Você está definhando? A pergunta parece um pouco estranha, mas definhar é a tradução direta do inglês "languishing". O termo define uma sensação específica, que fica entre a motivação ordinária o estado depressivo. É, em suma, uma apatia, uma desmotivação desacerbada. É... languishing.
O termo é recente, sendo cunhado já em 2002 pelo psicólogo norte-americano Corey Keyes. Foi ele quem traçou os paralelos para o estado de definhamento. A expressão ganhou força no contexto atual de pandemia, quando muita gente começou a se sentir assim: meio "blé".
Com a rotina de repetições e poucas variações, contrastada pelas janelas de redes sociais e as lembranças de tempos mais livres, os sintomas foram se avolumando. Acordar e levantar da cama passou a ser mais difícil, a concentração no trabalho foi se esvaindo e a sensação de vazio tomou conta de parte das pessoas. Parte do perigo é não notar o torpor do prazer ou a redução da motivação.
Em texto para o jornal New York Times, o psicólogo Adam Grant descreveu o languishing e apontou a importância da palavra: "Quando damos um nome para o que sentimos, é mais fácil reconhecer a emoção e buscar ajuda".
O que causa o languishing e como curá-lo ainda precisa ser mais bem estudado. O que está mais fácil hoje é reconhecê-lo. Com a informação, fica mais fácil de combater esse inimigo silencioso. Até porque é importante saber que quem está definhando hoje está mais propenso a desenvolver doenças mentais amanhã, como transtorno de ansiedade e depressão. Quadros graves e incapacitantes.
A pandemia impulsiona o definhamento por várias razões. Quebrou a rotina antiga para impôr uma mais limitada, enquanto nos colocou em situação de perigo. Assim, nesse período, os casos de depressão e ansiedade aumentaram, bem como os de insônia. E, como a situação se estende, quem ainda não chegou a ponto de se sentir definhando, pode logo chegar lá. Por isso, é importante se informar.
De acordo com o psicólogo Adam Grant, focar em atividades prazerosas e reconhecer pequenas vitórias pode ajudar a driblar um estado de languishing. Terminou um quebra-cabeças? Parabéns! Concluiu uma atividade no trabalho? Arrasou! Fez um almoço diferente? Oba! Tudo pode ser motivo de celebração, por menor que isso soe.
Outra estratégica citada pelo psicólogo é o Flow, um estado de hiperconcentração. O assunto já rendeu um Ciência&Saúde, do O POVO, em novembro. "Estar em flow", ou seja, estar em fluxo, é um estado mental descrito pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihaly. Trata-se daquele momento em que a pessoa se sente totalmente absorvida em uma sensação de energia, prazer e foco total no que está fazendo.
Tal estado mental ajuda porque as pessoas mais imersas em seus projetos parecem ter conseguido evitar o definhamento. Por isso, não espere chegar no fundo do poço: se reconhecer esse vazio, procure ajuda e cuide bem de você!
There’s a Name for the Blah You’re Feeling: It’s Called Languishing - The New York Times
The Mental Health Continuum: From Languishing to Flourishing in Life - Corey Keyes
Change in Level of Positive Mental Health as a Predictor of Future Risk of Mental Illness - Corey Keyes et al.