Prestes a completar um mês de trabalho presencial, Juan Pablo Vojvoda já conquistou o "universo" do Fortaleza — jogadores, funcionários, dirigentes e torcedores. Para além dos números expressivos e bons resultados, O POVO ouviu relatos de que o argentino de 46 anos se destaca pela personalidade: reservado, o treinador mora na sede do clube, aprimora o portunhol a cada dia e não esconde o perfil viciado em trabalho.
Ladeado pelos auxiliares Gastón Liendo e Nahuel Martínez, o ex-zagueiro desembarcou na Capital na noite do dia 9 de maio. Em vez de seguir para hotel em área nobre de Fortaleza, com vista para o mar, pediu para se instalar no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici. Desde então, o local de trabalhou virou moradia — e vice-versa. A princípio, os dirigentes esperavam que a estadia seria breve e colocou o estafe à disposição do treinador quando desejasse se mudar. Até agora, no entanto, não houve qualquer sinalização.
O técnico argumentou que permanecer 24 horas na sede tricolor facilitaria a adaptação e o faria "ganhar horas" de trabalho, sem deslocamentos. Além disso, poderia conhecer outros setores, mergulhar na rotina do departamento de futebol e, de quebra, praticar o idioma: com espanhol considerado compreensível desde os primeiros contatos, Vojvoda pede que todos se comuniquem em português para que ele incremente o vocabulário e melhore o portunhol.
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Ainda nas reuniões virtuais, que duraram quase uma semana até o desfecho da negociação, o argentino deixou clara a obsessão por trabalho ao analisar todos os materiais em texto e vídeo enviados pelo departamento de análise de desempenho. No dia a dia, a postura é semelhante: o comandante passa entre 14 e 16 horas do dia ativo entre elaboração de treinos, observação de adversários e avaliação de possíveis reforços.
O POVO apurou que no dia da conquista do tricampeonato estadual — o primeiro título da carreira de treinador —, poucas horas após erguer a taça, Vojvoda disparou mensagens a funcionários com congratulações e também demandas para o dia seguinte, focado no próximo compromisso. A postura foi semelhante após a goleada sobre o Internacional-RS, no último domingo, 6.
"Quanto acontecem esses sucessos, nós desfrutamos, mas muito pouco. Amanhã (terça-feira) já vou botar minha cabeça na partida de quinta", disse o técnico, depois do 5 a 1 diante do Colorado. "Sempre pode melhorar. Nosso time é um time que tem jogadores que querem evoluir e melhorar, e isso é bom para o Fortaleza, para mim e para os jogadores também", completou.
Ex-zagueiro na terra natal, Vojvoda mantém biotipo semelhante ao dos tempos de atleta, com exercícios matinais na academia do clube ou corridas leves. Nas poucas horas livres, comunica-se com a família por chamadas de vídeo e se distrai com livros — quase todos ligados a esportes. O técnico é apontado como discreto nos corredores do clube e muito educado com os funcionários, quase sempre mais disposto a ouvir do que falar.
O estilo franco de lidar com os atletas conquistou o elenco, que também ficou satisfeito com o modelo de jogo e os métodos utilizados para agilizar a adaptação. A dedicação absoluta e a sede por vitórias agrada à diretoria, que firmou contrato até o final deste ano e tem opção de renovação por mais uma temporada. A torcida, por sua vez, enaltece o comandante nas redes sociais e festeja a liderança da Série A.