Em entrevista à Fox News, ontem (quarta-feira, 12), o secretário do Tesouro dos EuA, Scott Bessent, confirmou que o governo do presidente Donald Trump anunciará uma redução nas tarifas comerciais impostas sobre produtos como café, banana e outros itens importados pelo país.
“Vocês verão alguns anúncios significativos nos próximos dias em relação a produtos que não cultivamos aqui nos Estados Unidos, café é um deles, bananas, outras frutas, coisas desse tipo”, disse Bessent.
O secretário ratificou o disse o próprio presidente Donald Trump, terça-feira, 11, também falando à rede de tv Fox News, quando indicou que seu governo deve baixar tarifas de importação do café como forma de baratear o produto para os americanos.
No entanto, os dois - Trump e Bessent - não detalharam quais países produtores serão beneficiados pela medida. Mesmo assim, gerou expectativas entre os produtores locais.
“Peço a Deus que ele realmente faça isso”, disse Amilcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec). Ele acredita que castanha de caju, carnaúba e coco seriam atendidos, pois são produtos tipicamente brasileiros.
Amílcar destaca que, apesar de mais exigente, o mercado americano tem preços mais atrativos e que por isso é um parceiro comercial muito desejado. De acordo com ele, com o início do tarifaço, o Ceará reduziu drasticamente a exportação de castanha de caju. “Em agosto, nós deixamos de exportar quase 2 milhões de dólares de castanha. Exportamos 78 mil dólares, quer dizer, nada, né?”, comentou.
Na extrevista à Fox, o presidente Donald Trump disse que muito em breve vai reduzir as tarifas de importação que incidem sobre o café
“Vamos reduzir algumas tarifas e vamos deixar entrar mais café. Tudo isso acontecerá muito rápido e com muita facilidade. É um processo cirúrgico bonito de se ver. Nossos custos de importação estão muito mais baixos”, declarou o presidente norte-americano após ser questionado sobre a alta dos preços nos EUA.
Mesmo não sendo citado por Trump, a expectativa é que a medida possa beneficiar principalmente o Brasil, maior produtor mundial e principal fornecedor do café para o mercado norte-americano. A expectativa é que essa redução de tarifas sobre café facilite o comércio e aumente as exportações brasileiras.
O Brasil tem mantido negociações ativas com os EUA para flexibilizar as tarifas de importação de diversos produtos, incluindo o café. Documentos enviados à Casa Branca indicam pedidos para excluir itens como café, carnes e frutas das tarifas elevadas.
Segundo o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), o café brasileiro representa mais de 30% do mercado norte-americano. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Pavel Cardoso, acredita que manter tarifas no setor não faz sentido econômico. Isso porque o consumo de café nos EUA é alto e a produção local é pequena, concentrada no Havaí e Porto Rico, e cobre menos de 1% da demanda.
Outro setor mencionado pelo secretário do Tesouro americano foi o de frutas. De acordo com Luiz Roberto Barcelos presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o Ceará não deverá ser impactado pois tem como principal destino o mercado europeu.
Bruno Corano, economista da Corano Capital NY, avalia que a fala de Bessent precisa ser interpretada dentro de um contexto político e econômico bem específico.
“Ele afirmou que o governo pretende reduzir tarifas sobre produtos que os Estados Unidos praticamente não produzem — como café, bananas e outras frutas — com o objetivo de baixar os preços ao consumidor americano. É um sinal claro de que há disposição política para rever parte do chamado tarifaço, principalmente em áreas onde não há lobby doméstico forte”, comenta.
De acordo com o economista, Bessent expressou confiança de que a Suprema Corte dos EUA respaldará as tarifas recíprocas implementadas por Trump e criticou a atuação do Federal Reserve, afirmando que o banco central "cometeu muitos erros" nos últimos anos.
“Durante a entrevista, Bessent também revelou planos de publicar futuramente sobre a política cambial americana, destacando sua intenção de escrever sobre como manter o domínio do dólar como moeda global, reforçando o compromisso com a hegemonia monetária dos Estados Unidos. Além disso, ele afirmou que o governo está trabalhando para recalibrar as taxas de juros e valorizar a independência do Fed”, analisa Bruno Corano.
Segundo ele, a entrevista à Fox News demonstra a posição do governo Trump em relação às tarifas comerciais e sua confiança na decisão da Suprema Corte, que pode ter impactos significativos na economia global.
