HOMOSSEXUALIDADE Com candidatos acostumados a fazer da mentira tática de sucesso e sobrevivência na política, a corajosa atitude do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) de se revelar homossexual merece aplausos. Em um meio tão conservador e em tempos de retrocessos na luta pelos direitos da população LGBTQIA , esse outing ganha ares históricos pelo ineditismo - o tucano é o 1º presidenciável do País a se declarar publicamente gay - e pelo que pode provocar a partir de agora.
Como esperado, as reações foram variadas, desde a ironia do presidente Jair Bolsonaro, passando pelos elogios de diversas figuras públicas, até as críticas de parte da esquerda que tenta monopolizar o debate sobre gênero e sexualidade, relativizando a postura do governador e até reduzindo tudo a uma estratégia de marketing.
Chegou-se ao ponto de comparar a saída do armário de Leite ao vanguardismo de outros personagens que deram até a vida para que tivéssemos algumas conquistas, numa hierarquia de dores que não faz sentido algum. Justamente porque são incomparáveis. E o próprio governador fez questão de ressaltar isso na entrevista a Pedro Bial. Ele não estava ali reivindicando um lugar de fala no ativismo gay, mas tirando um peso das costas que o atormentava há anos. Fala-se tanto em empatia, mas quando o outro é adversário político, isso parece cair do limbo.
Nunca foi tão necessário pedir para o militante descansar um pouco e ter um olhar mais humano sobre quem age assim. Holofotes em busca de "pink votes"? Será mesmo? Porque se formos colocar na balança, é claro que Eduardo Leite sai perdendo nessa contagem. Estamos no Brasil, não se esqueçam. "Ah, mas ele votou no Bolsonaro, que é homofóbico". Foi o único? Quantas pessoas corretas que conhecemos não fizeram o mesmo? Vamos chamar todos de fascistas e jogá-los para o lado de lá?.
Eduardo Leite quebrou uma barreira cujo significado vai muito além da disputa pela cadeira de presidente. É sobre subir alguns degraus na civilidade.