Quando falamos em museu, pode nos vir à mente uma programação diurna, com crianças ou não, a depender do tipo de exposição. Ainda mais se for um equipamento de ciências, onde nossas memórias da infância são afloradas. Mas o Sesi Lab, localizado em Brasília, estreou no País um conceito de noite no museu para nós, os adultos.
Diferente daquele filme protagonizado por Ben Stiller ("Night at The Museum", 2006), o Night Lab passa longe de qualquer maldição egípcia. Uma programação voltada ao público maduro neste mês de setembro teve sessão de observação do céu com telescópios, apresentação musical, oficinas criativas e a chamada conversa poética com o astrofísico Alan Alves Brito. Sem falar nos estandes de comida e bebida (alcoólica para os maiores de 18 anos!), um outro atrativo para a socialização deste público.
De onde vem o conceito? A ideia de abrir à noite é inspirada no programa "after dark" do Exploratorium, museu de ciência e tecnologia de São Francisco, na Califórnia. Gerente de programação cultural do Sesi Lab, Agnes Mileris explica que foram feitas adaptações e, sempre na primeira quinta-feira do mês, o Night Lab tem uma edição com tema novo para dialogar com esse público, até então, não usual.
"Tem um exemplo bem emblemático, em junho, que foi a 'química do amor', trouxemos uma neurocientista para falar sobre as reações químicas de quando a gente está apaixonado. Os principais [visitantes do Sesi Lab] são adultos com crianças, mas com esse programa a gente consegue trazer um outro tipo, pessoas que não têm filhos", exemplifica.
Museu localizado às margens da baía de São Francisco, na Califórnia, o Exploratorium conta com mais de 600 exposições interativas. Quem teve a ideia pioneira de abordar a ciência nesse espaço lúdico foi o físico estadunidense Frank Friedman Oppenheimer. Quando era professor na Universidade Johns Hopkins, ele criou um espaço de experimentos para os estudantes explorarem os fenômenos científicos — foi dessa "biblioteca" que nasceu o modelo do Exploratium, inaugurado em 1969.
Hoje, artistas e cientistas concebem novas ideias para modernizar o projeto de "explore por si mesmo", com ajuste e criação constante das obras. No anúncio do After Dark Thursday Nights, o museu avisa: "Crianças não são permitidas, mas você ainda pode agir como uma". É um convite para incitar a criatividade do público e possibilitar novas conexões entre as pessoas.
Inaugurado em 30 de novembro de 2022, o museu Sesi Lab foi construído no prédio que sediou o Touring Club de Brasília na década de 1960. Perto da rodoviária, a construção de Oscar Niemeyer é tombada e conta com dois pavimentos abertos para visitação do público. O investimento para restauro e inauguração do museu foi de R$ 160 milhões.
Criado em parceria com o Exploratorium, o acervo do museu Sesi Lab consiste em peças interativas sobre tecnologia, meio ambiente e fenômenos sociais. Um banco musical, câmera de calor do corpo humano, quadro de texturas, painel de luzes, tela de vidro com microorganismos e dezenas de equipamentos que mostram, na prática, conceitos científicos.
Alguns aparatos podem ser levados a outros estados no futuro, e a primeira parada do Lab Itinerante será no próximo mês de novembro, em Santa Catarina. "Vamos participar de um torneio de robótica e começar a rodar o Brasil", frisa Agnes Mileris. Atualmente, o museu também abriga a sua primeira exposição temporária, "Trabalhadores", de Sebastião Salgado, com 150 fotografias.
Segundo Agnes Mileris, pesquisas aprofundadas devem ser feitas ainda para avaliar os impactos no aprendizado da interação dos alunos com as obras do Sesi Lab. "A gente sabe que existem várias pesquisas que apontam como esse repertório científico e cultural é fundamental para o processo educativo como um todo [...] A gente entende que a curiosidade é o que faz a gente construir conhecimento, querer aprender."
O tema da última edição do Night Lab foi “Cosmologias – tentativas de entender o Universo”. O cantor pernambucano Lirinha apresentou seu novo álbum MÊIKE RÁS FÂN: “É sobre uma rádio cósmica, uma rádio interplanetária, que não existe exatamente na realidade, mas faz parte de uma das estéticas que eu desenvolvo neste trabalho, a estética da invenção, junto com a estética do sonho, muito influenciado por alguns escritos de Glauber Rocha".
*A repórter viajou a Brasília a convite do Sesi Lab