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Exclusiva: Presidente do Fortaleza dá detalhes do "fico" de Ceni, que mostra a grandeza do Nordeste
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Exclusiva: Presidente do Fortaleza dá detalhes do "fico" de Ceni, que mostra a grandeza do Nordeste

Marcelo Paz conta ainda os bastidores da renovação com Rogério Ceni e fala sobre o planejamento para 2020
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Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.  (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.

Dois dias depois de a renovação de Rogério Ceni ser anunciada oficialmente pelo Fortaleza, o presidente do clube, Marcelo Paz, recebeu O POVO, no Pici. Na sala do dirigente, com os troféus do Campeonato Cearense 2019, da Copa do Nordeste 2019 e da Série B 2018 ao fundo, o mandatário contou pela primeira vez detalhes sobre o "fico" do técnico Rogério Ceni. No papo, a força do futebol nordestino e o planejamento para a temporada 2020 também tiveram espaço.

O POVO traz abaixo os principais trechos da entrevista. 

O POVO - O que foi determinante para o Rogério Ceni dizer "sim" para o Fortaleza?

Marcelo Paz - As pessoas muitas vezes gostam de causa única. As causas não são únicas, são multifatoriais. E acredito que a permanência do Ceni é multifatorial. A história construída por ele no clube, a torcida. Claramente ele tem um carinho especial. A cidade de Fortaleza que ele aprendeu a gostar, fez amigos, se sente bem, gosta do clima, do calor, da praia, as pessoas do clube, continuidade do projeto. O elenco de jogadores, que boa parte continua e está adaptada ao modelo de jogo que ele estabeleceu. A flexibilidade do clube de se adequar ao que ele entende como ideal. A proposta financeira também teve peso. Não foi só por gostar do clube, porque ele é profissional. Foi uma série de fatores. Pesou muito o fator emocional mesmo. Ele possui coisas aqui que não tem em outro canto. A soma disso tudo contribuiu.

O POVO - Pesou na decisão do Ceni entender a possibilidade de repetir o bem-sucedido ano de 2019?

Marcelo Paz - O ano de 2019 foi muito bom, histórico, para colocar no quadro de conquistas, mas não garante nada em 2020. É outro momento. Não dá para cravar. A gente entra forte, mas é um processo de fazer história. A gente vende realidade ao torcedor. Jamais vou dizer para o torcedor que 2020 vai ser melhor do que 2019. Todos os desafios são difíceis. Gosto de reforçar isso. Não posso vender fantasias, tenho que vender o que é real. Qualquer time que conquiste por dois anos seguidos o máximo de coisas é muito difícil permanecer. É só olhar o histórico do futebol brasileiro e até mundial. Quanto tempo um time carioca não ganhava um título brasileiro? Não dá para cravar. Posso garantir trabalho e dedicação.

O POVO - Qual vai ser o valor da folha salarial para 2020?

Marcelo Paz - A gente pretende trabalhar com a folha salarial de R$ 3 milhões.

O POVO - E conta um pouco sobre os bastidores da negociação? Quando que o Ceni, de fato, bateu o martelo?

Marcelo Paz - Posso garantir que qualquer pessoa que deu como certa (a saída do Ceni) se precipitou. O Rogério não acertou nada com ninguém antes de conversar com a gente e dizer que iria ficar no Fortaleza. Ele negociou (com outros clubes), a gente sabia que ele estava negociando. Foi sempre muito transparente e profissional. É natural que aconteça isso nesse período do ano. Nós conversamos com Rogério sexta, antes do jogo do Bahia, e apresentei a ele o projeto formal, com prazo, valores, metas, objetivos, perfil do elenco, melhoria estrutural. A negociação sempre foi entre eu e ele. Ele falou da doação que faria ao clube, veio propor e sugeriu, ficando ou não. No vestiário, após o jogo do Bahia, ele me procurou para conversar um pouco. Era a última oportunidade de a gente conversar porque ele iria viajar para o Rio de Janeiro. Ele propôs essa questão de doar os R$ 100 mil para as obras do Centro de Excelência. 'Parte que tenho (da premiação da Sul-Americana) quero deixar no Fortaleza, independente de ficar ou não', disse ele. Eu me surpreendi com isso. Depois nos falamos por telefone. Todas as noites nos falávamos por telefone, trocava ideia, falava por WhatsApp. E sempre sabendo que havia outra possibilidade. Ele foi sempre transparente. Nunca fez leilão, nem fez comparativo. Sabia que tinham outros clubes que poderiam oferecer proposta mais vantajosa do ponto de vista esportivo e estrutural. Ele prometeu responder até sexta e cumpriu o prazo. Respondeu antes da meia-noite de sexta. Não divulgamos logo porque fomos para a parte burocrática, de redigir contrato. Isso entrou na madrugada. Foi todo mundo dormir e retornou às 12 horas (do dia seguinte). Prepararam o material e fizemos a divulgação.

O POVO - No futebol, a gente está acostumado a ver jogadores e técnicos saírem do Nordeste para irem a clubes do Sudeste. Você acha que o acerto de Ceni com o Fortaleza deixa uma mensagem diante deste cenário?

