No meu primeiro emprego, trabalhei como professora de jardim da infância numa escola de freiras josefinas, em Messejana. Fiz alguns treinamentos para dar aulas para crianças de 4 anos e um curso de psicomotricidade voltado para esse público.
Foi sentada no chão com um monte de menino ao meu redor, ou brincando com eles no pátio, ou ensinando tarefas para uns enquanto outros se agarravam à minha cintura que eu decidi ser mãe.
Uma criança de 4 anos é um ser humano em franca construção, se comunica perfeitamente bem, mas é uma fragilidade gritante. Parece que todos os medos que as crianças não demostram ter por volta dos 3 anos, aos 4, chegam todos juntos. Não fazem ideia do abstrato. No que diz respeito às sensações, alguns sequer sabem verbalizar sem ajuda de um adulto.
Imaginar qualquer violência contra uma criança de 4 anos é algo que me foge completamente a possibilidade de compreensão. Enquanto leio as informações sobre o possível assassinato de Henry Borel, fico com um nó na garganta.
Lembro-me do meu filho que, aos 4 anos, resistia ficar no quarto sozinho para dormir. Depois de algumas tentativas frustradas, troquei a lâmpada do quarto para uma de cor azul e disse que ele teria um céu só dele. Um dia, enquanto eu lia pro meu filho, ele perguntou: "mãe, por que no meu céu não tem estrelas?" É que está nublado, filho. Fechou os olhos e dormiu. Era só um menino de 4 anos.
Que haja um Céu só para o Henry.