Ao ouvir sobre espécies que correm risco de extinção, é comum que se pense em animais ou plantas cuja população já é conhecida há tempos, mas vem diminuindo. Uma borboleta recém-descoberta em Minas Gerais, no entanto, mostra que o perigo existe também para seres que só foram encontrados recentemente.
A Agojie rupicola foi observada por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), durante estudo em uma área no Leste de Minas Gerais. A região, conhecida por "campos rupestres", é parte da Mata Atlântica - ecossistema brasileiro do qual restam apenas 12,4% da vegetação original.
Além de pertencer a uma nova espécie, a A. rupicola também ganhou seu próprio gênero (organização taxonômica que reúne espécies distintas, mas similares entre si), Agojie. O nome foi dado em homenagem a um regimento de guerreiras do antigo reino de Daomé, hoje parte do Benim, na África. Por sua vez, rupicola faz referência à região onde a borboleta foi encontrada.
Para determinar que a borboleta está ameaçada, os cientistas usaram os critérios definidos pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), órgão responsável por catalogar espécies sob risco de desaparecerem. A classificação proposta pelos pesquisadores é "em perigo", segunda mais grave entre os cinco graus antes de um organismo ser considerado extinto.
Este nível pode ser definido por cinco tipos de análise, um dos quais não demanda que se tenha uma estimativa da população total da espécie, sendo usado para organismos recém-descobertos. Para cumprir o critério, é preciso que o risco de desaparecimento seja maior ou igual a 20% em 20 anos ou cinco gerações.
No caso da A. rupicola, o argumento é que o habitat da borboleta está sendo destruído em ritmo acelerado. Segundo os cientistas, as maiores ameaças são desmatamento, queimadas e invasão do ambiente por espécies não-nativas. O risco é maior por se tratar de uma espécie endêmica - que só existe naquela região.
Para ampliar as chances de sobrevivência da espécie, os cientistas propuseram duas medidas. Uma delas é a adoção de um nome popular para a A. rupicola. A ideia é levar o conhecimento sobre a agora chamada "borboleta-guerreira-das-pedras" à população da área, ressaltando a importância de conservá-la.
A segunda ideia é criar uma Unidade de Conservação (UC) nos campos rupestres de Minas Gerais. Os pesquisadores estão elaborando, junto aos órgãos de proteção ambiental, ao poder público e à comunidade da região, uma proposta para tornar a área protegida por lei, evitando que a destruição do habitat da A. rupicola - e de diversas outras espécies - siga avançando.