Com a cobrança de tarifas de 50% para o açaí brasileiro entrar nos Estados Unidos, exportadores do produto no Ceará estão em busca de novos mercados no Exterior, segundo o Sindicato da Indústria de Sorvetes do Estado (Sindsorvetes).
Ao O POVO, um dos membros da entidade, o diretor comercial da True Açaí, Afonso Rocha, detalhou que a empresa participará de duas feiras internacionais para atrair países como o Paraguai e a Índia, com auxílio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil)
São elas: a Fi India (Food Ingredients India), em Nova Délhi, e a Expo Paraguai-Brasil, em Assunção. A companhia será a única representante do Nordeste nas feiras.
Apesar das dificuldades com o mercado norte-americano, que hoje é o único comprador, Afonso Rocha acredita que o açaí produzido no Ceará tem um caminho sólido de internacionalização. Para ele, a aceitação global do produto é uma tendência que só tende a se fortalecer.
"O açaí é um produto de alto valor agregado e tem conquistado consumidores em diferentes continentes. É um alimento que se encaixa muito bem em estilos de vida saudáveis, o que abre muitas portas", afirma.
No entanto, explica que, por questões culturais, a Índia enfrenta uma barreira de adaptação do consumidor a um alimento novo. "Eles não têm o hábito de consumir açaí. Então, leva tempo até o produto ser incorporado ao dia a dia do consumidor."
Há uma década, a True Açaí atua na exportação da polpa concentrada, com certificação de origem e logística voltada ao comércio exterior. Ao todo, são produzidas cerca de 60 a 80 toneladas na fábrica da Parangaba, em Fortaleza. Além do Ceará, também possui atuação no Piauí e em Pernambuco e atende cerca de 600 lojas.
Nesse sentido, o diretor comercial avalia que, para a estratégia deles, não faz sentido absorver a taxação dos Estados Unidos porque a margem é apertada.
"Em média, a gente consegue vender aqui 20 a 30% mais caro que no mercado interno, mas ainda assim absorver tudo isso fica mais difícil, porque é uma operação complexa. Tem algumas variáveis no meio do caminho e, se você absorver tarifa para perder margem, essa perda de margem pode significar a inviabilidade da operação toda."
"O próprio mercado interno já absorve boa parte da demanda, principalmente pelo crescente consumo de açaí no Brasil, mas o objetivo da exportação é buscar valores mais competitivos do que o mercado interno. Além de não pagar impostos na exportação, ainda se consegue vender em média 30% mais caro do que para o mercado interno", complementa.
Questionado sobre as medidas anunciadas pelo governo federal e estadual, Afonso Rocha ressalta que chegou a verificar as regras e como funcionaria. Porém, como não exporta com tanta frequência e, sim, por lotes, não acredita que pode ser beneficiado.
"A nível local, exportadores que tem uma frequência maior acabaram sofrendo muito. O pessoal do pescado, de frutas, porque eles têm uma dependência já gigantesca."
Outro ponto destacado é o Porto do Pecém. O diretor comercial salienta que, por ter a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), facilia o envio da mercadoria.
"Estamos em uma cidade que tem um porto estruturado. Isso facilita muito o envio, a negociação, porque imagina você estar em um estado que não tem nenhuma estrutura de porto. Aqui no Brasil, em Fortaleza, a gente tem a estrutura do Pecém bem próximo. É muito simples."
Além disso, cita como exemplo a vinda de produtos, alguma vezes do Pará pelo Pecém. "Isso facilita muito a nossa operação. Até na negociação, o cliente às vezes se sente mais confortável quando a fábrica, quem produz, está ali do lado de um porto que já vai escoar direto a carga dele para fora", finaliza.