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Até 9 mil empregos estão em risco no Ceará com tarifaço de Trump
Economia

Até 9 mil empregos estão em risco no Ceará com tarifaço de Trump

| Se não houver acordo | Setor de pescados pode ser o mais impactado no curto prazo em relação aos empregos. Ontem, comitiva liderada por Elmano esteve reunida com Alckmin
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29-07-2025 Vice Presidente da República Geraldo Alckmin durante Reunião com Governador do Ceará Elmano de Freitas no Palácio do Planalto em Brasília. Foto : Cadu Gomes/VPR (Foto: Cadu Gomes/VPR)
Foto: Cadu Gomes/VPR 29-07-2025 Vice Presidente da República Geraldo Alckmin durante Reunião com Governador do Ceará Elmano de Freitas no Palácio do Planalto em Brasília. Foto : Cadu Gomes/VPR

O Ceará tem risco de perder de 8 a 9 mil empregos, em um primeiro momento, se o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros entrar em vigor. 

Os dados da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) foram levados ontem à reunião da comitiva cearense, liderada pelo governador Elmano de Freitas (PT), com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em Brasília.

“É muito representativo em função da cadeia produtiva. Vou dar só um exemplo: hoje nós temos 6 mil barcos pescando. A pesca não está mais entrando nos Estados Unidos e 85% dessa pesca vai para lá”,
afirmou o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante.

Ele também alertou para a dificuldade de redirecionar exportações a curto prazo. “Exportar não é simplesmente mudar de mercado. Exige regulamentação, análises sanitárias, ambientais e
estruturais. Não dá para fazer essa virada de chave do dia para a noite”, afirmou, ressaltando
a importância de um trabalho conjunto para que as ações sejam assertivas.

Medidas que estão no radar

Ontem, o governador Elmano de Freitas anunciou que está sendo criado um grupo de trabalho envolvendo Estado, técnicos do Governo Federal e representantes do empresariado cearense para buscar soluções
caso a ameaça se concretize.

E uma série de sugestões de medidas foram apresentadas ao Governo Federal. “Temos que trabalhar e é
isso que vim sugerir... Um grupo com Sefaz (Secretaria da Fazenda do Ceará), Procuradoria (Geral do Estado), com Fiec, Faec (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará), para analisando as possibilidades de cenários que medidas poderiam ser adotadas em cenário A, cenário B, cenário C”, explicou o governador.

Apesar de não ter antecipado as ações debatidas, o governador cearense frisou que é preciso ter em mente dois momentos de discussões. Até então, a três dias do tarifaço, o gestor diz que é preciso buscar o “diálogo e a negociação” com o governo de Trump.

Dentre as possibilidades de ação, conforme adiantou matéria do O POVO, estaria a liberação de R$ 1 bilhão em créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), referentes à Lei Kandir, que isenta as exportações de produtos primários e semielaborados do imposto.

Ou seja, a empresa que exporta é isenta do imposto e, quando compra mercadorias em que o ICMS está incluso, surge um saldo do tributo. O problema é que esses repasses são negociados anualmente e, quando liberados, muitas vezes, não o são com as devidas correções financeiras.

Ceará é o que mais exporta aos EUA 

O Ceará é a unidade federativa brasileira com maior dependência das exportações para os EUA. No primeiro semestre, o mercado norte-americano respondeu por 51,9% das exportações do Estado. O montante de US$ 556,7 milhões foi recorde na série histórica iniciada em 1997.

A maior parte desta produção foi de placas de aço, mas como o setor já está taxado pelos EUA com tarifas de 50% desde junho, por enquanto, são os demais itens que preocupam, como pescados, cera de carnaúba, castanha de caju, etc.

Segundo o diretor do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio) Paulo Gonçalves, sócio-diretor da Compex/Gondomar, a área de pescados é diretamente impactada em relação aos empregos,
pelo tamanho da cadeia de produção. O empresário alertou que os efeitos podem ser ainda
maiores do que o esperado. 

“Nós somos um dos mais impactados, que nós temos uma cadeia muito grande [...] Então, essa cadeia toda está sendo impactada. São muitos pescadores artesanais que se prejudicam, são muitos armadores que se prejudicam, são muitos trabalhadores de todo o setor, tanto na indústria como na armação das embarcações. Tudo isso fica abalado”, contou.

Paulo afirmou que o setor se movimentou para enviar toda carga acumulada, recorrendo, inclusive, a fretes mais caros, para entregar o produto antes da taxação, prevista para 1º de agosto. Sobre a produção, explicou que não têm mais embarcações saindo para pescar e que foi suspensa a compra de
novos produtos em razão da imprevisibilidade da tarifa.

Dentre os pleitos do setor, está a absorção do estoque remanescente ao programa Ceará Sem Fome, do Governo do Estado. A possibilidade já havia sido ventilada por Elmano em entrevista exclusiva ao O POVO no último dia 14. “O governador nos prometeu ajudar com isso, de absorver com Ceará sem fome”.

O setor realiza levantamento de estoque armazenado em câmaras frigoríficas para negociar com o governo até o dia primeiro do próximo mês.

A categoria de peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos atingiu US$ 36.756.826 em exportações neste ano, até junho, segundo dados do Observatório da Indústria da Fiec. O segmento
cearense representa 54,9% do total vendido pelo Nordeste ao Exterior e 61,34% do Brasil.


colaboraram João Paulo Biage/correspondente do O POVO em Brasília, Fabiana Melo e
Beatriz Cavalcante

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Plano federal prevê medidas para manter empregos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que, entre as alternativas para as tarifas que podem ser aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, há um plano nos moldes da pandemia para manter os empregos e auxiliar as empresas brasileiras.

"Nós somos muito confiante de que nós preparamos um trabalho que vai permitir o Brasil superar esse momento, que não foi criado por nós [...] Vamos estar preparados para cuidar das empresas, dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, se manter permanentemente em uma mesa de negociação, buscando racionalidade, respeito mútuo, estreitamento das relações."

Ele reforçou, no entanto, que decisão é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Mas eu não sei qual é o cenário que o presidente (Lula) vai optar." 

Sobre as negociações, ele disse que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, teve nesta segunda, 28, a "terceira e mais longa" conversa com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. (Fabiana Melo)

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