A falta de infraestrutura de transmissão no Sistema Interligado Nacional dada como justificativa pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ao negar a conexão de três projetos de hidrogênio verde, dois no Ceará e um no Piauí, motivou o Consórcio Nordeste a redigir uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com sugestões para superar esse gargalo.
O documento deve estar pronto “nos próximos dias”, revelou ao O POVO Dickson Araújo, secretário executivo de Telecomunicações e Energia da Secretaria de Infraestrutura do Ceará e coordenador da Câmara Temática de Minas e Energia do Consórcio Nordeste.
"Esse novo ciclo de desenvolvimento do Nordeste está acontecendo agora e a gente não pode perder mais uma oportunidade do Nordeste ser grande porque simplesmente não vai ter energia. É só uma questão de o Governo Federal se organizar melhor e otimizar seus processos, porque a gente vive uma nova realidade", afirmou.
A nova realidade, ressalta Araújo, está na necessidade de 10 gigawatts (GW) do hub de hidrogênio verde do Pecém (CE) e a de 20 GW do projeto de Parnaíba (PI) enquanto o Nordeste por inteiro consome, atualmente, cerca de 16 GW de energia elétrica.
Nas últimas semanas, as empresas Fortescue e Casa dos Ventos, com projetos localizados no Ceará, e a Solatio, com usina no Piauí, tiveram os pedidos de conexão negados. O setor reagiu imediatamente, contrário à decisão da Aneel e criticando o tempo levado pelo governo federal em decidir pela ampliação das linhas de transmissão, uma vez que os projetos têm pré-contratos assinados desde 2023.
Identificado o tamanho da demanda, Araújo pondera que “sistema elétrico tem todo um regramento” e o tempo desde a decisão até a conclusão de uma nova linha de transmissão gira em torno de 7 anos.
Ao O POVO, ele adiantou que a sugestão do governador Elmano de Freitas (PT) de os estados bancarem a construção das linhas de transmissão estará na carta enviada ao presidente, juntamente com sugestões dos demais governadores que foram coletadas.
O modelo para que as obras fique a cargo dos governos estaduais, no entanto, não foi definido. Perguntado, Dickson, PPPs ou joint ventures são possibilidades viáveis. Já sobre os recursos para o empreendimento, ele disse ainda avaliar quais seriam as fontes mais adequadas.
Mais um ponto do documento, cita o coordenador da Câmara Temática de Minas e Energia do Consórcio Nordeste, é a antecipação do estudo elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre a conexão de cargas ultraeletrointensivas no Nordeste.
“Esse estudo, inicialmente, era previsto para ser iniciado em novembro de 2024, mas foi no começo de 2025. Era para ser entregue até outubro de 2025 e agora já estão anunciando que vão entregar em dezembro de 2025. E somente após esse estudo é que se inicia o processo de licitação das linhas. Portanto, uma das demandas é que esse estudo seja antecipado”, apontou Dickson Araújo, lamentando os atrasos.
Para evitar que só no fim do ano o setor tenha conhecimento dos planos a serem efetivados pelo governo federal, a Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (Abihv) afirmou que há pessoal do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) para ajudar na elaboração dos dados.
“Há um compromisso de entrega deste estudo antes do tempo. Existe um acordo de cooperação entre a EPE e o Cepel com a Abihv, fazendo essa interlocução, junto com o Ministério de Minas e Energia também”, afirmou Fernanda Delgado, diretora executiva da Abihv.
Ela afasta a possibilidade de cancelamento de projetos neste momento ao afirmar que os projetos mais adiantados têm 2026 como ano para confirmação dos investimentos. Entendimento compartilhado pelo coordenador da Câmara Temática de Minas e Energia do Consórcio Nordeste.
O POVO entrou em contato com a Aneel e o MME sobre o assunto, mas não obteve retorno. Já o ONS respondeu ao O POVO atestando a falta de infraestrutura transmissão para permitir a conexão dos projetos de H2V e data centers, mas, ao ser perguntado quais os projetos já teriam dado entrada no pedido e obtido negativa na permissão e quais medidas e prazos estavam sendo considerados, disse que havia apenas o “posicionamento oficial”.
“O ONS, em articulação com o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vem atuando para viabilizar soluções estruturantes que permitam, de forma segura e sustentável, a futura conexão dessas novas cargas, resguardando a confiabilidade do atendimento a todos os usuários do sistema”, finalizou, reforçando o discurso assumido após as críticas sobre falta de transmissão de energia.
ONS diz que vem atuando para viabilizar soluções ao setor
Em resposta ao O POVO, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) atestou a falta de infraestrutura de transmissão para permitir a conexão dos projetos de hidrogênio verde (H2V) e data centers. Mas, ao ser perguntado quais os projetos já teriam dado entrada no pedido e obtido negativa na permissão e quais medidas e prazos estavam sendo considerados, disse que havia apenas o "posicionamento oficial".
"O ONS, em articulação com o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vem atuando para viabilizar soluções estruturantes que permitam, de forma segura e sustentável, a futura conexão dessas novas cargas, resguardando a confiabilidade do atendimento a todos os usuários do sistema", finalizou.
O POVO entrou em contato com a Aneel e o Ministério de Minas e Energia (MME) sobre o assunto, mas não obteve retorno.