O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, foi afastado do cargo ontem por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), assinada pelo desembargador Gabriel Zéfiro. A decisão ocorre após a intensificação de escândalos na entidade máxima do futebol brasileiro nos últimos meses.
A defesa de Ednaldo entrou com petição junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo anulação da decisão da TJ-RJ. O processo, que já sofreu muitas reviravoltas, gira em torno de uma ação de legitimidade de acordos firmados pelo Ministério Público junto a entidades esportivas.
O ex-dirigente, que ocupava a presidência da CBF há mais de três anos, teve sua gestão marcada por insucessos na seleção masculina principal, além de escândalos financeiros, polêmicas administrativas e acusações de irregularidades e censura.
Em seu lugar, de forma interina, assume Fernando Sarney, vice-presidente da entidade máxima do futebol brasileiro. Filho do ex-presidente da República José Sarney, o dirigente convocou, em caráter de urgência, eleições para o cargo de presidente da entidade (quadriênio 2025–2029).
Apesar de ter criticado o que chamou de "manobra diversionista" do anúncio de Carlo Ancelotti como novo técnico da seleção brasileira, Sarney disse ao portal ge que não vai "mexer nisso" (contratação do treinador italiano). "O futebol segue a sua vida. Sou apenas transitório (...) Meu objetivo é no menor espaço de tempo fazer a eleição, primeiro vou sentar a bunda na cadeira um, dois dias. Resolver isso para acabar com isso, essas brigas na Justiça".
A peça de defesa argumenta ainda que caso o pedido de nulidade não seja acolhido, o estatuto da CBF afirma que o vice-presidente mais idoso da entidade, Hélio Menezes, deveria assumir.
O Esportes O POVO procurou a Federação Cearense de Futebol (FCF). No entanto, até o fechamento da página, não houve retorno.
Ednaldo Rodrigues assumiu a presidência da CBF de forma interina em agosto de 2021, após o afastamento do ex-presidente Rogério Caboclo acusado de assediar sexual e moralmente uma funcionária da entidade. Em março de 2022, o dirigente baiano foi oficialmente eleito com 137 votos dos 141 possíveis.
Durante sua primeira gestão, Ednaldo Rodrigues liderou iniciativas de reestruturação do futebol brasileiro, como a implementação de novas políticas de governança e o apoio à criação de ligas independentes para maior autonomia dos clubes e federações. Em março de 2025, Ednaldo Rodrigues foi reeleito presidente da CBF até 2030, após decisão unânime das 27 federações e de todos os clubes das Séries A e B, inclusive Ceará e Fortaleza.
Em campo, porém, o saldo de seu primeiro mandato não foi positivo. Em 2021, a seleção brasileira, sob o comando de Tite, disputou a Copa América no Brasil e conseguiu avançar à final, mas foi derrotada pela Argentina, em pleno Maracanã, e ficou com o vice-campeonato.
No ano seguinte, em 2022, a Amarelinha disputou a Copa do Mundo do Catar. A Canarinho foi eliminada nas quartas de final, para a Croácia, em disputa de pênaltis. Após a campanha no Mundial, o técnico Tite anunciou sua saída do comando técnico da seleção brasileira. Desde então, houve a contratação de Fernando Diniz, um período sob comando interino de Ramon Menezes, a chegada e saída de Dorival Júnior, entremeadas por campanhas pífias na Copa América 2024 e nas Eliminatórias para a Copa de 2026.
Paralelamente, a CBF vivia longo flerte com Carlo Ancelotti, multicampeão europeu e técnico do Real Madrid. As tratativas só viraram realidade nessa última segunda-feira, 12, após anos de tentativas.
Outra marca dos três anos de Ednaldo na chefia da CBF foram os escândalos. Em dezembro de 2023, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro chegou a anular a eleição dele, alegando irregularidades no processo, o que levou à nomeação de um interventor. A decisão, no entanto, foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em janeiro de 2024, permitindo que Ednaldo retornasse ao cargo.
Passado o imbróglio judicial, denúncias sobre contratos irregulares e falta de transparência em negociações financeiras começaram a surgir. Casos como a contratação da empresa da filha para fornecimento de produtos de higiene para a CBF e a nomeação do genro para cargo de direção no futebol brasileiro geraram desconfiança em relação à gestão de Ednaldo.
Em abril deste ano, a Revista Piauí publicou uma série de reportagens sobre as “extravagâncias econômicas” da CBF, sob o comando de Ednaldo. Poucos dias depois, a deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) pediu ao STF o afastamento imediato de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF. O pedido, entretanto, foi negado pelo ministro Gilmar Mendes.
O afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência representa mais um passo em um processo conturbado, marcado por disputas judiciais, polêmicas administrativas e acusações de irregularidades. Um histórico que marca a CBF há décadas, com prisões de dirigentes, afastamentos e muitas denúncias. (Colaboraram André Bloc, Mateus Moura e Victor Barros)
2021 – Crise na CBF e chegada de Ednaldo
Junho: Rogério Caboclo é afastado por denúncias de assédio sexual e moral. A CBF entra em crise.
Interinidade: Antonio Carlos Nunes, vice mais velho, assume por dois meses.
Agosto: Dirigentes decidem, de forma unânime, nomear Ednaldo Rodrigues como novo presidente interino. Ele já havia presidido a Federação Bahiana de Futebol.
2022 – Eleição e início do mandato
Março: Ednaldo é eleito presidente da CBF até 2026, com apoio de 26 federações estaduais e 39 clubes das Séries A e B. Apenas a Federação Alagoana e a Ponte Preta votaram contra.
Dezembro: Brasil é eliminado nas quartas da Copa do Catar pela Croácia. Tite deixa o comando técnico, como já estava previsto. Ednaldo inicia busca por novo treinador.
2023 – Escolha polêmica e crise técnica
Julho: Fernando Diniz é nomeado técnico interino da seleção brasileira, com contrato de um ano, mantendo simultaneamente o comando do Fluminense.
Dezembro: o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro anula a eleição de Ednaldo, por irregularidades no processo, e nomeia um interventor.
2024: crise em campo, batalha judicial
Janeiro: o STF suspende o afastamento e permite o retorno de Ednaldo à presidência da entidade. Um dia após reassumir, Ednaldo demite Fernando Diniz. Negociação com Ancelotti fracassa; Dorival Júnior (então no São Paulo) é contratado como novo técnico da seleção.
Denúncias se acumulam: empresa da filha fornecendo produtos à CBF; nomeação do genro para cargo de direção.
Abril: a revista Piauí publica reportagens sobre gastos excessivos e "extravagâncias" da entidade sob Ednaldo.
A deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) solicita o afastamento imediato do dirigente ao STF, mas o pedido é negado por Gilmar Mendes.
2025 – Acusações de fraude e nova crise
Março: Ednaldo demite Dorival Júnior após maus resultados.
Maio: Daniela do Waguinho e Fernando Sarney (vice da CBF) alegam falsificação da assinatura de Antonio Carlos Nunes em acordo que validou a eleição de 2022. Esse acordo, firmado em janeiro de 2025, encerrava disputas judiciais e legitimava Ednaldo na presidência. A denúncia de falsificação é encaminhada à Justiça do Rio de Janeiro.
Ednaldo Retoma negociações com Carlo Ancelotti e, em 12 de maio, anuncia oficialmente a contratação do técnico italiano. Três dias depois, a Justiça do Rio de Janeiro destitui Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF. Fernando Sarney é nomeado interventor, com a missão de convocar novas eleições na entidade.