O valor de mercado da Hapvida caiu pelo segundo dia consecutivo. A ação da empresa fechou esta sexta-feira, dia 14, a R$ 17,79, queda de 5,82%. O resultado veio mesmo após a companhia ter aprovado a recompra de até 70 milhões de ações nos próximos 18 meses como forma de contornar o tombo de 40% registrado na véspera.
Na quinta-feira, a empresa despencou R$ 7 bilhões no pregão, após o mercado financeiro considerar o balanço do 3º trimestre da empresa fraco.
Uma forte queda de uma ação na bolsa significa que o preço daquela ação despencou bruscamente em um curto período de tempo. Isso acontece basicamente pela lei da oferta e demanda: quando muitos investidores querem vender e poucos querem comprar, o preço cai.
A mínima observada fez com que a empresa perdesse o piso de R$ 10 bilhões pela primeira vez desde a estreia na bolsa de valores, em 2018. Na época, antes da fusão com o Grupo NotreDame, a Hapvida foi estimada em R$ 19 bilhões.
Com isso, a Hapvida passou a um valor de R$ 9,40 bilhões e liderou as negociações do pregão, com a marca de 70 mil negócios.
O derretimento de 40% em perdas na B3 ligou o alerta da empresa, que ainda na noite da quinta-feira disparou um fato relevante informando da aprovação de um novo programa de compra de ações.
"A administração da Companhia, por meio de sua diretoria estatutária, definirá o momento e a quantidade de Ações a serem adquiridas, podendo chegar a até 70.000.000 de Ações pelo período de 18 meses, contados de 13 de novembro de 2025", detalhou.
Um programa de recompra de ações, também conhecido como buyback, é quando uma empresa decide comprar de volta suas próprias ações que estão sendo negociadas no mercado. Com isso, ela reduz o número total de papéis em circulação (o free float), o que pode aumentar o valor das ações restantes.
O motivo do desempenho na bolsa de valores, segundo indicam os especialistas, está nos resultados financeiros apresentados pela Hapvida no 3º trimestre.
A operadora de planos de saúde Hapvida registrou lucro líquido de R$ 148,9 milhões no segundo trimestre deste ano, queda de 64,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Com ajustes, o lucro somou R$ 299,3 milhões no período.
No acumulado do ano, até junho, a companhia obteve lucro líquido de R$ 565,3 milhões, queda de 42,6% em base anual de comparação.
A receita líquida ajustada da empresa alcançou R$ 7,674 bilhões no trimestre, alta de 7,3% em relação a igual intervalo de 2024. A receita líquida totalizou R$ 14,925 bilhões, aumento de 7,8% em relação a igual intervalo de 2024.
O Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Ebitda, da sigla em inglês) foi de R$ 703 milhões, queda de 26,6%. Com ajustes, o Ebitda foi de R$ 905,4%, redução de 5,5%.
O Ebitda ajustado do semestre foi de R$ 1,909 bilhão, queda de 12,8% em relação ao apurado em igual exercício do ano passado.
A sinistralidade caixa da Hapvida foi de 71,0% no segundo trimestre, alta de 0,5 ponto porcentual em comparação com o mesmo intervalo de 2024. No acumulado do ano a sinistralidade da companhia alcançou 73,9%, aumento de 0,4 p.p., na mesma base de comparação.
Daniel Nogueira, Sales de Renda Variável da InvestSmart XP, afirma que o fluxo de caixa livre foi negativo, e o crescimento orgânico decepcionou, principalmente em São Paulo. O analista explica que os custos administrativos, despesas e contingências subiram, e o balanço refletiu uma dinâmica operacional ainda difícil.
”A administração reconheceu os desafios e indicou que a recuperação de margens deve ser lenta, dependendo da ocupação das novas unidades e ajustes operacionais”, diz Daniel Nogueira.
O papel negocia a 6,3x P/L para o próximo ano, bem abaixo da média histórica de 14,9x, reflexo do excesso de pessimismo e risco embutido elevado.
