O Ceará ficou de fora do leilão de energia realizado nesta sexta-feira, 31 de outubro. Porém, segundo o governo estadual, o Estado será beneficiado com a instalação de três compensadores síncronos no Rio Grande do Norte. Isso porque, apesar de estar apenas neste estado, os equipamentos vão ajudar a equilibrar a energia do Nordeste.
Como não foi contemplado no edital de Transmissão n.º4/2025, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), na sede da B3, em São Paulo, a esperança do Executivo é que o próximo leilão, previsto para 2026, deva incluir mais cinco equipamentos do tipo.
O pleito do Poder Público é por ter três compensadores síncronos em território cearense, permitindo atender até 3 gigawatts (GW) de carga adicional, suprindo, por exemplo, a expansão de energia para novos investimentos.
As regiões de instalação previstas pelo governo estadual consistem em duas para Morada Nova e uma para Quixadá.
Em relação a expectativas de o Ceará entrar em próximos leilões, a Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra) informa ao O POVO que ter as linhas de transmissão de fato, e não apenas os compensadores, depende do planejamento conduzido pelo MME, em conjunto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
“As novas Linhas de Transmissão estão em fase de estudos, e o Governo do Ceará, por meio da Seinfra, mantém diálogo permanente com o Governo Federal. O governador Elmano de Freitas tem se reunido com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em busca da ampliação da rede de transmissão e da inclusão de novos projetos estratégicos para o Ceará”, frisou a Secretaria, em nota.
A ideia é ter aporte para expandir a vinda de novas empresas e evitar os famosos curtailments. Estes consistem nos cortes de energia que companhias de geração renovável são obrigadas a realizar, gerando prejuízos ao setor, sobretudo do Nordeste.
Porém, as interrupções são consideradas necessárias para evitar apagões no Brasil, como o que ocorreu em agosto de 2023, devido às cargas excessivas das renováveis geradas pelas empresas na região nordestina.
No Brasil, o que se teve de resultado do leilão é que todos os sete lotes foram arrematados, e com descontos. A iniciativa atraiu R$ 5,53 bilhões em investimentos na infraestrutura de transmissão de energia elétrica nacional.
“Licitações como essa trazem previsibilidade e segurança para os investidores e busca de serviço adequado e de economia para os consumidores com os deságios alcançados”, disse o diretor da Aneel, Fernando Mosna.
O certame se destina à construção e manutenção de 1.081 quilômetros (km) em linhas de transmissão e seccionamentos e de 2.000 megawatts (MW) em capacidade de transformação, além de sete compensações síncronas.
Os empreendimentos se localizam em 12 estados: Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo.
O prazo para conclusão das obras varia de 42 a 60 meses, dependendo da complexidade da construção. A expectativa é de que sejam criados mais de13 mil empregos diretos e indiretos.
O compensador síncrono tem o papel de fazer regulações de tensão e de potência dentro de uma subestação.
Ou seja, a depender da demanda no momento, ele pode absorver ou fornecer potência reativa ao sistema.
Assim, estados que geram energia renovável, por exemplo, apresentando muita oscilação, o que pode prejudicar o Sistema Interligado Nacional (SIN), têm no compensador a vantagem de regular os níveis de tensão.
O material pode tanto absorver a energia advinda do SIN, quanto no horário de pico atuar de maneira a fornecer mais energia reativa, suprindo a necessidade do sistema.
A diretora da Energo Soluções em Energias, Marília Brilhante, avalia que a construção de novas linhas de transmissão é essencial para resolver as restrições atuais na geração e no transporte de energia.
Conforme ela, o alívio proporcionado pelos compensadores instalados no Rio Grande do Norte representa um avanço para o subsistema Nordeste, mas ainda é necessário ampliar a capacidade de escoamento.
Marília ressalta que o próximo leilão de linhas de transmissão, previsto para 2026, será determinante para garantir o atendimento à demanda futura.
“A capacidade de 3 GW não será suficiente para suprir as necessidades projetadas, considerando o crescimento de investimentos em hidrogênio verde, data centers e mineração de bitcoin até 2030”, afirmou.
