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Fim do ciclo: trabalho vitorioso de Vojvoda no Fortaleza chega ao fim em temporada amarga
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Fim do ciclo: trabalho vitorioso de Vojvoda no Fortaleza chega ao fim em temporada amarga

Treinador argentino conquistou títulos e feitos entre 2021 e 2024, mas não conseguiu bons resultados na atual temporada e foi demitido nessa segunda-feira, 14
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Técnico Vojvoda no jogo Fortaleza x Sportivo Trinidense, no Castelão, pela Copa Sul-Americana 2024 (Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC)
Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC Técnico Vojvoda no jogo Fortaleza x Sportivo Trinidense, no Castelão, pela Copa Sul-Americana 2024

O cartão de boas-vindas não foi dos mais convidativos, com estreia sob chuva torrencial em pleno mês de maio, em Caucaia, e estádio vazio em época de pandemia de Covid-19. Mas o argentino nascido em General Baldissera, província de Córdoba, estava destinado e determinado a fazer história em território brasileiro. E fez, expandindo os horizontes do Pici para o território sul-americano, erguendo taças, virando ídolo e se emocionando ao longo de quatro anos e dois meses. Mas o ciclo chegou ao fim.

Na tarde de ontem, após reunião no Centro de Excelência Alcides Santos, o CEO da SAF do Fortaleza, Marcelo Paz, e o diretor de futebol Sérgio Papellin anunciaram a demissão de Juan Pablo Vojvoda do clube, ao lado dos auxiliares Nahuel Martínez e Gastón Liendo, do preparador físico Luís Azpiazu, do psicólogo Christian Rodríguez e do preparador de goleiros Santiago Piccinini.

No total, foram 310 jogos — recordista da história do clube —, 1.533 dias desde o anúncio e cinco títulos, além de tabus quebrados e feitos históricos.

A temporada atual é o ponto fora da curva na trajetória de Vojvoda pelo Tricolor. O time acumulou derrotas e eliminações (vice-campeonato estadual e quedas na Copa do Brasil e do Nordeste) e está na zona de rebaixamento do Brasileirão. Os resultados na retomada do calendário, a avaliação do dia a dia e o clima no vestiário levaram à mudança de rota um mês depois de a diretoria bancar a permanência do treinador até o fim do ano, quando se encerraria o contrato.

Mas, àquela altura, mesmo depois de um primeiro semestre ruim, Vojvoda ficou porque é Vojvoda. Ainda em 2021, ao encarar aquele primeiro jogo sob forte chuva diante do Crato, emendou vitórias — muitas por goleada — no Campeonato Cearense, do qual foi campeão, quando conquistou o primeiro título na carreira. Largou muito bem na Série A e fez primeiro turno histórico, conseguindo manter o Fortaleza entre o G-6 e o G-4. O que antes era um sonho virou realidade pelas mãos do treinador argentino: uma vaga na Copa Libertadores.

O primeiro ano de trabalho já fez Vojvoda mandar para longe a "sombra" da trajetória vitoriosa de Rogério Ceni. A desconfiança que cercava o nome desconhecido no Brasil e de difícil pronúncia, mas que já acumulava feitos na Argentina e no Chile, rapidamente se dissipou. O ex-zagueiro queria marcar seu nome no Fortaleza e no País.

Em 2022, foi bicampeão cearense e levantou também o troféu do Nordestão — novamente sob intensa chuva, dessa vez no Castelão. A caminhada na Libertadores começou mal, mas o time conseguiu avançar para as oitavas de final. Também teve largada ruim no Brasileirão, amargando a lanterna em quase todo o primeiro turno e ficando com a obrigação de uma reação inédita para não cair. O Fortaleza de Vojvoda não só conseguiu se salvar como ainda se credenciou a disputar a fase prévia da Libertadores no ano seguinte.

Os feitos pelo Leão já faziam ele ser alvo de outras equipes de maior expressão, naturalmente, e o contrato se encerraria naquela temporada. Vojvoda recusou ofertas e renovou com o Fortaleza por mais dois anos, até 2024. Dias antes de assinar o novo vínculo, ele e a família tinham sido homenageados com um mosaico da torcida, o que o levou às lágrimas e solidificou o laço com as arquibancadas. Ele estava destinado a ser o maior da história tricolor.

O argentino conduziu o Fortaleza ao inédito pentacampeonato estadual em 2023 e fez campanha sem maiores sustos no Brasileirão. O ponto alto daquele ano foi outro: ótima campanha na Sul-Americana, após cair na fase prévia da Libertadores, despachando rivais brasileiros e chegando à final. A decisão no Uruguai mobilizou torcedores e sonhos de um título internacional. Mas caiu nos pênaltis diante da LDU.

O último ano positivo do trabalho foi em 2024, apesar da perda do título cearense: conquista do Nordestão, apesar de a delegação ter sofrido atentado em Pernambuco, e novo G-4 na Série A, carimbando o passaporte para a Libertadores, o que apagou a queda no mata-mata da Sula. Vojvoda renovou contrato para 2025, recusando a seleção do Chile, ganhou reforços de peso e conviveu com a expectativa de uma temporada história em 2025. Mas o trabalho não andou para isso.

Tropeços contra equipes de menor expressões, atuações apáticas, mais derrotas do que vitórias no ano, marasmo no trabalho... Vojvoda virou refém do próprio sucesso. As reações em anos anteriores geravam a crença de uma nova resposta positiva neste ano. E as chances se acumularam, mas não foram suficientes para mudar a rota.

"O futebol exige decisões difíceis. Entendemos que é o momento de promover uma mudança necessária", explicou Marcelo Paz. "Um ciclo vitorioso aqui no clube, mas tudo tem hora de começar e encerrar", resumiu Sérgio Papellin.

Números de Vojvoda no Fortaleza:

  • 310 jogos
  • 145 vitórias
  • 73 empates
  • 92 derrotas
  • 488 gols marcados
  • 338 gols sofridos
  • 508 pontos conquistados
  • 3 títulos do Campeonato Cearense (2021, 2022 e 2023)
  • 2 títulos da Copa do Nordeste (2022 e 2024)
  • 1 vice-campeonato da Copa Sul-Americana (2023)
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