram o presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante; o presidente da Federação da Agricultura do Ceará (Faec), Amílcar Silveira; e empresários de segmentos importantes da pauta exportadora cearense como Guilherme Lima Assis (Usibras, produtora de castanhas); Carlos Rubens Alencar (Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará - Simagran); Marcelo Alexandre Rodrigues (Aeris Energy); Erick Torres (ArcelorMittal Pecém); e Felipe Gurgel (Durametal).  

Impacto no Agronegócio

O presidente da Faec, Amílcar Silveira, disse que o agronegócio está extremamente preocupado com a elevação de tarifas. Ele explica que, atualmente, 32% do que é exportado pelo setor no Estado vai para os EUA. Destaque para produtos como a água de coco, pescado, ceras de carnaúba e mel. 

"É péssimo para o Brasil, mas é ainda mais para o Ceará, considerando que é o nosso principal parceiro comercial", afirmou.

Também ponderou que não há qualquer justificativa econômica para uma elevação como essa. "Não é razoável isso, demorei a acreditar porque é algo que não tem o menor sentido, mas é o que está posto e é preciso ter muita calma neste momento, serenar os ânimos, e negociar".

Ele diz que dentre os pleitos levados ao governador está, justamente, o pedido para que o Estado atue junto ao governo federal para não ocorrerem retaliações tarifárias. Isso porque, além do volume exportado, o mercado americano é importante para o agronegócio cearense por pagar bem pelos produtos. 

"É um mercado seleto que paga e remunera bem nossos produtos. É indispensável que o Itamaraty tente chegar a um acordo". 

Na reunião, ele também apresentou os planos de abertura de novos mercados que já estavam em andamento pelo setor. A expectativa é ampliar o volume de exportações do agronegócio de US$ 500 milhões para US$ 1 bilhão em cinco anos. Além dos EUA, estão no radar das empresas cearenses os países do Oriente Médio, da Ásia e da Europa.

E uma das estratégias é a diversificação de produtos. "Para que focar no milho, se podemos plantar mirtilo? O nosso foco é ampliar a produção de itens de maior valor agregado nos perímetros irrigados."

O POVO procurou também a Fiec, mas a entidade não se manifestou até a publicação desta matéria. 

Reflexo na arrecadação

Pela manhã, o secretário da Fazenda, Fabrízio Gomes, falou que embora não haja impacto imediato no ICMS porque as exportações são isentas, as tarifas podem desestruturar as cadeias produtivas. "E aí a gente tem que analisar direitinho qual é o impacto, em um segundo momento, nos preços, na economia. Porque, por exemplo, se o Governo Federal resolver fazer uma taxação também dos produtos importados, isso impacta em preço interno. Então a gente tem que verificar.”

Além disso, ressaltou que já solicitou estudos econômicos para avaliar as consequências e a reunião servirá para entender as alternativas que o Ceará pode ter, até mesmo para levar ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

“Também é um impacto forte para a economia americana. É uma medida que prejudica eles também, porque boa parte do aço, boa parte do pescado vai daqui para lá. Então, os preços internos nos Estados Unidos também vão aumentar e pode desestruturar e causar desemprego […] É ter calma, dialogar, para ver qual é o melhor caminho”, disse ele após o debate no Hotel Sonata, no encontro da manhã desta segunda-feira.

 

Colaborou Fabiana Melo

Entenda os impactos de uma eventual taxação dos EUA por parte do Brasil | O POVO News

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São Gonçalo do Amarante, CE, BR -14.04.23  - Movimentação de cargas no Porto do Pecém (Fco Fontenele/OPOVO)
São Gonçalo do Amarante, CE, BR -14.04.23 - Movimentação de cargas no Porto do Pecém (Fco Fontenele/OPOVO)

Embarque de 20 toneladas de mel para os EUA foi suspenso

Pelo menos cinco embarques com destino aos Estados Unidos foram cancelados na manhã desta segunda-feira, 13, no Porto do Pecém, no Ceará. A suspensão, motivada pela ameaça de novas tarifas sobre produtos brasileiros anunciada pelo governo norte-americano, afeta diretamente microprodutores locais — especialmente os envolvidos na cadeia do mel.

Dos cinco embarques cancelados, quatro eram de mel e um de pedra. A situação já é considerada “caótica” por empresários do setor, que relatam prejuízos financeiros e insegurança sobre os próximos passos. Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, empresa de despacho aduaneiro e frete internacional, afirmou ao O POVO que os cancelamentos impactam cargas de cerca de 20 toneladas de mel, com valor estimado em 70 mil dólares.

Ele conta que clientes relataram que tiveram que cancelar o embarque das cargas que seriam enviadas esta semana por conta das possíveis tarifas que serão impostas ao Brasil pelos EUA. 

As cooperativas envolvidas na exportação de mel funcionam como centros de processamento e comercialização. Elas não produzem diretamente, mas recebem o mel de pequenos produtores, industrializam, embalam e negociam as vendas ao mercado externo. O resultado financeiro das operações é então redistribuído entre os cooperados.

Com a suspensão de embarques, os mais afetados são os pequenos produtores, que dependem da fluidez das exportações para garantir renda. “Recebo mensagens todos os dias de gente desesperada”, contou o empresário.

Apesar do cenário de alerta, o Porto do Pecém informou, por nota, que segue operando normalmente. A autoridade portuária não recebeu, até o momento, nenhum pedido formal de alteração nos cronogramas logísticos, inclusive em relação às cargas de pescados mencionadas por fontes do setor.

“O Porto apenas é informado oficialmente quando há decisão de manter uma carga em pátio por tempo superior ao previsto, o que, neste caso, ainda não ocorreu. O Porto do Pecém segue operando normalmente para garantir a fluidez e segurança das operações logísticas”, informou a administração.

Na última sexta-feira, um embarque de pedra foi realizado às pressas na tentativa de garantir que a carga chegasse aos EUA antes da possível aplicação da tarifa, prevista para entrar em vigor no dia 29 de julho.

A possível imposição tarifária tem origem em medidas unilaterais do governo norte-americano e, se confirmada, pode afetar diversos setores da exportação brasileira, com impacto significativo em estados como o Ceará. Representantes de cooperativas de mel aguardam uma definição do governo federal e de compradores estrangeiros para saber se novos embarques serão retomados ou suspensos por tempo indeterminado.

O POVO entrou em contato com a Casa Apis, cooperativa responsável pela produção e exportação de mel no Piauí, mas que exporta pelo Pecém, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

Tarifaço de Trump pode impactar produção e exportação laranjas no Brasil | O POVO News

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