Os 71 dias na Capital já deixaram o paulista Matheus Pereira da Silva um pouco cearense. De bermuda e chinelo, em tom de brincadeira, o meio-campista diz que ainda não tirou uma calça da mala e que é preferível usar sandália a tênis. O jogador do Fortaleza faz referência ao forte calor, que castigou ele, a esposa Victória e os filhos Sophia e Nico nos primeiros dias, mas que agora já faz parte da rotina depois de uma rápida adaptação.
O quarteto deixou a pequena cidade espanhola de Eibar, com menos de 30 mil habitantes, no fim de maio para morar em Fortaleza. O destino já estava selado desde janeiro, quando o volante assinou pré-contrato com o Tricolor, depois de longa passagem pela Europa. O desejo era retornar ao Brasil em um momento de mais maturidade.
"A negociação foi bem rápida, porque eu sei o tamanho do clube, sei a história que o clube está fazendo, o que está construindo, onde o clube quer chegar", explicou o camisa 5 do Leão, em entrevista exclusiva ao Esportes O POVO, na sala de troféus do Centro de Excelência Alcides Santos. Antes de desembarcar em Fortaleza, o fuso horário era um empecilho para assistir aos jogos do futuro clube, mas Matheus acompanhava as notícias.
A exemplo do ocorreu na cidade, a adaptação ao Tricolor também foi rápida. O meio-campista estreou em 9 de julho, ainda sob o comando de Juan Pablo Vojvoda, e já balançou as redes diante do Bahia. Deu assistências contra RB Bragantino-SP e Corinthians-SP. Em seis jogos, portanto, foram três participações diretas em gol, além de agregar qualidade técnica e maior criatividade ao setor central do time agora orientado por Renato Paiva.
"Desde o primeiro dia que eu cheguei no clube, as pessoas, como me receberam, foi fantástico", elogiou o camisa 5, citando o "paizão" David Luiz e o atacante Deyverson. "Só procurei entrar em campo, fazer o meu melhor, também poder ajudar eles e o clube", explicou.
O momento do clube, porém, não é bom. O Fortaleza está na zona de rebaixamento do Brasileirão, o que culminou na mudança de comissão técnica, no mês passado. Matheus Pereira classificou Vojvoda como "excelente pessoa" e "grande treinador", mas ponderou o pouco tempo de trabalho juntos. O objetivo é recuperar a confiança do elenco sob a batuta de Paiva, que também ganhou elogios.
"Ele (Renato Paiva) está dando bastante confiança para a gente. As atuações já mostram por si, os resultados, alguns jogos não estão sendo o esperado, mas as atuações, a entrega do time, já está tendo uma mudança muito grande. E eu acho que são detalhes que a gente tem que ajustar", analisou o volante.
Cria do Corinthians, Matheus surgiu como meia de criação, cercado de grande expectativa — inclusive com convocações para seleções de base. Foi vendido para a Juventus, da Itália, onde jogou com Cristiano Ronaldo, mas também rodou por outras equipes. Em passagem pelo Barcelona B, chegou a treinar com Lionel Messi, mas foi em outro clube espanhol que deslanchou: o Eibar.
Fã de Zidane, Sergio Busquets e Toni Kroos, o camisa 5 do Leão foi recuando no meio-campo e se firmou como volante, função em que pode usar os passes em profundidade e os lançamentos para romper a marcação adversária. Tem funcionado no Tricolor, em parceria com Lucas Sasha, que se destaca pela recuperação de bolas.
"A gente tem uma amizade muito boa, isso facilita também. A característica do Sasha e a minha com ele, acho que a gente se completa", opinou.
Com imagens em mente da torcida do Fortaleza no Castelão em noites de Copa, Matheus Pereira evita antecipar o pensamento para o jogo contra o Vélez Sarsfield, da Argentina, na próxima terça-feira, 12, pelas oitavas de final da Libertadores, e mantém o foco na Série A, com confiança de uma reação contra o rebaixamento.
"Não deveríamos estar nessa situação. Sabemos também da cobrança, nos cobramos internamente. Com o apoio da torcida, a gente vai conseguir dar esse salto pra cima", projetou.
Matheus Pereira elogia Helton Leite, novo goleiro do Fortaleza
Reforço do Fortaleza, o goleiro Helton Leite já realizou o primeiro treino na manhã desta quinta-feira, 7. O arqueiro estava no Deportivo La Coruña, da Espanha, e fez o mesmo trajeto de Matheus Pereira, que deixou o país europeu para desembarcar no Pici. Os dois, inclusive, foram rivais, e o meio-campista elogiou o novo companheiro em entrevista exclusiva ao Esportes O POVO.
Na última temporada europeia, Helton disputou 37 jogos pelo clube espanhol, sendo titular na Segunda Divisão nacional. Matheus, que defendia o Eibar, encarou o goleiro em fevereiro deste ano, e o La Coruña levou a melhor, por 1 a 0. No Velho Continente, o mineiro de 34 anos também vestiu as camisas de Boavista e Benfica, ambos de Portugal, e Antalyaspor, da Turquia.
"O Helton (Leite) é um goleiro fantástico. Pude acompanhar, joguei contra ele, inclusive, em um Eibar x Deportivo La Coruña. Contra mim fechou o gol, né? (risos) A gente até brincou no vestiário, agora que a gente se viu: 'Até que enfim vamos estar juntos, né?'. É um goleiro excelente, que fez uma grande temporada no Depor, tem também uma história muito bonita lá fora, e poder ter um goleiro desse nível agora aqui no clube...", disse o volante, citando os outros nomes do elenco para a posição.
"Mas também a gente tem o João Ricardo, Brenno, Magrão, Vinícius (Silvestre) também, que chegou e mostrou ser um excelente goleiro. Bom, acho que vai ser uma dor de cabeça para o treinador agora, escalar um goleiro, mas aquela dor de cabeça que todo treinador quer ter", emendou.
João Ricardo e Brenno se lesionaram no Clássico-Rei do dia 13 de julho e estão em período de recuperação. O Tricolor contratou Vinicius Silvestre, que estava no Portimonense, de Portugal, mas achou necessário buscar outra peça para o setor e pagou 300 mil euros (R$ 1,9 milhão na cotação atual) para tirar Helton Leite da Espanha.
Apesar do confronto no futebol espanhol, Matheus Pereira e Helton Leite ainda não tinham contato, o que ocorreu nesta quinta, quando o goleiro começou os trabalhos no novo clube. O camisa 5 relatou como foi o primeiro papo e se colocou à disposição para ajudar na adaptação do companheiro recém-chegado da Europa.
"A gente trocou ideia no vestiário, não conhecia o Helton pessoalmente, mas o pouco que a gente falou ali, é uma pessoa superboa. Então, eu já falei também que se ele precisar de ajuda aqui, é só falar, que eu me sinto em casa e espero que ele se adapte também o mais rápido possível", finalizou.