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EUA avaliam alternativas para o caso de derrota na Suprema Corte
O diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos, Kevin Hassett, afirmou ontem que o governo avalia alternativas para manter as tarifas em vigor, caso a Suprema Corte decida contra a Casa Branca no caso que discute a legalidade das medidas. "Estamos analisando opções e autoridades alternativas se a Suprema Corte decidir contra o governo no caso das tarifas."
A Constituição americana atribui ao Congresso o poder de instituir impostos, porém, o presidente Donald Trump afirmou que uma lei de 1977 lhe concedia autoridade para impor tarifas de forma unilateral em situações de emergência.
Segundo Hassett, entre as possibilidades, em caso de derrota na Suprema Corte, está o uso das seções 301 e 122 das leis comerciais americanas. A seção 301 - utilizada para uma investigação aberta contra o Brasil, em julho - permite impor tarifas a países considerados culpados de práticas comerciais desleais, enquanto a seção 122 autoriza medidas temporárias de ajuste de balanço de pagamentos.
Ele afirmou que eventuais efeitos de custos das tarifas "são um ajuste de nível, não um fator inflacionário" e disse esperar uma queda expressiva nos preços de produtos importados.
Em abril, Trump anunciou tarifas sobre importações provenientes de mais de cem parceiros comerciais, justificando a medida como necessária para reduzir o déficit comercial do país.
A Suprema Corte dos Estados Unidos está analisando a legalidade da política econômica do governo, que utiliza poderes emergenciais para impor tarifas amplas a quase todos os parceiros comerciais do país, situação que gera impacto tanto na economia americana quanto na economia global.
Esta é a primeira vez que os juízes examinam o fundamento jurídico de uma das principais iniciativas da administração Trump em seu segundo mandato.
Se a Suprema Corte entender que as tarifas configuram uma forma de tributação, é possível que as considere inconstitucionais, já que o poder de criar impostos pertence ao Congresso. (Agência Estado)
Lula
Na semana passada, Lula disse voltaria a telefonar para o presidente dos Estados Unidos caso não houvesse avanços nas negociações comerciais entre os dois países até o encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30)
Chanceleres de Brasil e EUA se reúnem novamente sobre tarifas
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, se reuniram ontem no Canadá e concordaram em realizar um novo encontro para avançar nas negociações sobre as tarifas de 50% impostas por Washington às
exportações brasileiras.
A conversa entre Vieira e Rubio ocorreu à margem de uma cúpula de chanceleres do G7 na cidade de Niagara-on-the-Lake, informou à AFP uma fonte do Itamaraty.
Vieira comunicou a Rubio que o Brasil enviou, em 4 de novembro, uma proposta de negociação à parte americana e apresentou os avanços das conversas técnicas realizadas entre as delegações sobre a questão tarifária.
Além disso, reiterou ao secretário de Estado americano "a importância de avançar nas negociações", conforme acordado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump em um encontro na Malásia, em outubro.
Ambos os funcionários concordaram em agendar uma reunião presencial "em uma data próxima".
Trump puniu o Brasil com tarifas de 50%, entre as mais altas do mundo, sobre boa parte de seus produtos, em razão do julgamento de seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por golpismo.
A medida impactou produtos como o café, cujo preço aumentou 21% em relação ao ano anterior, em agosto, nos Estados Unidos. (AFP)
Governo amplia alcance de Plano Brasil Soberano
Os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) editaram uma portaria conjunta ampliando o alcance das medidas do Plano Brasil Soberano, lançado pelo governo federal em agosto com linhas especiais de financiamento para contrabalançar o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
A portaria original garantia prioridade de acesso às medidas de apoio às empresas cujo porcentual do faturamento bruto decorrente de exportações afetadas pelo tarifaço entre julho de 2024 e junho de 2025 fosse igual ou superior a 5% do faturamento total apurado no período. Agora, de acordo com novo texto publicado no Diário Oficial da União (DOU), a prioridade se estende também para aquelas afetadas em 1% ou mais de seu faturamento.
A nova portaria também dá prioridade às empresas que tenham "fornecido bens para pessoa jurídica de direito privado exportadora de bens com faturamento bruto decorrente de exportações afetadas pelas tarifas dos EUA igual ou superior a 5% do faturamento total apurado no mesmo período; e cujo porcentual de faturamento bruto decorrente do fornecimento de bens apurado no período seja igual ou superior a 1% do faturamento total".
Entre as propostas do Plano Brasil Soberano está uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para empresas afetadas, aporte em fundos garantidores e aumento de compras governamentais. (Agência Estado)