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Investidores brasileiros aplicam R$ 7,9 trilhões no 1º semestre
Economia

Investidores brasileiros aplicam R$ 7,9 trilhões no 1º semestre

Estudo feito pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) indica que o crescimento foi impulsionado pela renda fixa, que continua sendo a preferência dos investidores
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Os brasileiros investiram pesadamente no primeiro semestre de 2025, com um volume total de R$ 7,9 trilhões, representando um aumento de 6,8% em relação ao final de 2024 e de 21% se comparado a igual período do ano passado. Os dados são da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e referem-se às aplicações de clientes do varejo (tanto tradicional como alta renda) e do private (segmento com clientes que têm mais de R$ 5 milhões investidos). 

Segundo a Anbima, esse crescimento foi impulsionado principalmente pela renda fixa, que continua sendo a preferência dos investidores, respondendo por 58,9% do total investido, com R$ 4,68 trilhões.

A renda fixa é um tipo de investimento em que o investidor empresta dinheiro a uma instituição financeira ou ao governo por um período determinado, recebendo em troca uma rentabilidade fixa ou previsível. Os investimentos em renda fixa geralmente oferecem uma remuneração mais estável e previsível em comparação com a renda variável, como ações.

Os dados da Anbima mostram que o volume investido pelos brasileiros avançou em todas as regiões. O ­­­­Sudeste segue na dianteira, sendo responsável por 66,5% das aplicações. Com avanço de 7,5% nos seis primeiros meses do ano, a região fechou junho com R$ 5,28 trilhões em investimentos.

Com o segundo maior volume de investimento do país, o Sul registrou alta de 3,5%, para R$ 1,36 trilhão. No Nordeste, o avanço foi de 7,9% para totalizar R$ 737,8 bilhões, enquanto os investimentos no Centro-Oeste tiveram alta de 6%, para fechar o semestre com total de R$ 420,3 bilhões. O Norte avançou 8,5%, chegando a R$ 142,5 bilhões.

Especialistas avaliam que a opção pela renda fixa indica que os investidores brasileiros continuam conservadores, favorecendo ativos que se beneficiam da taxa básica de juros (Selic), que está em 15%. A expectativa é que essa tendência se mantenha no segundo semestre de 2025, especialmente diante da possível mudança tributária a partir de 2026.

Para o diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Olcino Martins, o crescimento de 21% em relação a 2024 reflete o cenário de juros altos e a busca dos investidores por proteção em um ambiente de incerteza econômica global provocada pelo tarifaço imposto a vários países do mundo pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump..

“O cenário de Selic em dois dígitos favorece o comportamento mais conservador do investidor. A renda fixa, que já vem em alta nos últimos semestres, deve ser o grande atrativo também na segunda metade deste ano, o que não quer dizer que a diversificação não tem importância dentro de um portfólio completo para potencializar oportunidades”, explica Luciane Effting, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima. 

O economista Ricardo Coimbra, da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec), credita o crescimento de investimentos brasileiros, particularmente em renda fixa (CDBs, LCIs, LCAs, CRIs e fundos multimercados), à alta taxa de juros, usada pelo Banco Central para controlar a inflação.

Essa alta taxa torna esses investimentos mais atrativos que a aquisição de bens ou consumo e leva à migração de investimentos de renda variável (ações) para renda fixa, diz o economista.

“A Autoridade Monetária vem elevando a taxa de juros. Nas últimas reuniões do comitê de política monetária, a taxa de juros chegou a esse patamar de 15%. E, como consequência, as taxas de remuneração das operações de aplicação, elas vêm a reboque do crescimento da taxa selic, afirma Ricardo Coimbra.

Segundo o economista, com as taxas de juros em alta, as pessoas se sentem atraídas a ampliar os seus investimentos e aproveitar esse crescimento. Ele prevê que, embora a inflação esteja caindo e haja expectativa de queda na taxa Selic para cerca de 12% em 2026, os investimentos em renda fixa devem permanecer significativos.

