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O primeiro discurso oficial de Adolfo Sachsida como novo ministro de Minas e Energia escancara o principal interesse do Governo Federal para este ano: interferir diretamente na Petrobras por interesses eleitorais. Como a política de paridade de preços dos combustíveis entre o mercado brasileiro e o exterior ficou impossível de ser defendida abertamente pelo presidente Jair Bolsonaro, apesar de a manutenção dela ser motivo de garantia de apoio a ele na reeleição por parte do setor produtivo, a alternativa encontrada foi defender a privatização da companhia.
Com a Petrobras fora do controle do Governo, as críticas de Bolsonaro à política de preços seriam isentas da contradição e da cobrança de uma mudança da regra pelo principal acionista da companhia, como acontece atualmente. Mas, a exemplo de outras bravatas do presidente, a fala de Sachisida não passa de falatório vazio e sequer encontra apoio para ser feita em um ano eleitoral.
O rito para chegar ao leilão é bastante complexo e impossível de ser feito antes do início da campanha das eleições 2022. A primeira etapa é a mais fácil. Um estudo precisa ser elaborado pelo Programa de Parcerias de Investimento (PPI), uma secretaria sob o controle do ministro Paulo Guedes (Economia) - ex-chefe de Sachsida e interessado na privatização.
Mas, com o aval do PPI, é preciso ainda que a desestatização seja discutida pelo Congresso. Deputados e senadores precisam aprovar a lei de privatização para que a Petrobras, após uma canetada de Bolsonaro, seja incluída no Plano Nacional de Desestatização e o BNDES defina o modelo de venda.
Além de Bolsonaro e do Centrão fica difícil encontrar quem apoie a perda de uma empresa cujo lucro supera os R$ 100 bilhões. Na prática, a ida de um dos discípulos de Guedes para Minas e Energia prejudica áreas estratégicas para o País, como as eólicas offshore e o hidrogênio verde, que ainda aguardam celeridade na formulação dos marcos regulatórios.