Despedida Uma pessoa é feita por tantas nuances que às vezes é até difícil tentar descrever como a gente compreende algumas delas. O fato é que a minha geração cresceu e está envelhecendo ouvindo Gal Costa. Lembro-me de, ainda menina, vê-la na TV, achá-la linda, mas só quando fiquei mais velha é que entendi o que, exatamente, era lindo pra mim. E ao longo do tempo a beleza de Gal foi apurando tal qual suas belas canções que hoje parecem ainda mais bonitas.
Sempre amei o cabelo dela. Nunca consegui imaginar, nem por um momento, Gal Costa sem aquele volumão de cabelo que se fez uma marca. Quando cabelo estava longe de ser identidade, o dela já era. A voz da cantora me chamava atenção, mesmo na infância, quando não sabia, nem em longe, identificar os agudos e os tons exigidos de algumas das músicas que cantava.
Aliás, a vi cantando pela última vez há um tempo num show ao ar livre, em Paraty, na abertura de uma Flip. Impossível esquecer a delicadeza da voz que parecia bater na serra e se espraiar mar adentro. Quando soube da morte da cantora, lembrei-me da beleza desse show em particular.
Por fim, sempre admirei a discrição da Gal Costa. A vida da cantora nunca foi fast food de rede social e passou ao largo das revistas de fofocas. O que se sabia era dito por ela mesma, como quando adotou um menino aos 60 anos e de como a maternidade a havia transformado. Mesmo na morte, a discrição se fez. A causa da morte ainda é segredo e torço para que continue assim.