Quase um quinto da geração de energia eólica e solar fotovoltaica brasileira foi perdido por cortes na rede em 2025. Os chamados "curtailments" acarretam prejuízo acumulado de R$ 3,2 bilhões ao setor desde 2022.
Levantamento com base em dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) foi realizado pela consultoria Volt Robotics.
Conforme o estudo, os cortes de energia têm avançado ano após ano. De janeiro a agosto de 2022, foram 51 megawatts-médios (MW); em 2023 chegou a 150 MW-médios; e agora saltou para 3.256 MW-médios em 2025.
Os cortes de geração são determinados pelo ONS ao considerar que o volume de energia produzida é superior à demanda em determinados horários do dia. O que tem penalizado o setor de energias renováveis.
Segundo Gustavo Silva, diretor da Qair Brasil - empresa de origem francesa que possui 700 MW instalados em projetos de energia renovável no Ceará, com previsão de superar 900 MW nos próximos anos - o "curtailment" gera uma crise de confiança entre os players do setor, pois põe em dúvida a capacidade do Brasil em honrar contratos.
O executivo afirma que colocou-se um peso de culpa sobre as usinas eólicas e solares, mas que a expansão do setor ocorreu com anuência legal de entrada no sistema interligado. O que faltaria, avalia, é uma modernização do sistema de transmissão.
"Aquilo que o investidor tem medo é quando ele não consegue quantificar o risco e hoje vivemos isso. Não temos resposta a dar para os investidores, não sabemos se esse problema vai aumentar ou diminuir, como o governo irá atuar e como os bancos vão atuar em relação às execuções das dívidas", aponta.
O diretor da Qair Brasil enfatiza que as empresas do setor de energias renováveis não aguentam mais tanto tempo tendo prejuízo. "Cada vez que a gente trabalha tecnicamente para dar a solução, mas politicamente a coisa não anda".
Quem corrobora com o posicionamento de necessidade de investimento na infraestrutura de transmissão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, que junto de Gustavo, participou do Proenergia Summit 2025, organizado pelo Sindicato das Indústrias de Energia do Estado do Ceará (Sindienergia).
Ricardo enfatiza que o País precisa modernizar urgentemente a forma como opera sua transmissão. Na sua avaliação, hubs de baterias e a inversão do foco do repasse de energia no sistema devem ser o novo foco, já que grandes consumidores devem se instalar no Nordeste nos próximos anos.
"Temos primeiro de entender o que o mundo está fazendo. No processo em que o sistema energético do mundo está mudando, numa velocidade tão grande, não podemos continuar trabalhando como há 30 anos", aponta.
Governadora do Ceará em exercício, Jade Romero aponta que o Estado segue em diálogo com o Governo Federal para viabilizar a aceleração da implementação de linhas de transmissão a partir de novos leilões.
"Tem sido também um assunto constante do nosso governador nas tratativas com o presidente Lula e seus ministros", disse.
Colaborou Kamilly Andrade/ Especial para O POVO
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Evento
A programação do Proenergia Summit 2025 segue até hoje no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza