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(1000) Dias com Ele: Rogério Ceni completa mil dias à frente do Fortaleza
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(1000) Dias com Ele: Rogério Ceni completa mil dias à frente do Fortaleza

Especial do O POVO traz histórico do técnico no Fortaleza, infográfico com números e entrevista exclusiva com um dos maiores treinadores em mais de 100 anos do clube
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mill dias de Rogerio ceni no Fortaleza (Foto: luciana pimenta)
Foto: luciana pimenta mill dias de Rogerio ceni no Fortaleza

Quatro dias após Antônio Carlos Zago entregar o comando técnico do Fortaleza para retornar ao Juventude-RS — mais precisamente no dia 30 de outubro de 2017 —, Rogério Ceni visitou o Pici. A passagem do ex-goleiro e ex-técnico do São Paulo na sede do Tricolor teria como motivo um reencontro com o amigo Bosco, então preparador de goleiros do Leão. Como o clube procurava treinador na época, no entanto, logo cogitou-se a possibilidade de negociação.

Soou exagero. Eram duas realidades distintas. De uma lado, um Fortaleza retornando à Série B do Brasileiro após oito anos, com orçamento bem limitado, sem poder de grandes investimentos, fora de competições rentáveis, como Copa do Brasil e Copa do Nordeste. Do outro, um treinador provavelmente caro, sem qualquer experiência com competições de acesso ou jogadores de salários mais baixos, que não conhecia a realidade do futebol nordestino e ia encontrar estrutura bem diferente daquela com a qual trabalhou a vida toda. Quais as chances disso dar certo?

Não errei sozinho — e me convenci disso na metade da temporada de 2018 —, mas os 1000 dias que Rogério Ceni completa hoje como técnico do Fortaleza deixam claro que o casamento entre ambos deu muito certo. Do sim, dado em 10 de novembro de 2017, ao litígio, em 11 de agosto de 2019, quando o ex-goleiro se encantou com o Cruzeiro, foram 639 dias. Do relacionamento reatado, em 29 de setembro de 2019, até esta quarta-feira, são mais 361 dias, fechando a conta.

O saldo de todo esse tempo de união são três títulos, um retorno à Série A do Brasileiro após 13 anos, a melhor campanha do clube na elite (no formato de pontos corridos) e uma disputa inédita de Copa Sul-Americana, que marcou a primeira partida internacional oficial do Fortaleza, na Argentina. Em números, absolutos, Ceni tem 142 partidas à frente do clube, o que faz dele a terceira pessoa que mais comandou o Tricolor em mais de 100 anos e vai se tornar o segundo daqui a oito jogos (ultrapassando Caiçara, com 149 jogos, mas ficando atrás de Moésio Gomes, com 229). Até aqui, são 77 vitórias, 28 empates e 37 derrotas. Aproveitamento de 60,8%.

Com carta branca junto à diretoria executiva, no Fortaleza faz mais que apenas treinar o clube. Avaliza contratações, mostra caminhos de estruturação e utiliza o peso da opinião que possui em favor do clube nas mais diversas situações. Criou a editoria “Rogério Ceni” nos portais nacionais, trouxe atenção ao clube pela história e pela bola, implantando métodos de trabalho que devem nortear o Leão mesmo após sua saída.

Presidente do Fortaleza, Marcelo Paz fala quase em intervenção divina. “Fico muito feliz, muito honrado e muito grato a Deus por ter colocado o Rogério Ceni no meu caminho e no caminho do Fortaleza. Por tudo que ele é, não é nem pelo que ele fez. A pessoa que ele é, o profissional, o cara que a gente tem o prazer de conviver diariamente e tudo que ele entrega para o clube, profissionalismo, dedicação, espírito vencedor", celebra. Para ele, a longevidade é surpresa bem-vinda. "Não esperava que fosse durar mil dias, ninguém nunca sabe no futebol. Tivemos a sorte e a competência de achar um profissional e convencê-lo a vir para o Fortaleza. Sentimento de muita gratidão. Eu já disse algumas vezes e vou repetir que o Rogério é um presente de Deus para o Fortaleza”.

O Tricolor e Ceni se encontraram no momento certo em 2017, com um oferecendo ao outro o que ele mais precisava. Conquistaram espaço juntos e hoje são vistos com outros olhos pela bolha do futebol. A quebra e posterior restabelecimento de ciclo só comprovou que os dois ainda tinham história para fazer. Até fevereiro de 2021, o fim do contrato, imagina-se, os dois devem continuar o casamento. 