Marcelo Paz - O futebol nordestino está mostrando grandeza, que pode duelar com grandes do País. Dentro de campo e fora dele. Antes do "sim" do Ceni para o Fortaleza, teve o "sim" do Diego Cerri (diretor de futebol) de ficar no Bahia e não ir para o Palmeiras. Tem alguma coisa no Nordeste que está valendo a pena. Às vezes, parte de nós mesmos. Dei entrevista a semana inteira, quem me perguntava só perguntava já com a possibilidade de ele ir embora, sobre o "plano B", dando como certo. Acho que primeiro nós temos de nos valorizar, quanto clube, imprensa, o ambiente todo tem de entender que é possível. Quando houver saída, é natural também. Agora, sem dúvidas, o futebol nordestino tem força que tempos atrás não tinha. A permanência do Ceni tem a ver com isso. Ele escolheu continuar o projeto que já dura três anos no Fortaleza.

"O futebol nordestino está mostrando grandeza, que pode duelar com grandes do País." Marcelo Paz

O POVO - O ano de 2019 foi o melhor da história do Fortaleza?

Marcelo Paz - Foi um grande ano. Dificílimo de se repetir. Não vou dizer que foi melhor porque foi na minha gestão e vai parecer que estou puxando para o meu lado. Mas sem dúvidas, um dos anos mais marcantes da história do Fortaleza. Divido os méritos com toda a diretoria do clube, comissão, torcida. Foi um ano especial, não dá para negar isso.

O POVO - O Fortaleza possui 22 jogadores com contrato. Todos fazem parte dos planos para 2020?

Marcelo Paz - Todos fazem parte do plano. Em conversa com Rogério, pretendemos utilizá-los. Mas estamos no início da abertura de janela. O mercado muda. Pode surgir proposta para jogador sair. Vamos atrás de contratar de seis a oito jogadores. O Kieza está nos nossos planos. Conversei com Rogério. Ele disse que conta com Kieza, cresceu na reta final, teve sua importância no clube. Mas, às vezes, aparece a proposta. Hoje, está bem aberto. Contamos com esse elenco.

O POVO - E questão de posição de contratações?

Marcelo Paz - Temos a carência de zagueiro canhoto. Precisamos de zagueiro canhoto. Não tivemos em 2019. Tivemos Adalberto já na reta final. É importante para o elenco. Dois meio-campistas de armação, velocistas também.

O POVO - O Fortaleza já terminou 2019 com receita recorde. Qual projeção do orçamento para 2020?

Marcelo Paz - Não posso adiantar o número exato, mas será mais de R$ 100 milhões de orçamento previsto para 2020 (na terça-feira, o Conselho Deliberativo aprovou a cifra recorde de R$ 109 milhões). Teve uma questão de contábil importante. Passou a contabilizar na receita de jogos como bruta. Não só a líquida. Por exemplo, jogo contra o Bahia, no final do ano, teve receita bruta de R$ 850 mil. Líquida foi de R$ 323 mil. Só aí já vê a diferença. Vai ser maior (do que 2019), mas não é que vai faturar bem mais que o ano anterior. Questão contábil dá peso nesse orçamento.

Fortaleza, Ce BR - 16.12.19 Marcelo Paz, presidente do Fortaleza Esporte Clube, em entrevista ao Jornal O POVO. Foto: (Fco Fontenele/O POVO)
Fortaleza, Ce BR - 16.12.19 Marcelo Paz, presidente do Fortaleza Esporte Clube, em entrevista ao Jornal O POVO. Foto: (Fco Fontenele/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)

O POVO - Qual a meta de sócios para 2020?

Marcelo Paz - Gostaria de chegar a 40 mil sócios. Já estamos com 34 mil, beirando 35 mil. Acho que com a campanha crescente do clube, que terá competição a mais, internacional, histórica, pela primeira vez, o torcedor vai chegar mais junto e a gente consegue esse número.

O POVO - E como está a expectativa pela Sul-Americana? Como você avalia a possibilidade de valorização da marca e a chance de atrair jogadores?

Marcelo Paz - A gente tem que saber vivenciar. Tudo isso é legal. A brincadeira que o torcedor faz, falando em espanhol. É legal, é criativo, faz parte do nosso povo cearense, brincalhão com tudo. Tem que viver e curtir isso mesmo. Vou para o sorteio, acompanhar de perto. É um competição difícil, de mata-mata. Tem a viagem de deslocamento. Não sabemos quem vamos pegar (na terça-feira, ficou definido que é o Independiente, da Argentina), se vamos avançar. Quanto mais viver isso, vai ser melhor. Que seja o início de um novo tempo para que possamos nos consolidar como equipe. A ideia é que possamos participar efetivamente de competições internacionais, como o Lanús, o Defensa y Justicia, Independiente Del Valle. São times que começam a estar no linguajar, no hábito de quem acompanha o futebol sul-americano. O Fortaleza quer entrar nesse circuito. Vamos jogar com a nossa camisa 1 para marcar nosso símbolo, nossas cores na América do Sul. Não vai ter camisa especial para competição. Vamos jogar com nossa camisa número 1 para marcar nosso símbolo, nossas cores. Na América do Sul, não tem camisa especial para a competição. A gente quer que nossa marca seja conhecida como ela realmente é. Espero que a gente faça a melhor campanha possível. A competição atrai jogadores, sim, tem um peso, mas temos que tentar que essa caminhada seja a mais longa para que possa ter um sabor ainda maior.

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