“O que a gente faz bem? O que não faz bem? E o que efetivamente poderiam ser propostas de iniciativas?”
Com essas três perguntas, o diretor de Estratégia Digital do Grupo de Comunicação O POVO, André Filipe Dummar, abriu a roda de conversa “Ecossistema de Inovação do Ceará: Futuro em Movimento”, realizada dentro da programação do Siará Tech Summit.
O evento que ocorre simultaneamente à Feira do Empreendedor, no Centro de Eventos, em Fortaleza, reuniu empreendedores, investidores e representantes dos setores público e privado em torno de um diagnóstico sobre o atual momento da inovação cearense — um movimento que, segundo os participantes, precisa consolidar a transição do circunstancial para o sistêmico.
“Eu sempre achei que o coletivo é maior do que o individual”, disse André Filipe, ao defender que a inovação não se resume à tecnologia, mas a um modo de pensar que exige cooperação e propósito comum. Em seguida, lançou uma provocação que se tornou recorrente entre os participantes: “A tecnologia não é o futuro do presente”.
A frase sintetizou a preocupação com o uso meramente instrumental da tecnologia e a necessidade de desenvolver cultura inovadora, capaz de unir pessoas, capital e conhecimento em torno de objetivos compartilhados.
A presidente da Associação Cearense de Inovação (ACI), Samya Angelim, foi uma das vozes mais destacadas da conversa. Para ela, o Ceará “não é mais apenas um potencial, é uma potência em inovação”, mas ainda enfrenta barreiras culturais que retardam a colaboração entre empresas, universidades e governo.
“A essência da inovação é sobre pessoas. Quando temos essa clareza, conseguimos entender que existem vários caminhos possíveis — mas é muito importante com quem você vai trilhar esses caminhos”, afirmou.
Segundo Samya, o principal desafio não está na falta de estrutura, mas na dificuldade de convergência. Ela comparou o ecossistema a um feixe de luz: “Para que a energia seja tão potente a ponto de se transformar em laser, ela precisa ser colimada. Ou seja, tudo precisa convergir em uma direção.”
A ACI, fundada há três anos, nasceu de um movimento espontâneo entre empreendedores e hubs locais que buscavam evitar a sobreposição de ações. Hoje, a entidade articula a “tríplice hélice” da inovação: a união entre universidades, governo e iniciativa privada.
Entre os parceiros, estão Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade do Estado do Ceará (Uece), Universidade de Fortaleza (Unifor) e Instituto Federal do Ceará (IFCE), além de instituições do sistema S, como Sebrae, Senac, Senai e Sesi.
A associação também mapeou 33 iniciativas de inovação fora de Fortaleza, abrangendo polos no Cariri, Sobral e Jaguaribe, em um esforço para interiorizar e descentralizar o ecossistema de inovação cearense.
Um dos pontos mais sensíveis do ecossistema de inovação é o fomento financeiro. A escassez de capital para startups e pequenas empresas foi citada como obstáculo ao amadurecimento do setor. A busca por mecanismos de investimento e fundos estruturados foi apontada como prioridade, não apenas para impulsionar negócios, mas também para gerar impacto social.
“Temos todos os elementos envolvidos, mas é preciso alguém para entrar com os recursos”, resumiu André Filipe Dummar.
Samya reconheceu que a ACI ainda vive uma fase de estruturação e amadurecimento, mas destacou o ingresso na Coalizão pelo Impacto, grupo nacional que une empreendedores e investidores comprometidos com o desenvolvimento sustentável.
“Fazer parte dessa coalizão foi um presente, porque trouxe metodologia, conexões e um olhar coletivo. É o tipo de movimento que ajuda a deixar de lado visões fragmentadas e pensar o Ceará como um ecossistema coeso”, disse.
Ela reforça que estruturar mecanismos de investimento e criar pontes com fundos e investidores de impacto estão entre as prioridades da associação.
“Para que a energia se torne laser, tudo precisa convergir em uma direção”, completou, ao defender que o avanço depende de foco e alinhamento entre os agentes do setor.
Outro eixo da conversa girou em torno da educação empreendedora e da retenção de talentos locais. Participantes mencionaram a importância de aproveitar a mão de obra de escolas técnicas e fortalecer a cultura de inovação desde a base educacional.
André Filipe Dummar e outros convidados citaram planos de longo prazo — como o Ceará 2050 e o Plano Plurianual (PPA) — como caminhos para estabelecer metas concretas de convergência entre os setores público e privado, com foco em educação, fomento e produtividade.
Samya reforçou esse ponto ao defender o sentimento de pertencimento como ativo econômico:
“Que os nossos talentos entendam que não precisam sair daqui para encontrar oportunidades. Crescer aqui é possível. Inovar aqui é possível. Pertencer aqui é uma força.”
Ela acredita que, nos próximos cinco anos, o Ceará pode se tornar referência nacional e internacional em inovação, impulsionado por infraestrutura estratégica — como o Porto do Pecém e os cabos submarinos de fibra ótica —, que fortalecem a economia do mar e a conectividade global.
“Temos condições, visão e atitude para fazer com que o nosso estado seja relevante — não só no desenvolvimento de empresas, mas também nas decisões estratégicas que impactam o Brasil”, afirmou.
Ao longo da roda, as falas convergiram em torno de um consenso: o Ceará possui todas as peças do tabuleiro — capital humano, hubs, universidades e vocação empreendedora —, mas o desafio é alinhar cada uma delas em direção a um mesmo propósito.
Mais do que listar conquistas, o encontro buscou formular um diagnóstico e um roteiro de ação, centrado em quatro pontos:
“Circunstancial não é sistêmico”, resumiu André Filipe Dummar, ao destacar que o verdadeiro impacto virá quando o fomento, a formação e a cultura estiverem organizados como política de estado.
Para Samya Angelim, o Ceará já superou a fase do potencial e se consolida como uma potência em inovação, ainda que enfrente barreiras culturais que limitam a colaboração e a convergência entre os diversos atores do ecossistema.
A dirigente explica que a inovação, mais do que tecnologia, é um modo de pensar diferente — e que o avanço depende de articulação entre pessoas e instituições. Sob essa perspectiva, a ACI vem atuando na formação de uma “tríplice hélice”, unindo universidades, empresas e governo.
Com a entrada da ACI na Coalizão pelo Impacto, Samya acredita que o Estado se aproxima de uma nova etapa de maturidade — capaz de gerar valor econômico e social de forma sustentável.
Sua visão de futuro projeta o Ceará como referência nacional e internacional em inovação, com destaque para áreas estratégicas como a economia do mar, a conectividade global e a retenção de talentos locais. “Crescer aqui é possível. Inovar aqui é possível. Pertencer aqui é uma força.”
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Serviço
A Feira do Empreendedor e o Siará Tech Summit seguem até hoje no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. Inscrições: https://sebraeceara.com.br/