Ela também pontuou a importância da aprovação da Medida Provisória (MP) 1.304, que prevê ressarcimento parcial em casos de cortes na geração de energia e concede isenção fiscal para sistemas de armazenamento, como baterias.
Para a especialista, essas medidas contribuem para amenizar as dificuldades enfrentadas pelo setor, mas a expansão da infraestrutura de transmissão continua sendo o principal desafio. (Mariah Salvatore/Especial para O POVO)
Para se ter ideia, o desperdício de energia renovável no Brasil já ultrapassa R$ 5 bilhões, segundo o presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Darlan Santos.
Os números mostram que o problema se concentra principalmente no Nordeste, responsável por mais de 70% das perdas registradas no País.
Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), consolidados pela consultoria CarpeVie, parceira do Cerne, mostram que a Bahia lidera o ranking, com 35,14% dos cortes, seguida pelo Rio Grande do Norte (25,43%) e Minas Gerais (15,63%).
Outros estados nordestinos também aparecem entre os mais afetados: Piauí (9,42%), Ceará (7,58%), Pernambuco (3,03%), Paraíba (1,79%) e Maranhão (0,62%).
Conforme o estudo, os efeitos do curtailment se estendem para além da geração elétrica, atingindo também a indústria e o emprego.
“Por causa dos cortes, não se compram novos aerogeradores – o que afeta diretamente as fábricas desses equipamentos – nem se contratam financiamentos para novos projetos. No ano passado, uma das maiores fabricantes de aerogeradores do Ceará precisou demitir mais da metade do quadro de funcionários”, ressaltou Santos.
A interrupção de geração é para manter a estabilidade do SIN, por segurança sistêmica ou excesso de energia. O ONS ordena o desligamento ou redução das gerações renováveis, o que é conhecido por curtailment ou constreined-off, apenando sobretudo o segmento de eólicas e solar.
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Novos linhões são a saída, aponta especialista
A diretora da Energo Soluções em Energias, Marília Brilhante, avalia que a construção de novas linhas de transmissão é essencial para resolver as restrições atuais na geração e no transporte de energia.
Ela diz que o alívio proporcionado pelos compensadores instalados no Rio Grande do Norte representa um avanço para o subsistema Nordeste, mas ainda é necessário ampliar a capacidade de escoamento.
O próximo leilão de linhas de transmissão, previsto para 2026, será determinante para garantir o atendimento à demanda futura. "A capacidade de 3 GW não será suficiente para suprir as necessidades projetadas, considerando o crescimento de investimentos em hidrogênio verde, data centers e mineração de bitcoin até 2030", afirmou.(Mariah Salvatore/Especial para O POVO)
Cortes de energia ultrapassam R$ 5 bilhões
Para se ter ideia, o desperdício de energia renovável no Brasil já ultrapassa R$ 5 bilhões, segundo o presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Darlan Santos.
Os números mostram que o problema se concentra principalmente no Nordeste, responsável por mais de 70% das perdas registradas no País.
Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), consolidados pela consultoria CarpeVie, parceira do Cerne, mostram que a Bahia lidera o ranking, com 35,14% dos cortes, seguida pelo Rio Grande do Norte (25,43%) e Minas Gerais (15,63%).
Outros estados nordestinos também aparecem entre os mais afetados: Piauí (9,42%), Ceará (7,58%), Pernambuco (3,03%), Paraíba (1,79%) e Maranhão (0,62%).
Conforme o estudo, os efeitos do curtailment se estendem para além da geração elétrica, atingindo também a indústria e o emprego.
“Por causa dos cortes, não se compram novos aerogeradores – o que afeta diretamente as fábricas desses equipamentos – nem se contratam financiamentos para novos projetos. No ano passado, uma das maiores fabricantes de aerogeradores do Ceará precisou demitir mais da metade do quadro de funcionários”, ressaltou Santos.
A interrupção de geração é para manter a estabilidade do SIN, por segurança sistêmica ou excesso de energia. O ONS ordena o desligamento ou redução das gerações renováveis, o que é conhecido por curtailment ou constreined-off, apenando sobretudo o segmento de eólicas e solar.