A renda média do bairro Guararapes é de R$ 14.775,21, enquanto no Genibaú chega a R$ 1.272,25. A diferença de R$ 13,5 mil revela extremos socioeconômicos dentro da mesma cidade.
A média geral de Fortaleza é de R$ 3.084,07, o que coloca a capital na 21ª posição entre as capitais brasileiras e na 7ª entre as nove do Nordeste. Apenas cinco regionais apresentam valores acima dessa média. A maior renda foi observada na Secretaria Regional II, com R$ 6.916,79, enquanto a menor está na Regional V, com R$ 1.459,13, uma diferença de 4,7 vezes entre as duas.
Segundo o analista de Políticas Públicas do Ipece (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará), Cleyber Nascimento, a motivação do estudo foi responder a uma questão central: “A principal pergunta era: essa renda média está distribuída de forma uniforme? Ou existem áreas com rendas muito menores, indicando vulnerabilidade social, e outras com concentração de riqueza?”.
Entre os bairros de maior renda, além do Guararapes, estão Cocó (R$ 13.372,43), De Lourdes (R$ 12.383,27), Meireles (R$ 12.148,10) e Aldeota (R$ 10.572,06). Todos ficam nas regiões leste e sudeste da cidade, reconhecidas por infraestrutura consolidada, padrão construtivo verticalizado e concentração de comércio e serviços especializados.
No outro extremo, além do Genibaú, aparecem Bom Jardim (R$ 1.342,03), Canindezinho (R$ 1.343,37), Conjunto Palmeiras (R$ 1.357,92) e Parque Presidente Vargas (R$ 1.381,01). “Muitos desses bairros carecem de serviços básicos e de regularização fundiária. São comunidades com insegurança jurídica da posse”, afirma Cleyber.
O analista destaca que as disparidades encontradas têm origem em processos históricos. “Essas desigualdades são fruto de processos históricos, principalmente das décadas de 1970 e 1980, quando houve migração intensa do interior para a capital sem políticas de infraestrutura compatíveis. Muitas áreas ainda carregam esse passivo, e isso aparece na renda, no acesso à educação, à saúde e ao saneamento”, explica.
Essa desigualdade também se reflete no cotidiano, como observa o analista de Políticas Públicas do Ipece, Victor Hugo de Oliveira. “Muitos moradores de bairros pobres precisam se deslocar para outras regiões para trabalhar, o que encarece a vida dessas pessoas e perpetua a desigualdade. É preciso criar dinamismo econômico nos próprios bairros”, afirma.
Para Victor, a renda está diretamente ligada à infraestrutura e ao capital humano. “É preciso pensar em investimentos públicos de longo prazo, que não mostram resultados em menos de 10 anos. Isso inclui escolas em tempo integral, saúde, saneamento e fomento ao comércio local e ao microempreendedorismo”, acrescenta.
O estudo aponta medidas que podem ser subsidiadas a partir dos dados levantados, como qualificação profissional e educação de qualidade nas áreas mais vulneráveis, ampliação da infraestrutura urbana com água, esgoto e coleta de lixo, regularização fundiária, criação de zonas de interesse comercial para fortalecer economias locais e incentivos ao microcrédito e ao empreendedorismo.
A divulgação ocorre no momento em que Fortaleza revisa o Plano Diretor, vigente desde 2009. “Os dados que apresentamos são preciosos nesse processo. Eles mostram com clareza onde estão os maiores desafios e onde as intervenções precisam ser mais urgentes”, afirma Cleyber.
O Ipece apresentou os resultados a representantes do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplan) e se colocou à disposição para compartilhar o levantamento completo com técnicos e secretarias municipais e estaduais. “O mapeamento territorial permite agir de forma mais justa e eficaz, canalizando recursos e ações para quem mais precisa”, conclui Cleyber.