FutCast #106 - Mil dias de Ceni no Fortaleza e os trabalhos longevos no futebol cearense


FORTALEZA, CE, BRASIL, 19.09.2020: Rogerio Ceni. Fortaleza x Internacional, na Arena Castelão, pelo Campeonato Brasileiro. em época de COVID-19.  (Foto: Aurelio Alves/ O POVO).
FORTALEZA, CE, BRASIL, 19.09.2020: Rogerio Ceni. Fortaleza x Internacional, na Arena Castelão, pelo Campeonato Brasileiro. em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/ O POVO).

Em entrevista exclusiva, Rogério Ceni rememora relação com o Fortaleza e o público

O POVO: Rogério, você completa hoje mil dias como técnico do Fortaleza. Quando assumiu o clube, em novembro de 2017, imaginava ficar tanto tempo?

Rogério Ceni: Nessa profissão de treinador, a gente nunca faz uma projeção a tão longo prazo, mas eu fico feliz, na minha carreira foi mais ou menos assim, fui construindo a carreira no São Paulo e lá foram quase dez mil dias que fiquei. Poder, como treinador, completar essa marca hoje, num cenário tão difícil que é essa troca de treinadores brasileiros, me deixa feliz. Sei que teve aquele hiato que saí, mas mesmo assim é uma marca considerável nos dias atuais

O POVO: Nesses mil dias você fez mais que apenas treinar o time. Sugeriu mudanças de estrutura, a contratação definitiva (pagando multa) de jogadores e atraiu mídia nacional. Você considera que no Fortaleza é mais que um técnico?

Rogério Ceni: Eu considero que me entrego sempre no trabalho, faço meu melhor no lugar que estou. Tento ser o mais profissional possível e, se eu puder ajudar a crescer em alguma outra área, sem dúvida alguma, vou tentar. Agora, a gente pode dar as ideias, mas quem executa é a direção do clube. Quem arruma o dinheiro para isso é a direção. Então, as ideias e as coisas que a gente pode fazer, eu tento ajudar. Tudo que tem sido feito, construído, foi através da direção. No que eu puder colaborar, eu sempre vou estar colaborando.

O POVO: Hoje você se declara mais um torcedor do Fortaleza. Em que momento a relação de treinador se ampliou?

Rogério Ceni: Na verdade, não é que é torcedor do Fortaleza, é que você é contagiado pela torcida do Fortaleza, a partir do momento que você vê um Castelão com 50 mil ou 60 mil pessoas, em jogos importantes. Desde 2018, pra ser sincero, naquela reta final de Série B, a gente começou a ver o Castelão daquela maneira. Você vai se apegando, vai criando laços com o clube, vai passando a ter admiração pelas festas, pelos mosaicos, tudo. Sem dúvida, hoje o Fortaleza faz parte da minha vida.

O POVO: Com o Fortaleza você foi campeão estadual, regional, nacional, levou pra Série A e Sul-Americana. Tem algo mais que você queira dar ao clube?

Rogério Ceni: Eu queria dar consistência. Eu gostaria de fazer com que se tornasse habitual para o Fortaleza essa rotina, de se manter em uma Série A, brigar por uma Sul-Americana, participar de competições internacionais, brigar por títulos. Como está sendo agora na reta final de Campeonato Cearense, como nós chegamos novamente à semifinal e ano passado fomos campeões da Copa do Nordeste, que são os títulos possíveis e brigar para manter o Fortaleza na elite do futebol brasileiro. Essa é a maior briga porque a cada ano na elite é mais estrutura que se constrói, o que significa mais chances de sucesso futuro

O POVO: Você não é um cara de muitos clubes e Marcelo Paz já disse que, por ele, você fica no Fortaleza enquanto ele for presidente. Quanto tempo mais você se vê no Leão?

Rogério Ceni: Fico contente pelo carinho sempre demonstrado. Desde o começo tentamos fazer o melhor e o reconhecimento veio com aquele titulo de 2018. E cada vez, logicamente, você é mais ouvido e isso ajuda. Ajudou de alguma maneira na transformação do clube. Para quem conheceu (o clube), ao menos eu, que conheci em novembro de 2017, para hoje; tem muita coisa a melhorar, temos muito, muito, muito para fazer, precisaria de mais dinheiro, investidores, enfim, precisamos de verba para melhorar tudo isso, mas o clube tá caminhando e independentemente de eu ficar aqui ou não, eu tenho certeza que se seguir o rumo que tem hoje o clube vai conseguir ficar cada vez maior.

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