“A estrutura de capital robusta (saldo de caixa de R$ 9,8 bi, 59% do valor da empresa) segue como positiva, mas a alavancagem de 5,3 x Ebitda exige atenção. Eventos corporativos e o elevado volume de opções (puts negociados acima da média) sugerem grande incerteza no curto prazo”, afirma o especialista.
De acordo com Daniel Nogueira, o Hapvida vive sob forte pressão de curto prazo, mas apresenta assimetrias de preço relevantes se conseguir entregar operacionalmente e reverter o sentimento do mercado nos próximos trimestres. “O valuation descontado e o consenso dos analistas sinalizam potencial de recuperação, mas a execução será determinante”, avalia.
Relatório do Itaú BBA confirmou que a empresa apresentou resultados abaixo das expectativas, com KPIs que revelaram dinâmicas desafiadoras. O Ebitda ajustado ficou 25% abaixo das estimativas, indicando uma necessidade de revisão para baixo nas expectativas de consenso do mercado.
O documento aponta que o número de beneficiários aumentou em 13.000, inferior à previsão de 30.000, com um aumento nas adições brutas, mas compensado por um aumento na taxa de churn. O desempenho positivo em planos corporativos foi ofuscado por perdas em planos de afinidade e PME, especialmente em São Paulo.
O ticket médio cresceu 6,1% em relação ao ano anterior, desacelerando em comparação ao crescimento de 8,2% do segundo trimestre. A receita líquida foi de BRL 7.775 milhões, um aumento de 6% ano a ano, mas ligeiramente abaixo das expectativas.
A MLR (Medical Loss Ratio) em caixa foi de 75,2%, superando a projeção de 74,5%, com uma deterioração de 1,3 pp em relação ao trimestre anterior. O aumento na frequência de atendimentos e a expansão da rede própria da empresa contribuíram para essa deterioração.
Os depósitos judiciais aumentaram para BRL 163 milhões, em comparação a BRL 114 milhões no segundo trimestre.
O Ebitda reportado foi de BRL 746 milhões, abaixo das expectativas, com um Ebitda ajustado de BRL 613 milhões, representando uma queda de 20% em relação ao ano anterior.
A empresa registrou um aumento na dívida líquida de BRL 234 milhões, refletindo um consumo de caixa durante o trimestre, impactado por um Ebitda ajustado pressionado e maiores desembolsos relacionados a cobranças e pagamentos de contas médicas. A geração operacional de caixa foi de BRL 182 milhões, resultando em uma conversão de EbitdaA de apenas 30%.
Todos os principais KPIs ficaram abaixo das expectativas, incluindo crescimento, lucratividade e geração de caixa. A estrutura de custos pode ser mais alta do que o esperado, o que pode exigir aumentos de preços para compensar. Apesar da recente desvalorização das ações, há riscos de novas revisões para baixo que podem impactar negativamente o preço das ações.
A conferência programada para o dia 13 de novembro às 9h (BRT) pode fornecer mais insights sobre as dinâmicas apresentadas.
O preço atual da ação HAPV3 é de BRL 32,69, com um potencial de valorização de 101,9% até o final de 2026. O desempenho da ação nos últimos 12 meses foi de -38,2%, em comparação com uma queda de 47,3% do Ibovespa.
O relatório destaca a necessidade de cautela em relação ao desempenho da Hapvida, com a expectativa de que os resultados do terceiro trimestre levem a uma reação negativa do mercado. A análise sugere que os investidores devem considerar múltiplos fatores antes de tomar decisões de investimento. (Colaborou Carmen Pompeu).
Com Agência Estado
Confira os assuntos econômicos no Ceará, no Brasil e no Mundo
Siga o canal de Economia no WhatsApp para ficar bem informado
Balanço
No acumulado do ano, até junho, a Hapvida reportou lucro líquido de R$ 565,3 milhões, queda de 42,6% em base anual de comparação