O levantamento da Anbima indica também que as aplicações em títulos com o benefício fiscal cresceram, em conjunto, 12,2%, para R$ 1,39 trilhão. Nesta categoria estão incluídos CRAs e CRIs (Certificados de Recebível do Agronegócio e Imobiliário, respectivamente), debêntures incentivadas, LCAs e LCIs (Letras de Crédito do Agronegócio e Imobiliário, nesta ordem), além de LIGs (Letra Imobiliária Garantida). Os CDBs atingiram a marca de R$ 1,15 trilhão, alta de 9,9% no período.

Um dos fatores que contribui para esse crescimento, aponta o economista Ricardo Coimbra, é a isenção de imposto de renda em algumas operações. “Como tem algumas operações, que não pagam imposto de renda, como o caso da das LCIs e das LCAs, você acaba também tendo um crescimento significativo também nesse tipo de operação, pontua.

Ele destaca também que as instituições financeiras oferecem carteiras diversificadas com diferentes níveis de risco e rentabilidade, incluindo fundos multimercados, o que vem também apresentando um tipo de investimento em alta.

“A composição das carteiras desses múltiplos investimentos dentro de cada instituição financeira está cada vez mais proporcionando que o seu cliente consiga ter um portfólio que seja interessante para que ele possa ter rentabilidades diversas com riscos diversos. Então, a gente também vê uma concentração nesses fundos multimercados", observa o economista.

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Fortaleza, CE, BR 20.08.25  - Na foto: Matheus Mavignier, consultor financeiro  (Fco Fontenele/O POVO)
Fortaleza, CE, BR 20.08.25 - Na foto: Matheus Mavignier, consultor financeiro (Fco Fontenele/O POVO)

Protagonismo cearense se consolida no mercado de capitais

O perfil do investidor cearense se diferencia por uma maior presença em investimentos imobiliários e produtos de crédito como empresas de fomento, securitizadoras, FIDCs e fintechs especializadas, segundo observa o diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Olcino Martins.

Essa característica reflete a vocação do Estado para o mercado de crédito, tanto no consumo das famílias quanto no financiamento de empresas, diz.

Dentro do Nordeste, informa Olcino Martins, o Ceará vem se consolidando como protagonista no mercado de capitais.

O Estado tem registrado crescimento acelerado em empresas listadas em bolsa — casos como Pague Menos, Brisanet e Aeris —, além da força em setores ligados a crédito e fomento.

Segundo Olcino, o avanço também tem atraído a atenção de grandes instituições financeiras. A Caixa Econômica, por exemplo, intensificou a realização de eventos na região para ampliar o acesso das empresas e investidores às alternativas de mercado de capitais, aponta.

Quando olhamos de forma proporcional, o Ceará aparece em vários rankings de crédito como um dos destaques nacionais. O crescimento de fintechs e empresas de fomento mostra como o investidor local tem buscado alternativas além da renda fixa tradicional, informa.

É o caso, por exemplo, de Matheus Mavignier. Aos 32 anos, ele acumula mais de uma década de experiência no universo dos investimentos, iniciada aos 18 anos a partir de estudos em literaturas como as de Gustavo Cerbasi. "Comecei a investir com 18 anos. Inicialmente, para montar uma reserva de emergência, após isso, uma poupança para minha aposentadoria, diz.

Com o tempo, Matheus transformou o interesse pessoal em carreira, tornando-se assessor de investimentos e conquistando certificações na área. "Invisto em renda fixa, renda variável, ativos no exterior, o que define a escolha é a diversificação de risco, oportunidades do momento econômico e rentabilidade", explica.

Também foi a preocupação com a aposentadoria que levou a médica veterinária Renata Borges, de 28 anos, a entrar no mundo dos investimentos. "Comecei a investir em 2020. A motivação foi a preocupação com a aposentadoria. Pelos dados que saem sobre a previdência, é esperado que a longo prazo fique cada vez mais difícil de aposentar. Dessa forma, achei necessário tomar uma atitude, e uma saída que encontrei foi nos investimentos, afirma Renata.

Hoje ela aporta recursos principalmente em renda variável, focando em ações que pagam dividendos. Em renda fixa mantenho apenas minha reserva de emergência e um dinheiro de curto prazo, comenta.

A atração pela renda variável, segundo ela, foi a possibilidade de se tornar sócia de grandes e boas empresas. E ao estudar as empresas para investir, trouxe uma série de aprendizados e conhecimentos que me encantaram, diz.

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